Mais de 12 anos após ocupar o atual território, o povo indígena Pankará, localizado na Aldeia Serrote dos Campos em Itacuruba (PE), finalmente terá água para o cultivo e criação de animais. Hoje, a disponibilidade é apenas para o consumo humano. A expectativa é de que até o final do primeiro semestre de 2018, os 418 índios recebam a conclusão da obra do Sistema de Abastecimento de Água (SAA) e deixem de depender de caminhões pipa.
O investimento será em torno de R$ 3,8 milhões e a obra prevê ligações domiciliares, redes de distribuição, adutora, elevatória, linhas de recalque e estação de tratamento, sistema de irrigação com conjunto de estruturas e equipamentos para captação, adução, armazenamento, distribuição e aplicação de água em culturas. É integralmente financiada pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF).
“Muitas vezes procuramos água pela manhã para fazer um leite para as crianças e não tem. A água só chega aqui por carro pipa. Agora, vendo a obra tomando forma, logo teremos também para irrigação. O nosso povo, que sempre viveu da agricultura e da pesca, volta a ter esperança de poder sobreviver da sua força, da sua cultura”, afirmou a vice cacique Cícera Leal. Ainda durante a concepção do projeto, a tribo, com apoio do CBHSF, obteve junto à Agência Nacional de Águas (ANA), a outorga para captação de água a partir do reservatório de Itaparica para o consumo humano e irrigação da aldeia.
A obra está sendo projetada para atender a população por um período de 20 anos. Em 1988, quando a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf) deslocou a sede do município de Itacuruba para a posição atual, pelo menos 1.500 famílias deixaram a antiga cidade. Na época a aldeia contava com aproximadamente 245 índios. A estimativa é de que no ano de 2034 a tribo deve contabilizar 741 índios.
“Este projeto contou com o envolvimento direto da comunidade e representantes da academia para desenvolver o planejamento que resultou na obra concreta. Com recurso do CBHSF, que investe na tribo para garantir o acesso a água de modo consciente e racional, o sistema de abastecimento beneficiará inúmeras famílias da aldeia indígena Pankará”, explicou o coordenador da Câmara Consultiva Regional do Submédio São Francisco, Julianeli Lima.
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Contexto
No final da década de 1980, os moradores deixaram a antiga localização da cidade de Itacuruba para a atual área, a 466 km de distância da capital Recife, devido à inundação para construção da Barragem de Itaparica feita pela Chesf. Com a mudança, o povo Pankará também foi reassentado junto com os demais moradores, mas considerando suas características de povo produtor, em 2005 a tribo reconquistou o direito a terra passando a viver a quase 3km da sede do município. Mesmo sendo tão próximo da sede, que atualmente contabiliza com aproximadamente 5 mil habitantes, a água só chegava pelos caminhões pipa.
Devido à indisponibilidade de água, alguns índios optaram por continuar na sede de Itacuruba onde trabalham no funcionalismo público. No entanto, com a conclusão da obra a previsão de grande parte deles é retornar para junto do seu povo. “Temos lutado muito por essa adutora, ela vai nos proporcionar a liberdade. Já passamos por muita privação e necessidade por não ter água e água é vida” acrescentou Fernando Antonio da Silva, liderança da tribo.
Texto e fotos: Juciana Cavalcante