Em audiência pública remota, parlamentares debatem com Aneel e ONS, a crise hídrica

16/06/2021 - 16:37

Diretores da Aneel e ONS dizem que Brasil não corre risco de racionamento de energia este ano. Apesar de reconhecerem gravidade da crise hídrica, eles acham que medidas como o acionamento de todas as termelétricas do País e aumento da importação – em curso – vão garantir o fornecimento. Mas contas de luz sofrerão aumento em 2022


Diretores da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) afirmaram, ontem (15), que apesar da crise hídrica, o Brasil não corre risco de racionamento de energia elétrica este ano. A informação foi repassada por eles durante audiência pública remota realizada pela Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados. Eles citaram como fatores que contribuem para isso, as medidas anunciadas recentemente pelo Governo Federal para garantir o fornecimento de energia, que preveem o acionamento de todas as usinas termelétricas disponíveis e o aumento da importação de energia da Argentina e Uruguai.

O diretor-geral da Aneel, André Pepitone, disse que apesar da crise hídrica ser grave, a situação do Brasil hoje é melhor do que em 2001, quando houve o racionamento. Segundo ele, fatores como a expansão das linhas de transmissão e inclusão das fontes renováveis na matriz elétrica (como solar e eólica) deixaram o País mais preparado para o momento. “O Brasil tem uma segurança energética bem mais robusta do que havia há 20 anos”, destacou.

De acordo com o diretor, essa segurança, por sua vez, é de curto prazo e permitirá contas de luz mais caras, por conta do acionamento das usinas termelétricas, uma vez que o custo adicional do despacho destas usinas é estimado em quase R$ 9 bilhões entre janeiro e novembro, valores que serão repassados para os consumidores em 2022.

Já diretor-geral da ONS, Luiz Carlos Ciocchi, informou que os reservatórios de hidrelétricas das regiões Sudeste e Centro-Oeste passam, de fato, pela pior seca desde que os indicadores começaram a ser medidos, em 1931.  Mas mesmo assim, a situação pode ser combatida “com energia e potência necessárias para o consumo da sociedade”.

Conforme gráficos apresentados por ele, os reservatórios das duas regiões respondem por 70% da capacidade de armazenamento do País e apresentam, atualmente, um nível de armazenamento de 30,8% de suas capacidades. Sendo que em algumas usinas, como Itumbiara e Água Vermelha, esse nível está em torno dos 10%.

Mesmo assim, segundo Ciocchi, as medidas anunciadas farão com que até novembro, que é o começo da estação chuvosa, esses reservatórios fiquem com 10,3% de sua capacidade. “Sem estas medidas, essa capacidade seria da ordem de 7,5%”, explicou.

Situação recorrente

Outra questão avaliada pelos parlamentares foi a mudança constante do período de estiagem – fator que tem sido observado no mundo inteiro. Conforme informações do coordenador-geral de Ciências da Terra do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Gilvan Sampaio, nos últimos 20 anos, a cada ano a estação seca tem começado mais cedo e se prolongado mais em todo o País. “Essa situação tem sido recorrente”, contou.

O deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP) afirmou que é contrário à ideia do Governo Federal de criação de uma nova instância para coordenar o plano de ação contra o racionamento de energia elétrica. Ele sugeriu, em vez disso, a instituição das atuais instâncias.

O deputado Danilo Forte (PSDB-CE), um dos autores do pedido para realização da audiência, pediu maior participação governamental na discussão do que chamou de “medidas estruturantes para o setor elétrico”. Citou, dentre estas, propostas como liberalização do mercado e a forma de geração distribuída.

Christino Áureo (PP-RJ), que também propôs a audiência, ressaltou que apesar da importância da diversificação da matriz energética brasileira nos últimos anos, o País não pode abrir mão das fontes fósseis. A seu ver, não é possível demonizar, no Brasil, o uso de fontes fósseis, especialmente das térmicas. “Elas nos darão um suporte muito grande nessa travessia”, afirmou.

Os deputados Padre João (PT-MG) e Elias Vaz (PSB-GO) se posicionaram contra aumentos nas contas de luz. Eles ponderaram que o Congresso, assim como o Executivo Federal, precisam estudar alguma medida para amenizar o impacto de possíveis aumentos nas tarifas. “Se há uma coisa que a gente não pode fazer é aumentar ainda mais a carga sobre o setor produtivo e os trabalhadores, que se encontram em uma situação difícil hoje, por conta da pandemia”, destacou Vaz.

 


Assessoria de Comunicação CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
Texto: Hylda Cavalcanti