Abertura oficial e palestra sobre a importância da ciência para o futuro do Rio São Francisco marcam início do III SBHSF

08/12/2020 - 14:43

A terceira edição do Simpósio da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (III SBHSF) teve início nesta segunda-feira (07 de dezembro). O evento, que tem como tema “A importância da Ciência para o futuro do Rio São Francisco”, é uma iniciativa do Fórum de Pesquisadores de Instituições de Ensino Superior da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (Fienpe) e do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF).

Participaram da abertura do III SBHSF o diretor da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), Oscar Cordeiro Netto, a secretária de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais, Marília de Carvalho Melo, o presidente do CBHSF, Anivaldo Miranda, o coordenador do Fienpe e professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) Renato Garcia Rodrigues, a coordenadora do III SBHSF e professora do departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental (Desa) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Sílvia Corrêa Oliveira e o membro da comissão de organização do III SBHSF e professor do Desa/UFMG, Eduardo Coutinho.

O coordenador do Fienpe, Renato Garcia Rodrigues, se solidarizou com as vítimas da Covid-19 e seus familiares. “Em meio à pandemia, fortalecemos a ideia de que o conhecimento científico é, sem sombra de dúvida, a ferramenta mais adequada para nortearmos as decisões e estratégias frente a essa gigantesca crise sanitária. Mas, não só em crise de saúde pública, nós do Fienpe acreditamos que o esforço coletivo científico também pode e deve auxiliar a gestão de nossos recursos naturais. As instituições que compõem o Fienpe [UNB, UFMG, UFOP, UFPE, UFRPE, UFS, UFAL, UNIVASF, UFBA e UFRB], juntamente com o CBHSF se unem para apresentar e articular propostas para os desafios da gestão do Velho Chico, sempre sob a luz do conhecimento científico por meio do III SBHSF”, esclareceu.

A secretária de Meio Ambiente, Marília Melo, parabenizou o CBHSF pela realização do evento. “O simpósio tem como objetivo integrar o saber acadêmico com a prática da gestão dos recursos hídricos. Assim como nas edições anteriores, as apresentações de trabalhos científicos e palestras serão uma oportunidade de pensarmos o aprimoramento da gestão das águas na bacia do Rio São Francisco que é estratégica e importante não só para Minas Gerais, como para o país”, disse.

O presidente do CBHSF, Anivaldo Miranda, finalizou a abertura falando sobre a importância da ciência para o Rio São Francisco. “A bacia do São Francisco possui um grande universo de atores que utilizam suas águas e as de seus afluentes. Para o CBHSF a participação da ciência é importantíssima para que possamos juntos com todos os atores da bacia resolver os grandes desafios da gestão das águas em um território tão grande como é o sanfranciscano. A ciência é fundamental para que possamos estudar melhor os nossos aquíferos, acompanhar os reflexos do aquecimento global na diminuição das vazões dos corpos hídricos da bacia, para desenvolvermos melhores técnicas do uso do solo entre outras questões. O CBHSF tem a missão de ser o articulador do Pacto das Águas que precisa avançar e de melhorarmos de fato todo o processo para termos segurança hídrica”, finalizou.

O futuro da Ciência para o Rio São Francisco 

José Galizia Tundisi apresentou a palestra magna do III SBHSF com o tema “A importância da Ciência para o futuro do Rio São Francisco”. Ele atua como pesquisador na cidade de São Carlos (SP) há 46 anos, é doutor em Ciência pela Universidade de São Paulo (USP), além de ser um dos maiores especialistas brasileiros em gerenciamento de recursos hídricos.

Tundisi acredita que a gestão das águas deve ser feita por bacia hidrográfica. “É um grande desafio o desenvolvimento científico para a gestão de bacia hidrográfica, especialmente para uma tão grande e complexa como a do Rio São Francisco. A Ciência tem um papel fundamental para o futuro da água, pois pode resolver inúmeros problemas relacionados com o tratamento, o reuso e o controle da poluição. Se a gestão for bem executada em nível de bacias hidrográficas, pode-se assegurar um controle mais efetivo às reservas de água e maior eficiência no uso”.


