Incentivo à educação ambiental, proteção ao Velho Chico, valorização dos povos tradicionais e da cultura foram as formas de abordagem realizadas dentro da décima edição da campanha Eu Viro Carranca para Defender o Velho Chico, em Floresta, Pernambuco.
As atividades, que contaram com a presença das crianças da rede pública de ensino, professores, sociedade em geral, além de lideranças comunitárias e políticas, aconteceram no último 03 de junho, Dia Nacional em Defesa do Rio São Francisco, dentro das ações da décima edição da campanha Eu Viro Carranca para Defender o Velho Chico. Já no dia 02 de junho, as crianças foram as grandes protagonistas da luta contra os danos ao rio da integração nacional. Pela manhã elas participaram do peixamento e plantio de árvores nativas na comunidade ribeirinha de Plataforma. Lá, elas também receberam a medalha Guardiões do Velho Chico e assumiram o compromisso em defender e preservar nossas águas.
“Falo com a esperança de que juntos possamos entregar um rio bem melhor do que o que foi entregue a nós, para nossos filhos, netos e futuras gerações. Essa é uma oportunidade única de unir diversos setores em torno da defesa do nosso rio São Francisco e aqui em Pernambuco, consequentemente, clamar pela defesa da maior bacia hidrográfica do estado de Pernambuco, o rio Pajeú. Esse ano a campanha acontece em Floresta, pela primeira vez em um município fora da calha, dando voz às muitas histórias, pelejas, sonhos e fé que o São Francisco impacta. É daqui que saem as águas de importantes obras hídricas nacionais como a transposição do rio São Francisco, eixo leste, que abastece o estado do sertão ao agreste, além de parte do estado da Paraíba, e a adutora do Pajeú que contempla 32 municípios em Pernambuco e na Paraíba. Mas é lamentável que a gente trate com tanto descaso e falta de cuidado quem tanta vida nos dá. A gente não pode assistir passivamente à degradação e a poluição dos nossos rios que ameaçam o meio ambiente e a população que depende deles. Precisamos lembrar que o rio São Francisco, além de um fundamental recurso natural, é também fonte de história e cultura, patrimônio nacional que deve ser protegido e valorizado. Ele é a essência do que a gente é enquanto povo e enquanto país, e tenho certeza que essa é uma causa nobre pela qual vale a pena lutar”, afirmou a vice-prefeita de Floresta, Bia Numeriano.
03 de junho
Já no dia 03, data em que todas as regiões fisiográficas se unem em um grande movimento nacional, a manhã começou com a recepção e café da manhã para as comunidades tradicionais com representantes dos vaqueiros, indígenas, quilombolas, entre outros. Logo após a chegada da comitiva dos povos do São Francisco, os vaqueiros saíram em desfile pelas ruas da cidade até o Ginásio Erem Capitão Nestor Valgueiro de Carvalho, onde se reuniram os povos tradicionais, comitês afluentes, sociedade em geral, estudantes, professores, e representantes do poder público e judiciário.
Com manifestações culturais dos povos do Velho Chico, poesias do Pajeú recitadas por seus artistas, toadas e aboios dos vaqueiros, coco da comunidade quilombola Raízes, Confraria do Rosário e o ritual do Toré, com o povo indígena Pipipã, a população ouviu o apelo emocionado dos povos tradicionais, tema da campanha deste ano, pela preservação do Rio São Francisco.
