Seminário marca o início das atividades do projeto de sustentabilidade socioambiental no Semiárido em Glória (BA)

05/08/2024 - 15:55

Na última sexta-feira (01), o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) realizou, no município de Glória – BA, por meio da empresa Solarterra, o seminário inicial do projeto de sustentabilidade socioambiental no Semiárido que prevê a instalação 74 sistemas fotovoltaicos residenciais, mais 10 sistemas para poços de abastecimento e cercamento dessas áreas.


A ação, que já aconteceu em outros dois municípios, Cedro-PE e Miravânia-MG, é integralmente financiada pelo CBHSF através de recursos oriundos da cobrança pelo uso da água na Bacia do São Francisco. Com previsão para início das instalações nas primeiras semanas de setembro, serão aplicados mais de R$ 1,6 milhões na instalação de sistemas de geração de energia solar fotovoltaica conectados à rede elétrica – on grid – e sistema de baterias – off grid, para bombeamento de poços tubulares e geração de energia em residências de famílias em vulnerabilidade social tendo pelo menos um membro da família com diagnóstico do espectro do autismo.

O uso de fontes renováveis de energia tem se tornado o maior investimento do Brasil nos últimos anos na busca da intitulada transição energética que visa, além do aspecto econômico, a sustentabilidade, diminuindo os impactos ambientais com a redução das emissões de carbono na atmosfera. Com isso, o Plano de Recursos Hídricos do São Francisco (PRH SF 2016-2025) considerando suas múltiplas possibilidades, incentiva e investe nessas alternativas como forma de aliviar a pressão sobre os recursos hídricos, que hoje respondem por mais da metade da matriz elétrica brasileira (55%).

As famílias contempladas com o projeto foram selecionadas por uma equipe multidisciplinar da Prefeitura de Glória, atendidas pelos programas sociais de apoio às crianças e jovens autistas. As mães tomaram o auditório do Centro Diocesano de Glória e não esconderam a ansiedade pelo início das obras que devem durar em torno de 60 dias. Após o diagnóstico, quase que a totalidade das mães abandonaram suas carreiras para se empenhar integralmente aos cuidados dos filhos, como é o caso de Jeísa Gabriela Amaral Melo. Ao relatar as grandes demandas para atender a filha, destacou que o projeto será de grande ajuda para melhorar a qualidade de vida das crianças que, além do autismo, podem ter outras condições desenvolvidas como alergias, caso da sua filha que morando em uma região de temperaturas altas, a demanda por ventilação é ainda maior. “A gente vive em um local quente, as demandas são altas em tudo e o que puder gerar economia e auxiliar no tratamento será muito bem-vindo. Estou ansiosa para que o projeto aconteça o mais rápido possível e é uma alegria imensa porque vai transformar a vida de muita gente. Até fui buscar saber mais sobre o Comitê e vi que outras cidades foram beneficiadas, outras famílias atípicas já passaram por esse processo. Como filha de agricultor, o São Francisco fez parte da minha infância, da renda da minha família e agora, através do rio, somos beneficiados mais uma vez. É até difícil mensurar a importância desse projeto”.

Para as mães Maria da Silva, Ana Carla Gomes, e a tia Maria José Araújo, que cuida de sua sobrinha, os desafios são inúmeros e diários, e o projeto vai dar oportunidades para as famílias contribuindo com a redução de despesas. “Acredito que esse projeto será muito bom, hoje o custo da energia é muito alto e com as placas a gente vai conseguir economizar”, afirmou Ana, que é agricultora mas não exerce a atividade para cuidar das duas filhas.


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De acordo com dados da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), este ano o Brasil ultrapassou a marca de 39 gigawatts (GW) de potência instalada da fonte fotovoltaica desde 2012, somando as usinas de grande porte e de geração distribuída (telhados, fachadas e pequenos terrenos). Ainda segundo a entidade, desde 2012 a fonte solar já evitou a emissão de 47,7 milhões de toneladas de carbono (CO2) na geração de eletricidade e este ano o Brasil passou de 2 milhões de residências com energia solar nos telhados. A Bahia é o quinto estado com mais sistemas instalados, com 173.489 sistemas. De acordo com um levantamento do Portal Solar, para instalação de um sistema fotovoltaico residencial o custo varia entre R$ 8.900 e R$ 26 mil.

