O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) deverá assumir a tarefa de discutir a política operacional da Bacia do chamado rio da integração nacional nos períodos de cheias. A notícia foi confirmada na manhã desta segunda-feira (12 de março), durante a reunião semanal promovida pela Agência Nacional de Águas (ANA), que analisa as condições hidrológicas da Bacia do Velho Chico. A proposta surgiu após a preocupação demonstrada pelo presidente do Comitê, Anivaldo Miranda, referente à ocupação das margens do rio por parte da população ribeirinha.
A preocupação surgiu a partir da constatação de que, devido a defluência reduzida do rio, a população tem ocupado cada vez mais o solo de forma desordenada. Com isso, a elevação no nível do manancial, provocada por uma cheia natural ou artificial, causaria sérios danos. Anivaldo Miranda adiantou que o Comitê deverá promover seminários junto a prefeituras, órgãos da sociedade e demais atores envolvidos na questão, para discutir o assunto. “Isso não será problema para nós. Deveremos iniciar esse processo entre abril e maio”, adiantou ele.
A gerente de Recursos Hídricos da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf), Sonáli Cavalcante, reforçou a importância de discutir o caso. Ela lembrou que a empresa chegou a realizar estudos em parceria com a ANA. “Já realizamos um trabalho há algum tempo, sobre os efeitos de inundação com vazões de 2 mil, 4 mil e 8mil metros cúbicos por segundo (m³/s). O município é responsável pela ocupação do solo, mas é necessária a definição de um plano de gestão nos casos críticos”, explicou Sonáli.
O superintendente de Recursos Hídricos da ANA, Joaquim Gondim, antecipou que a agência federal já disponibiliza esses estudos citados pela representante da Chesf, a fim de contribuir com a articulação e as ações do CBHSF.
Aumento repentino de vazão
Ainda na reunião desta segunda, a gerência de Programação de Geração do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) explicou os motivos que levaram a elevação da defluência do Rio São Francisco na semana que passou, na região do Baixo, entre os estados de Alagoas e Sergipe.
O motivo foi a necessidade de suprir uma deficiência na geração de energia eólica. “Todos afirmam que o Brasil tem um extraordinário parque eólico. Na realidade, esse bom resultado pode ser visto a partir do mês de junho até agosto. Fora isso, há uma deficiência”, explicou o representante do órgão federal. Para suprir essa deficiência na geração foi necessária a sincronização de uma segunda turbina na usina hidrelétrica de Xingó entre os dias 2 e 6 de março. O impacto em Sobradinho foi de 0,27%, segundo explicações do ONS, e a água teria saído do reservatório de Itaparica, em Pernambuco.
O presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Anivaldo Miranda, considerou as explicações satisfatórias e esclarecedoras. “Mas senti falta da interação com sistemas de geração de energia de outros estados, já que são interligados”, ponderou ele.
Chuva na Bahia
A previsão de chuvas para os próximos dias na Bacia do São Francisco deve favorecer um pouco mais apenas a região da Bahia. A informação foi transmitida pela equipe técnica do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) durante a reunião da ANA.
Além disso, a equipe técnica do órgão aponta para um índice satisfatório de acumulação no reservatório de Três Marias (MG), de aproximadamente 120 milímetros de precipitação nesse período úmido. A equipe do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) apresentou, ainda, que o volume útil de Três Marias atinge, no momento, 50,2%; Sobradinho, na Bahia, está com 33% de sua capacidade e Itaparica, em Pernambuco, com 18%. Ainda conforme o ONS, a defluência permanece em 550 metros cúbicos por segundo (m³/s) em Sobradinho e Xingó; e 80 m³/s em Três Marias. Porém, por uma questão operacional, este último irá operar com 93 m³/s até a próxima quarta-feira (14 de março).
A reunião que analisa as condições hidrológicas da Bacia do São Francisco acontece todas as segundas-feiras, na sede da ANA, na capital federal, é transmitida por videoconferência para os estados inseridos na bacia e disponibilizada no endereço eletrônico da Agência, na internet.
* Por Delane Barros