O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco financiou a primeira etapa da pesquisa que resultou na descoberta de sítios arqueológicos nas terras da comunidade indígena Tuxá, no município de Rodelas – BA, onde vive uma população de aproximadamente 1000 indígenas, divididos em 214 famílias.
Um relatório preliminar, resultado da expedição do Comitê da Bacia do São Francisco na área de influência do território tradicional da comunidade Tuxá na ilha de Sorobabel, foi elaborado, com a finalidade de servir de parecer técnico para a 46ª Fiscalização Preventiva Integrada (FPI) da bacia do Rio São Francisco, por uma equipe multidisciplinar.
A equipe de arqueologia realizou o diagnóstico arqueológico por meio de prospecção total de varredura na área do submédio São Francisco, nos períodos de 22 a 24 de novembro e 29 a 30 de novembro, quando foram encontrados cinco sítios arqueológicos. De acordo com a coordenação da equipe, a professora Cleonice Vergne, a pesquisa contribui com novos conhecimentos. “A pesquisa se torna fundamental, visto que contribui para o desenvolvimento dos estudos arqueológicos em áreas ainda pouco estudadas e reafirma a identidade e o pertencimento das comunidades tradicionais associadas aos bens arqueológicos, além de gerar conhecimentos no que diz respeito à realidade arqueológica dos grupos que habitavam a bacia do São Francisco. O estudo vai compor um quadro técnico-cientifico para os achados em sítios arqueológicos com características de serras de dunas”.
A equipe técnica de arqueologia foi composta por pesquisadores do Centro de Arqueologia e Antropologia de Paulo Afonso (CAAPA) atendendo a Fiscalização Preventiva Integrada da Bacia do Rio São Francisco, realizada pelo Ministério Público da Bahia e pelo CBHSF. O centro de pesquisa é referência e conta com um acervo técnico dos estados de Minas Gerais e Bahia, além de compor a lista de endossos institucionais do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
O coordenador da Câmara Consultiva Regional do Submédio São Francisco, Cláudio Ademar, destacou a importância do estudo como forma de conhecer as origens dos povos tradicionais da Bacia. “Esse é um dado importante que deve nos possibilitar conhecer mais sobre os povos originários que habitam a bacia do São Francisco há muitos anos. Pode nos permitir conhecer como viviam e como influenciaram essa região”, afirmou.
Para o coordenador regional da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) do Baixo São Francisco, em Paulo Afonso, Uilton Tuxá, já era de conhecimento do seu povo a existência de pertences históricos, mas agora o trabalho de identificação dos registros dos povos ancestrais mostra a importância do território. “O trabalho de arqueologia é importante porque está identificando marcas da presença ancestral do povo Tuxá e está descobrindo registros a partir do Surubabel reafirmando o território indígena”.
O relatório também aponta que a região onde estão inseridos os sítios arqueológicos é caracterizada como litótipos dos complexos Belém do São Francisco e Cabrobó, com atributos de granitóides das formações Tacaratu (Paleozóico), camadas sedimentares da bacia sedimentar de Tucano (Mesozóico) e Formações Superficiais do período Cenozoico. Após a descoberta em uma área com cerca de 150m de um conjunto de 682 materiais líticos e 60 fragmentos cerâmicos, totalizando 742 vestígios de materiais arqueológicos, o objetivo agora é elaborar um quadro de dados e gerar os resultados no âmbito das pesquisas arqueológicas regionais, além de criar um programa de preservação, gestão do patrimônio material, medidas de educação e de divulgação. “Os resultados dessa pesquisa resultarão em relatório, oficinas pedagógicas e palestras junto à comunidade com a finalidade de desenvolver o espírito de relação com o bem patrimonial no intuito de conscientizá-los da importância de preservá-lo. Nesse sentido, foi realizada uma ação educativa em novembro do ano passado, com os alunos do primeiro ao sexto ano do ensino fundamental, no Colégio Estadual Indígena Capitão Francisco Rodelas”, afirmou, explicando ainda que o material coletado comprova a ocupação dos grupos humanos no território originário da Ilha de Sorobabel/Surubabel. “Ilha que hoje está submersa, mas o nome se estendeu para as dunas. Os bens patrimoniais podem compor e reforçar o discurso de demarcação da comunidade indígena com provas materiais dos remanescentes caçadores-coletores desses grupos em tempo pretérito e atual. Temos realmente uma área arqueológica atrelada à ancestralidade indígena. É um sítio de superfície devido ao recobrimento da areia das dunas que faz o manejo do sedimento, hora recobrindo, hora evidenciando, sugerimos tombamento natural, arqueológico e de ancestralidade indígena”.
O relatório recomendou a continuação dos estudos arqueológicos na região com foco no reconhecimento dos bens como parte da identidade da comunidade Tuxá e da área arqueológica.
Assessoria de Comunicação do CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Juciana Cavalcante
*Fotos: Imagens cedidas pela Funai/Paulo Afonso