O prefeito de Glória, David Cavalcanti, agradeceu por mais uma parceria firmada com o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco. “Agradeço ao Cláudio Ademar, coordenador da Câmara Consultiva Regional do Submédio São Francisco, que sempre foi um guerreiro em defesa da bacia, nosso representante internacional que esteve na Indonésia levando nosso conhecimento, a bacia do São Francisco, para outras culturas. Por essa parceria com o Comitê já fomos contemplados com o plano de saneamento básico e agradeço por esse que é um dos maiores benefícios para a nossa cidade”.

O coordenador da CCR Submédio, Cláudio Ademar, lembrou que as ações do CBHSF só são possíveis devido ao pagamento pelo uso dos recursos hídricos. “O Comitê realiza todas essas obras através da cobrança pelo uso da água bruta da bacia do São Francisco, cujos recursos são recolhidos pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e entregues ao Comitê. É com esse valor que, através do plano de recursos hídricos, aplicamos na bacia do São Francisco, em forma de projetos, ações, pesquisa, dentre outros”, explicou.

Após essa etapa, o coordenador técnico da Agência Peixe Vivo, Paulo Sérgio da Silva, explicou que o projeto ainda prevê outras fases. “O projeto tem várias etapas incluindo capacitações que vão instruir as famílias sobre o uso das placas, além da mobilização social, que é uma exigência do Comitê para todos os projetos, estimulando a educação ambiental para preservação desse recurso precioso que temos: a água”.

Energia na bacia do São Francisco

Atualmente 70% da matriz elétrica brasileira é de fontes renováveis, sendo: hidrelétrica (55%), geração Eólica (14,8%) e Biomassa (8,4%), de acordo com o Governo Federal. Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), dos 200 GW alcançados este ano, 84,25% são de fontes renováveis e 15,75% de fontes não renováveis. Classificada entre os usos não consuntivos – aqueles que não consomem diretamente, mas dependem da manutenção de condições naturais ou de operação da infraestrutura hídrica, na bacia do São Francisco estão instaladas nove usinas hidrelétricas: o complexo hidrelétrico de Paulo Afonso com um conjunto de usinas, formado pelas usinas de Paulo Afonso I, II, III, IV e Apolônio Sales (Moxotó), além das usinas hidrelétricas de Sobradinho, Xingó, Itaparica (Luiz Gonzaga) e Três Marias.

Além das hidrelétricas, as fontes renováveis, eólica e solar, se destacam cada vez mais contribuindo para a geração de energia, o que tem possibilitado, inclusive, a sua exportação. Em 2023, o Nordeste foi responsável por 82,3% de toda a energia solar e eólica produzida no Brasil.

Lembrando que, embora o Brasil, diferente dos quatro maiores emissores, tenha na matriz elétrica mais de 80% de geração de energia por fontes renováveis, devido aos efeitos da emergência climática, que afetam a quantidade e intensidade das chuvas, o físico Heitor Scalambrini afirma que é preciso reduzir a dependência das hidrelétricas que precisam da vazão para dar conta da geração elétrica.

Em 2022, com o foco na preservação dos aquíferos Urucuia e Cártisco, contribuintes importantes para a manutenção da vazão do rio São Francisco, especialmente entre a divisa do estado de Minas Gerais e a montante de Sobradinho, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco apresentou o resultado do estudo com foco na disponibilidade hídrica e nos diversos usos nas bacias dos rios Carinhanha, Corrente e Grande. “Estudos realizados, utilizando dados da missão GRACE, analisando o período de 2003 a 2014, estimaram uma redução no armazenamento do aquífero de 9,75 km³ no período, uma perda equivalente a 30% da represa de Sobradinho. Para evitar um colapso é preciso usar a água com parcimônia, priorizando naturalmente os usos essenciais. É preciso otimizar o uso dos recursos hídricos, adotando por exemplo métodos mais sustentáveis, além de proteger as áreas de recarga de mananciais, de forma a prolongar a longevidade dos recursos hídricos da bacia”, afirma o professor Chang Hung Kiang, membro da Câmara Técnica de Águas Subterrâneas do CBHSF.


Assessoria de Comunicação do CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Juciana Cavalcante
*Foto: Juciana Cavalcante