A quarta edição do Encontro dos Comitês Afluentes do Rio São Francisco, em Salvador (BA), foi marcada por participação e troca de conhecimentos. Em meio a muitos relatos de experiências, foram debatidos temas estratégicos para o avanço de pautas essenciais à gestão do Velho Chico: uso e cobrança de água, demandas e rotinas de comitês afluentes, transposição.
Com o tema “Escassez Hídrica da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco”, o Encontro contribuiu para ecoar a voz de comitês de bacias afluentes, que clamam pela revitalização do Rio e por melhores condições para desenvolverem suas atividades.
Vozes que ecoam do Velho Chico
Markus Breuss, representante da Bacia Hidrográfica do Itapicuru, no Norte da Bahia, chama atenção para a necessidade de fortalecer os comitês para que eles tenham mais estrutura para atender às diversas demandas existentes.
Sobre o evento, comentou: “aqui vimos a realidade como ela é. Discutindo a prática, não teoria. Muitas dificuldades são comuns e tivemos espaço para falar sobre gestão e rotina do comitê, um aprendendo com o outro”.
Markus explica que a Bacia atende um milhão e trezentas mil pessoas, em 55 municípios, e que são muitos os desafios enfrentados. Entre eles, falta de verba e capital humano para logística. “Precisamos estar perto das pessoas, fazer visitas, ir a campo. Outro problema é que não temos cobrança da água e nem cadastro de usuários”, conta.
Silvana Leite, presidente do Comitê da Bacia do Lago Sobradinho, foi uma das palestrantes desta tarde, que teve início com a apresentação de comitês afluentes da Bahia. Ela participou de todas as edições do evento e ressaltou os diferenciais deste ano: “é muito positivo receber representantes de bacias receptoras e outros comitês baianos que não são afluentes. Para nós também está sendo positivo, pois tivemos a oportunidade de trazer novos membros. Isso aqui funciona como uma capacitação”.
Marcos Rogério Beltrão dos Santos, membro do Comitê da Bacia do Rio Corrente, na Bahia, aproveitou o evento para fazer eco à uma vontade que se expressa na luta de quem, junto com ele, batalha por um Rio vivo. “A gente quer que as presentes e também futuras gerações tenham água. Esse modelo de tirar água dos rios é insustentável; é o mesmo que tirar vida”, defende.
Além da Bahia, Pernambuco também teve destaque nesta tarde. Uma das participantes foi Luciana Souza, do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Pajeú (PE).
“Eu não conhecia a realidade de toda extensão do São Francisco. O evento me permitiu isso. Foi um grande aprendizado. Eu tive a oportunidade de conversar com representantes de outros comitês e ver como eles lidam com certas questões que também estamos enfrentando”, afirma.
Ela comenta, ainda, que alguns pontos chamaram sua atenção: “gostei quando colegas falaram da necessidade de um olhar diferenciado aos rios intermitentes e afluentes”.
Júlio César Ayala, da Bacia Hidrográfica do Rio Urucuia, de Minas Gerais, concorda com Luciana. “O evento me permitiu conhecer as nuances e demandas do Rio, da nascente à foz. Foi uma oportunidade para caracterizar os problemas que sofremos nessa imensa bacia, tão importante para nosso País. Precisamos equacionar esses entraves, propondo soluções para traçar diretrizes e encaminhar isso a autoridades”.
Anivaldo Miranda, presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco, fez um balanço positivo do evento e destacou a riqueza dos debates e a pluralidade dos atores participantes. Ao final desta sexta, Miranda liderou a votação de três moções para futuros encaminhamentos: Moção de Revitalização do Rio São Francisco; Moção de Criação dos Comitês do Rio Parnaíba e Moção de Criação dos Rios Mundaú e Parnaíba do Meio.
Esta edição do Encontro dos Comitês Afluentes do Rio São Francisco aconteceu nos dias 05 e 06 de outubro em Salvador, reunindo representantes de comitês afluentes, além de especialistas da Agência Nacional de Águas (ANA). Foi a primeira vez que comitês que receberão águas da transposição participaram do Encontro, que está em seu quarto ano.
Confira as fotos
Por Andréia Vitório
Fotos: Manuela Cavadas