Com o tema voltado ao debate sobre os aspectos tecnológicos e de aplicações da água de chuva, pesquisadores participaram de um evento on-line nesta segunda-feira (14), onde apresentaram experiências sobre o uso de simulação computacional com o apoio para o dimensionamento de reservatórios para armazenamento de água pluvial, aproveitamento de água de chuva para fins não potáveis de acordo com as normas da ABNT NBR 15527 e ainda aproveitamento de água de chuva na agricultura familiar.
O encontro virtual, promovido pelo Instituto Nacional do Semiárido (Insa/MCTI), foi moderado pelo pesquisador do INSA, Salomão de Sousa Medeiros. O pesquisador Plinio Tomaz mostrou como realizar a captação e o aproveitamento da água de chuva para fins não potáveis de forma segura. Já o professor da Universidade Federal de Santa Catarina, Enedir Ghisi, apresentou o programa Netuno, que atende ao objetivo de estimar o potencial de economia de água potável por meio do aproveitamento de água pluvial para usos onde a água não precisa ser potável, como em descarga de vasos sanitários, limpeza de pisos, rega de jardim, lavação de carros.
O assessor da área de recursos hídricos do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (Irpaa) e membro do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, Johann Gnadlinger, demonstrou as experiências vivenciadas no semiárido com o aproveitamento de água de chuva na agricultura familiar.
Mesmo concordando com as dificuldades e alto custo existente no acesso às tecnologias para captação e armazenamento da água de chuva, todos os pesquisadores afirmam que esta é uma alternativa viável para redução do consumo da água potável e consequentemente preservação dos mananciais. Gnadlinger demonstrou através das experiências desenvolvidas pelo Irpaa que a reprodução das tecnologias utilizadas pela ONG e diversas outras entidades, é possível. “A ação se tornou vital para muitas famílias do semiárido nordestino onde mais de um milhão de cisternas já foram construídas ou instaladas nas áreas rurais”, reforçou Gnadlinger.
Agora, o desafio é tornar o aproveitamento da água de chuva também viável para os moradores das áreas urbanas. “Há uma problemática muito grande nesse sentido, porque se as pessoas passam a aproveitar dessa água, diminui-se o consumo da água potável, o que é bom para o meio ambiente. Mas para as empresas concessionárias de água terão prejuízo”, destacou o pesquisador Plinio Tomaz.
Dados sobre seca e estiagem
Mesmo não existindo legislação específica sobre o uso da água de chuva, no ano em que a Lei nº 9.433/97, também conhecida como Lei das Águas, completou 20 anos, em 2017,foi acrescentada através da 13.501/2017 mais um objetivo à Política Nacional de Recursos Hídricos. Segundo o novo texto, tornou-se objetivo, também, incentivar e promover a captação, a preservação e o aproveitamento de águas pluviais.
O relatório pleno de Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil lançado em 2017 pela Agência Nacional de Águas (ANA) apontou que 48 milhões de pessoas foram afetadas por secas ou estiagens no território nacional entre 2013 e 2016. Nesse período, foram registrados 4.824 eventos de seca com danos humanos. Somente em 2016, ano mais crítico em impactos para a população, 18 milhões de habitantes foram afetados por estes fenômenos climáticos que causam escassez hídrica, sendo que 84% dos impactados viviam no Nordeste.
Ainda no mesmo período as secas e estiagens levaram 2.783 municípios a decretarem Situação de Emergência (SE) ou Estado de Calamidade Pública (ECP), sendo que 1.409 cidades estavam localizadas no Nordeste do Brasil. Destes municípios, aproximadamente metade decretou emergência ou calamidade pelo menos uma vez em sete anos diferentes. Entre 2013 e 2016, o Nordeste registrou 83% dos 5.154 eventos de secas registrados no Brasil, que prejudicam a oferta de água para abastecimento público e para setores que dependem de água para realizarem atividades econômicas, como geração hidrelétrica, irrigação, produção industrial e navegação.
Assessoria de Comunicação CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Juciana Cavalcante