Índios alagoanos buscam apoio do CBHSF para problema de abastecimento

19/12/2017 - 16:21


A Estação de Tratamento de Água (ETA) que abastece a comunidade indígena Kariri-Xocó, em Porto Real do Colégio (AL), não possui isolamento adequado. Essa grave falha permite a entrada de animais e coloca em risco toda a tribo. Com a vulnerabilidade do local, fezes são facilmente encontradas. Entre as consequências, estão as doenças relacionadas ao consumo de água contaminada, como esquistossomose, dentre uma vasta relação de outras transmitidas por bactérias e protozoários.
O problema acontece na captação de água para a aldeia, cujo ponto fica numa região, atualmente, pantanosa, devido à baixa vazão do Rio São Francisco. Além das bombas que levam água para a comunidade, estão os animais no mesmo ambiente. Distante apenas 600 metros está o ponto onde se retira água para o abastecimento do município de Porto Real do Colégio. Lá, o líquido é de melhor qualidade, pois é corrente e o Velho Chico oferta o produto em quantidade ainda considerada boa.
Diante do quadro, o cacique José Cícero Queiroz Suíra tem buscado mobilizar os mais diversos entes para solucionar o problema. “Inicialmente, recorremos à Secretaria de Saúde Indígena (Sesai), que apontou como solução emergencial uma dragagem na mesma área em que se retira água. Só que isso é um paliativo. O rio está num nível muito baixo. Esse trabalho de dragagem será suficiente por dois ou três meses apenas, não mais que isso”, explica Cícero Suíra. A Sesai é subordinada ao Ministério da Saúde.
O cacique também procurou o representante da Organização Não-Governamental (ONG) Amigos do Velho Chico, Antenor Néris, e o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF). Este último enviou o analista ambiental Manoel Vieira para verificar a situação real.
O agente indígena de saneamento e irmão do cacique, Francisco Suíra, concorda com a posição de Cícero. Responsável pelo trabalho da ETA na comunidade, Francisco revela que buscou a Sesai de maneira insistente para alertar a dificuldade de realizar o trabalho no tratamento da água. Segundo ele, há apenas o fornecimento de pastilhas sólidas de cloro, que precisam ser quebradas para colocação na água. “Não se faz uma proporção da quantidade do produto em relação ao volume de água. Além disso, o filtro não tem a manutenção rotineira correta e tudo isso interfere no líquido que chega às pessoas. Temos, atualmente, casos de pessoas hospitalizadas devido à água que consome”, aponta ele.
O pajé Carlos Alberto Suíra lembra que os problemas se agravaram a partir do último mês de maio porque o nível do rio São Francisco, que banha o município de Porto Real do Colégio, baixou muito interferindo diretamente na qualidade do líquido, inclusive com a enorme proliferação de algas, fator que indica contaminação. De acordo com ele, a calha do rio está distante um quilômetro da aldeia, motivo pelo qual ele não vê dificuldade para o problema ser resolvido rapidamente pelos órgãos competentes.
O engenheiro da Sesai, Márcio Martins, se reuniu com alguns representantes da comunidade indígena na sexta-feira (15 de dezembro). Na oportunidade, ele reforçou que a abertura do canal é uma proposta viável para uma solução de curto prazo. “Caso a tribo aceite, poderemos solicitar o apoio da Funai e, como precisa tramitar a partir da sede nacional, em Brasília, num prazo máximo de 15 dias poderemos ter essa intervenção”, comentou. Mas não é isso que a comunidade quer. O caminho para atender aos índios da tribo Kariri-Xocó é a mudança do ponto de captação de água.
Diante desse cenário, uma representação indígena participou da videoconferência promovida pela Agência Nacional de Águas (ANA) na segunda-feira (18 de dezembro) e expôs o problema. Imediatamente, a equipe técnica do Ministério da Integração se dispôs a mobilizar diversos entes capazes de se chegar a uma solução. Depois da reunião promovida pela agência federal, a equipe da Sesai se comprometeu a repassar com a maior brevidade possível o diagnóstico que está sendo elaborado por seus técnicos locais.
O presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Anivaldo Miranda, colocou a estrutura do colegiado à disposição. “Trata-se de um problema de simples solução e essa comunidade busca o apoio do Comitê, que não irá se negar”, assegurou Anivaldo Miranda. “A verdade é que a água servida àquela comunidade é imprestável e a solução é algo simples, que fica em torno de R$ 100 mil para a mudança do ponto de captação”, acrescentou o presidente do CBHSF, reafirmando a disponibilidade em resolver o problema.

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Por Delane Barros