O palestrante apresentou os principais projetos e insumos científicos para a gestão integrada da bacia do Rio São Francisco


Assista a abertura e a conferência: 


Dilemas entre o Público X Privado na gestão das Águas

 A primeira mesa-redonda realizada no dia 7 de dezembro, na programação do III SBHSF, teve a participação da professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Elizabete Santos, do ex-diretor presidente da ANA, Vicente Andreu, do professor da Universidade Federal de Itajubá (Unifei), Geraldo Lúcio e contou com a moderação do professor da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Valmir Pedrosa.

Para Elizabete Santos está ocorrendo um desmonte do público e do privado na gestão das águas. “Para avançarmos na gestão da democratização das águas no Brasil precisamos avançar na construção de uma esfera pública que não seja somente a adição das vontades privadas. A saída é implementar modelos de desenvolvimento e de gestão democráticos no sentido mais substantivo que o conceito de democracia pode ter”.

Vicente Andreu acredita que está ocorrendo um retrocesso em vários aspectos da institucionalidade ambiental brasileira, particularmente na gestão dos recursos hídricos. “A transferência de todo o sistema do Ministério do Meio Ambiente para o Ministério do Desenvolvimento Regional é um erro, bem como a redução da participação social no Conselho Nacional dos Recurso Hídricos. O fortalecimento dos comitês de bacia hidrográfica é fundamental para seguirmos a coerência histórica de que a água é um bem público no Brasil. No nosso fundamento democrático a gestão democrática das águas deve ser feita por meio dos comitês””, afirmou o ex-diretor presidente da ANA.

O último palestrante da mesa-redonda, Geraldo Lúcio, apresentou as especificidades do que é publico e do que é privado, bem como dos usuários das águas. Para ele o público e o privado devem “dar as mãos” para a mitigação dos conflitos.


Assista a mesa-redonda sobre o tema: 


Os conflitos da energia eletronuclear na bacia do Rio São Francisco

O professor do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (USP), Célio Berman, apresentou palestra sobre os conflitos da energia eletronuclear na bacia do Rio São Francisco. Ele mostrou o que é a energia nuclear e apontou que enquanto países desenvolvidos começam a descontinuidade de geração de energia nuclear, o atual governo aposta em Angra 3 e em usina nas margens do Rio São Francisco, na localidade de Itacuruba, área de moradia de comunidades indígenas e quilombolas.

“O governo brasileiro não só segue o projeto de Angra 3, como também desengaveta planos para outras usinas. A intenção de construir uma central nuclear nas margens do São Francisco já é antiga. O projeto além dos riscos do manejo de material radioativo, pode ainda aumentar os conflitos por água na Bacia do São Francisco. Em situações de escassez hídrica cada vez mais frequentes, a disputa pela água poderá alcançar dimensões trágicas para assegurar a demanda hídrica da central nuclear e, ao mesmo tempo, garantir o abastecimento humano e dessedentação animal e a irrigação das culturas na região do Médio São Francisco”, apontou.

Célio Berman acredita que a resistência ao projeto da central nuclear em Itacuruba não se limita à população local. “As consequências da sua instalação abrangem toda a população que vive no rio São Francisco. Por isso, acredito ser de fundamental importância que o Comitê da Bacia do Rio São Francisco se articule na defesa do rio e seus membros manifestem com vigor seu desacordo ao projeto da central nuclear nas margens do São Francisco”.


Assista a palestra: 


Lançamento “Guerreiro do Velho Chico” 

Encerrando a programação do primeiro dia do III SBHSF ocorreu o lançamento do livro “Guerreiro do Velho Chico” do autor Eugênio Bulhões em uma live no Instagram em forma de bate-papo.

O livro conta a história do Velho Chico de forma lúdica, desde o seu descobrimento pelos viajantes europeus até os dias atuais. A obra aborda as questões ambientais, mostrando os impactos causados pela transposição e pelas construções das hidrelétricas.

Eugênio Bulhões é natural de Penedo (AL), formado em agronomia e apaixonado por histórias, principalmente as que envolvem o Velho Chico.

O III SBHSF ocorre online e é transmitido através do canal do CBHSF no Youtube. A programação do evento conta ainda com apresentações orais e painéis, palestras e mesas-redondas nos dias 9, 11, 14, 16 e 18 de dezembro.

 

Assessoria de Comunicação CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Luiza Baggio