Tristeza no último dia da expedição

16/07/2013 - 9:38

O último dia pelas águas do Velho Chico despertou uma série de sentimentos nos pesquisadores que, durante quatro dias, participaram dessa viagem de imersão pelo rio. Além da clara reverência ao lugar, desânimo e tristeza foram apenas algumas das sensações nomeadas durante a última reunião do grupo. “Abandono define o que estou sentindo. Abandono por parte do poder público e, o mais grave, pela população, que está literalmente, dando as costas para o rio. A arquitetura atual representa isso. As casas agora são construídas de frente para a rodovia, e não mais para o rio”, avalia o professor Marcus Vinícius Poligliano, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
O pesquisador Antenor Aguiar, da Universidade Federal de Sergipe (UFS), usou a palavra ‘perplexidade’ para definir sua vivência durante a expedição. “Pelo conhecimento da hidrologia do São Francisco, é assim que defino essa expedição. Tem muita coisa errada”, afirmou o engenheiro agrônomo, referindo-se aos problemas observados ao longo da semana.
Na saída do município alagoano de Pão de Açúcar – cidadezinha que, além de homenagear o Rio de Janeiro, também tem uma réplica do Cristo Redentor – o que se via era água parada com sujeira e algas. Na margem, galinha, cavalo e cachorro vagavam pelo ambiente; e havia muito lixo espalhado. Do lado sergipano, em Niterói, moradores reclamavam da falta de água tratada. “Aqui não tem abastecimento. Só cisterna e carro-pipa”,garantiu Cláudio Torres da Mota, enquanto abastecia seu caminhão para levar água à população de Esperança – que é o que não falta ao povo do São Francisco.
Chocados, os exploradores seguiram viagem para o riacho Pau Ferro, que costumava ser um dos locais mais fundos da bacia e, desde 2008, vem tendo seu nível de água reduzido. Não à toa, a hélice do barco Nêgo D’água, que conduzia uma parte da equipe, bateu em uma das rochas, que tempos atrás estavam bem abaixo da água. Uma parte da hélice quebrou. Depois do conserto, a lancha seguiu viagem. Pela frente, os lados alagoanos e sergipanos do rio se alternavam. Riacho Grande (AL), Bonsucesso (SE), Ilha do Ferro (AL), Belmonte (SE), Mato da Onça (AL), Curralinho (SE) e Boca do Saco, onde a equipe parou para conversar com pescadores locais. Após uma noite e um dia pescando, eles tinham conseguido pegar poucos peixes.
Pausa para admirar Entremontes (AL), local de onde partiu a volante para capturar Lampião e seu bando, nos idos dos anos 40. Alguns quilômetros depois de enfrentar chuva forte, o grupo, finalmente, chegou ao seu destino final: Piranhas, cidade histórica de Alagoas. Acabava ali a saga pelo São Francisco, cheia de descobertas, tristezas e alegrias. E uma saudade profunda inundou o coração do grupo.
 
ASCOM – Assessoria de Comunicação do CBHSF