Movimentos contra a instalação da UHE Formoso realizam barqueata na comemoração dos 519 do Rio.
Barqueata, mobilização social, orações, canções e gritos de protestos marcaram a comemoração dos 519 anos do Rio São Francisco. No dia 04 de outubro de 2020, data em que se celebra o aniversário do Velho Chico, movimentos populares contrários à construção da Usina Hidrelétrica Formoso reuniram-se em um protesto pacífico e apolítico, nas margens do rio, na cabeceira do Córrego Formoso, afluente do Velho Chico, entre as cidades de Pirapora/MG e Buritizeiro/MG.
Unindo forças contra a construção da UHE Formoso, o Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais, Expedição Científica Amigos das Águas e Amigos do Velho Chico, Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Comissão Pastoral da Terra (CPT) e do Coletivo Velho Chico Vive, mobilizaram-se articulando ações que possam impedir o empreendimento, que para muitos será danoso para o rio.
As embarcações saíram do Porto dos Amigos, em Pirapora, em direção ao local escolhido para a construção da barragem. Segundo o produtor musical, barranqueiro e membro do Velho Chico Vivo, Pedro Melo, conhecido como Surubim, o evento encerra uma semana dedicada ao Rio São Francisco. “Começamos com o seminário promovido pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), depois tivemos outras ações, até chegar aqui nas margens do Velho Chico. Tudo isso com o intuito de mostrar como a instalação da UHE prejudicará todo o ecossistema da região, causando mortandade de peixes e a falência das comunidades e famílias que vivem da pesca e da agricultura de subsistência. Enfim, todos os estudos apontam que o projeto da barragem não é sustentável”, observou Surubim.
Veja as fotos da barqueata:
O desaparecimento de algumas espécies de peixe e os impactos que podem acontecer na biodiversidade, caso a construção aconteça na bacia do Rio São Francisco, também é uma preocupação do CBHSF, que esteve presente no evento representado por Adelson Toledo de Almeida, da Associação dos Municípios da Bacia do Médio São Francisco – AMMESF. “Estudos apontam, e isso já foi comprovado através de expedições científicas, que este trecho entre Três Marias e Pirapora, é de suma importância para a reprodução de várias espécies. O rio já sofre com a falta de peixe, agora estamos caminhando para a extinção deles. Fora os outros impactos diretos na flora e na vida de várias comunidades”, pontuou Adelson, que é conselheiro do Comitê.
Para a presidente da Colônia de Pescadores Z34, em Várzea da Palma (MG), Vilma Martins Veloso, a construção de uma nova barragem na região já é, por si só, um absurdo. “Temos na região uma das maiores usinas fotovoltaicas e outras sendo construídas, portanto, somos referência em energia solar. Empreendimentos que degradam o rio, a natureza e acabam com a renda de muitas famílias, não podem sair do papel, ou seja, não podem nem ser cogitadas”, ressaltou Vilma, uma das várias mulheres presentes no evento.
De acordo com o fluviário Reginaldo de Miranda, o Dedinho, que navega pelo Rio São Francisco há mais de 40 anos, existem várias perguntas sem respostas. “Minha indagação começa pelo fato da região ser a maior produtora de energia solar, portanto, essa barragem beneficiará a quem? Pelo que foi divulgado a geração de energia é pequena, então atenderá apenas um grupo pequeno. É sabido que não será pra controlar o rio. Então, ajudará o rio como? Precisamos de respostas. Ou vamos destruir o rio para privilegiar poucos? Como fica a navegação, o turismo, a ictiofauna, os ribeirinhos e o Cerrado ali existentes? São diversas pessoas e setores atingidos de um jeito que será irreversível”, salientou Dedinho.
Assessoria de Comunicação CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto e fotos: Tiago Rodrigues