Chuva, lixo e erosão no terceiro dia de exploração do São Francisco

15/07/2013 - 9:59

“O rio está morrendo”. Foi com essa triste constatação, feita ontem (12.07) pela dona de casa Genelita Medeiros, que a expedição deixou Gararu, em Sergipe, em direção a Pão de Açúcar, no estado de Alagoas. Antes da partida, o pescador Ivanildo Alves de Melo demonstrou preocupação com o local que garante seu sustento. “O rio São Francisco está muito seco. Há oito anos aqui tinha cheia, e hoje em dia está quase sumindo. Muito disso por causa das barragens”, afirmou.
Como previsto, o sociólogo Sérgio Silva, do Acqua, deixou o grupo. Por outro lado, Antenor Aguiar, engenheiro agrônomo da Universidade Federal da Sergipe (UFS), juntou-se aos membros da expedição. O tempo nublado foi o companheiro dos oito exploradores, que ocupavam as lanchas Nêgo D´Água e Água Nova.
No caminho, foram encontradas plantas anfíbias, que, de acordo com Carlos Eduardo Ribeiro Júnior, da ONG Canoa da Tolda e coordenador da CCR do Baixo São Francisco, “são estranhas ao ecossistema e próprias de ambientes de regime de maré. A degradação está cada vez mais acelerada”, lamentou. Na várzea, plantações de milho contribuíam com o processo de erosão e reforçavam a fala de Carlos Eduardo.
Apesar da chuva que caiu em alguns trechos, a seca no rio era evidente. Com receio de que a embarcação batesse no enorme banco de areia no meio do rio, Carlos Eduardo teve que sair da embarcação e puxá-la por alguns metros. Para rebocar o barco, ele ficou em pé, em pleno São Francisco, com água na altura do joelho.
Na localidade de Genipatuba, pessoas tomavam banho no rio. Nessa parte sertaneja do Velho Chico, mandacarus se abriram em flores vermelhas, fazendo um belo contraste com a cor predominantemente cinzenta da paisagem chuvosa. Em Sacos Medeiros, município de Traipu, o grupo avistou assentamentos do Movimento dos Sem Terra (MST), que estavam desativados. No mesmo local, onde costumava ter água corrente, via-se água parada e espuma. O resíduo, de acordo com os estudiosos, era matéria orgânica gerada, provavelmente, pela poluição e dejetos do gado que pasta à beira daquela região do São Francisco
Por conta do nível baixo da água, o grupo que estava na lancha Nêgo D´Água levou um grande susto. A embarcação bateu em um cascalho de extensão considerável. Só restou ao comandante desviar a rota, mesma solução que as balsas que fazem a travessia de um lado ao outro do rio encontraram para não encalhar. Algas também prenderam, diversas vezes, na hélice do motor, forçando o barco a parar.
Antes de chegar ao destino final nesse penúltimo dia de estudo exploratório, os navegadores avistaram, ainda, a Ilha do Ouro, na foz do rio Ipanema, Belo Monte e Belenzinho. Na chegada de Pão de Açúcar, muito lixo, esgoto e animais domésticos na beira do rio deixavam mais clara a sensação de abandono ao qual o Velho Chico parece estar destinado.
ASCOM – Assessoria de Comunicação do CBHSF