Água tratada devolve saúde e dignidade à Aldeia Kariri-Xocó

16/06/2025 - 16:59

Entregue no início de 2023, o sistema de abastecimento de água da comunidade indígena Kariri-Xocó está promovendo uma mudança significativa na saúde da população. De acordo com relatórios da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) / Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) – AL/SE, todas as análises dos últimos meses comprovam a qualidade da água. Esse fator, associado ao intenso trabalho das equipes de saúde indígena, tem reduzido significativamente os registros de doenças de veiculação hídrica.


Sendo o maior sistema de abastecimento em comunidade indígena do país, o investimento de mais de R$ 8 milhões pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) resolveu uma demanda antiga. Durante anos, a comunidade sofria com condições precárias de acesso à água. Um relatório recente destaca que doenças de veiculação hídrica podem ocorrer devido a diversos fatores, como condições deficientes de saneamento e, em particular, ao consumo de água em quantidade insuficiente e qualidade inadequada. “Isso ocorre porque a água pode veicular substâncias químicas e agentes biológicos nocivos à saúde”, aponta o documento.

De acordo com a série histórica, o levantamento mostrou que os números de doenças se mantiveram elevados ao longo dos anos, registrando uma diminuição em 2023. “Os dados levantados indicam uma queda expressiva nos atendimentos relacionados a sintomas como diarreia aguda na Unidade Básica de Saúde Indígena da aldeia, principalmente em crianças e idosos, que são os grupos mais vulneráveis. Os relatórios indicam ainda que em 2022 foram notificados 80 casos de doenças de veiculação hídrica, sendo a diarreia a mais prevalente com 31 notificações. Já em 2023 houve uma redução significativa totalizando 55 casos e a doença predominante passou a ser micoses superficiais, demonstrando uma grande melhora na qualidade da água. Contudo, em 2024 os registros subiram para 94 casos, o que está automaticamente associado ao aumento do monitoramento epidemiológico e à ampliação das notificações realizadas pelo SESAI”, afirmou Vinícius D’Angelo de Mello França, engenheiro civil da SESAI/DSEI/ALSE, que completa ainda com dados de 2025: “No primeiro semestre de 2025 os números mostram uma queda expressiva registrando apenas 29 casos, refletindo os impactos positivos do novo sistema de abastecimento de água que passa por monitoramento sistemático e periódico para assegurar que os padrões sanitários sejam cumpridos”.

O engenheiro reforça ainda que o sistema de abastecimento de água da aldeia Kariri-Xocó representou um marco histórico e significativo para a melhoria das condições de saúde e sanitária. “O sistema trouxe dignidade e qualidade de vida à comunidade. Antes da implementação do novo sistema existia uma estrutura de abastecimento de água precária e limitada que não atendia mais ao crescimento populacional da aldeia e, por isso, os moradores dependiam de fontes hídricas inseguras como água bruta do rio São Francisco, cacimbas e poços improvisados muitas vezes contaminados por resíduos orgânicos e esgoto, o que contribuía diretamente para a alta incidência de doenças de veiculação hídrica como diarreia e infecções gastrointestinais. Com a chegada do novo sistema, a aldeia passou a ter acesso contínuo à água potável, tratada e distribuída de forma segura em quantidade e qualidade suficientes”.


Confira o vídeo sobre o projeto:


O polo base Kariri-Xocó está localizado no município de Porto Real do Colégio (AL) e atualmente conta com uma população estimada em 2.650 indígenas. O coordenador da Câmara Consultiva Regional do Baixo São Francisco, Anivaldo Miranda, destaca a importância do projeto, que visou o cuidado com a população que preserva as águas, o solo e o meio ambiente. “Decidimos fazer as obras do novo sistema de abastecimento de água da comunidade Kariri-Xocó porque, no auge da estiagem prolongada de 2013 a 2019, a comunidade indígena estava bebendo água altamente deteriorada. Isso resultava das baixíssimas vazões a jusante do reservatório de Xingó e da falência do antigo sistema local. Era praticamente um caso de saúde pública, resolvido de forma adequada e estruturante com recursos da cobrança pelo uso da água bruta, administrados pelo CBHSF. Os reflexos positivos foram imediatos e, graças à robustez do projeto, terão efeito benéfico de longo prazo. Água limpa e de qualidade é prioridade para qualquer população, em termos de saúde, geração de renda, limpeza e bem-estar”, afirma Miranda.

As obras do sistema, financiadas com recursos da cobrança pelo uso da água na bacia do Rio São Francisco, garantiram uma estrutura completa com unidade de captação, redes adutoras, estação de tratamento e reservatórios. “O sistema foi desenvolvido para atender 4.200 indígenas ao longo de 20 anos. A captação ocorre no Rio São Francisco por meio de uma balsa flutuante equipada com bombas de alta capacidade. A água percorre uma adutora de 2,2 km até a estação de tratamento. Após o tratamento, é armazenada em reservatórios estratégicos, assegurando o abastecimento contínuo para a aldeia”, explica o coordenador técnico da Agência Peixe Vivo, Thiago Lana.

Satisfeito, o cacique José Cícero é incansável em agradecer o benefício que garante vida e dignidade ao seu povo. “Só tenho a agradecer ao Comitê por hoje estarmos com esse grande projeto na comunidade, tomando água de qualidade. Antes, consumíamos água onde animais se banhavam, água contaminada. Esse projeto melhorou muito a saúde em nosso território. Hoje temos saúde, temos água de qualidade para a comunidade e para nossos rituais sagrados. Estamos tomando água tratada e só tenho que agradecer a todos pelos esforços que nos ajudaram muito”.


Veja mais fotos:


Além disso, o sistema também proporciona melhorias em outras áreas como a higiene domiciliar, produção de alimentos e educação sanitária. “A escola indígena da aldeia passou a contar com água tratada para o preparo da merenda escolar e para a higiene geral dos estudantes, reduzindo o risco de surtos e promovendo um ambiente mais seguro para o aprendizado dos estudantes indígenas. A experiência da aldeia Kariri-Xocó evidencia a importância de políticas públicas voltadas ao saneamento básico em territórios indígenas. O acesso à água de qualidade, água potável de qualidade não é apenas uma questão de infraestrutura, mas é um direito fundamental ligado à gestão correta dos recursos hídricos, à saúde, dignidade e à preservação cultural dessas comunidades”, concluiu Vinícius.

Após a inauguração, o sistema de abastecimento foi entregue ao Distrito Sanitário Especial Indígena de Alagoas e Sergipe (DSEI/ALSE) / Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) / Ministério da Saúde (MS). O DSEI/ALSE/SESAI/MS opera o sistema por meio dos Agentes Indígenas de Saneamento (AISANs) e fornece os insumos necessários para o tratamento da água. Além disso, também realiza a manutenção preventiva e corretiva do sistema.


Assessoria de Comunicação do CBH Rio das Velhas:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Juciana Cavalcante
*Fotos: Edson Oliveira