A cacique Cícera Pankará lembrou que são os povos tradicionais que têm lutado desde sempre pela preservação do meio ambiente. “São os povos que têm lutado durante séculos para garantir nossas fontes de água que é vida e sabemos que sem água a gente não sobrevive. É delas que tiramos o sustento. É das águas e nas águas que vivemos nossos momentos de tradição, cultura e espiritualidade. Para nós, povos indígenas, água não é apenas para beber, ela significa o nosso sangue e cada lixo, agrotóxico que é despejado no rio é também contaminação do nosso sangue. Por isso é preciso aproveitar esse momento para além do 03 de junho e fazer com que todos entendam o que significam as águas para quem vive delas. O rio pede socorro e não é de agora, assim como todas as comunidades tradicionais – quilombolas, indígenas, ribeirinhos, tem pedido socorro para ajudar a preservar nosso rio, porque sabemos que sem ele não vamos conseguir sobreviver”, afirmou a Cacique, lembrando da luta contra a PEC 490, projeto que muda a demarcação de terras indígenas. “Isso é uma vergonha, o que querem fazer novamente nos tirando de nossas terras. Eles não entendem que se abandonarmos nossas terras, onde ainda preservamos as matas, cuidamos das matas ciliares, se não forem os povos que ocupam e preservam as margens do rio, não sei quantos anos mais teremos vida nessa terra”, completou.
A promotora de justiça do Ministério Público da Bahia, Luciana Khoury, falou da importância do tema da campanha. “A campanha deste ano nos toca profundamente quando reforça que não existe povo sem rio e não existe rio sem povo. Não tem como proteger o nosso Velho Chico sem valorizar os nossos povos: vaqueiros, indígenas, pescadores, quilombolas, fundo e fecho de pasto. O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco me emocionou este ano porque nossos povos precisam de voz, de espaço, de participação, porque todos os impactos que acontecem na bacia, seja o agrotóxico ou o esgoto, vai impactar muito mais os povos tradicionais. Eles têm direito aos seus territórios e o país não conseguiu ainda dar a visibilidade que eles precisam e nem a garantia dos seus territórios. Importante dizer que sem os povos tradicionais não teríamos nada preservado, então garantir o direito ao seu território é também garantir as nossas gentes cuidadas e a proteção do Velho Chico”.
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Para Adriana Santos, da Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras de Pernambuco (Fetape) e da Marcha das Margaridas, o ribeirinho precisa entender com muita clareza a importância da preservação. “A gente que nasceu nas margens do Pajeú e pescava em água limpa, pode dizer a importância dessa e de tantas outras gerações futuras em ter o direito à água. É preciso darmos as mãos e de fato agirmos na prática porque o rio existe sem a gente, mas nós não. E é por nossas mãos que ele está indo embora e toda a vida que com ele é trazida. Por isso, reforço o nosso lugar, enquanto mulheres, dentro dessa construção, porque somos as primeiras que sentimos quando a água falta na nossa casa, somos as primeiras a entender que precisamos guardar e preservar as nossas águas. Que todos nós, juntos, possamos ser sempre essa carranca em defesa da vida”, afirmou.
O coordenador da Câmara Consultiva Regional do Submédio São Francisco, Cláudio Ademar concluiu que para atingir o objetivo da revitalização é preciso unir forças. “Há uma urgência que é minha meta: buscar parcerias, porque sozinhos não podemos conseguir ações de revitalização geral do Rio São Francisco. Por isso, todos juntos, devemos construir um programa de revitalização onde cada um faça sua parte para que assim ele aconteça de fato”.
A campanha em Floresta ainda teve exposições educativas, visitas das escolas, exposição fotográfica Velho Chico: Gentes, Tradições, Vidas, exposição de peixes nativos do Rio São Francisco e distribuição de mudas de árvores nativas. O dia também foi marcado pela presença dos membros da Câmara Consultiva Regional do Submédio São Francisco, que lidam rotineiramente de forma voluntária com os problemas e desafios da Bacia Hidrográfica, dos deputados estaduais Kaio Maniçoba, José Patriota Filho, do deputado federal e vice-presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Gestão e Revitalização do Rio São Francisco, Pedro Campos, do Secretário Estadual de Desenvolvimento Agrário, Aloísio Ferraz, do Secretário Estadual de Recursos Hídricos e Saneamento de Pernambuco, Almir Cirilo, além do Diretor de Combate à Desertificação do Ministério do Meio Ambiente, Alexandre Pires, do Ministro da Pesca, André de Paula e os Ministérios Públicos da Bahia e de Pernambuco.
Assessoria de Comunicação do CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
Texto: Juciana Cavalcante
Foto: Emerson Leite