Na bacia do Velho Chico, a indústria da criatividade encontrou solo fértil. Selecionamos seis iniciativas que geram renda e impulsionam a economia local, abraçando a singularidade e a sustentabilidade.
O que é economia criativa? O conceito tem pai, o escritor e pesquisador inglês John Howkins, autor do livro “The Creative Economy: How People Make Money From Ideas”, publicado em 2001. No Brasil, a obra desembarcou com o título “Economia Criativa: Como Ganhar Dinheiro com Ideias Criativas”. Conforme o próprio termo indica, trata-se da junção da criatividade com o capital social para desenvolver produtos exclusivos, que dificilmente poderão ser imitados por outra pessoa ou organização.
A indústria da criatividade, segundo a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), gerou, em 2017, 171 bilhões de reais, abarcando 837 mil trabalhadores. Em 2012, inclusive, o potencial desse mercado chamou a atenção do poder público, com a criação da Secretaria de Economia Criativa, vinculada ao Ministério da Cultura. Na bacia do São Francisco, graças ao imenso manancial cultural, a onda encontrou solo fértil, rendendo uma grande diversidade de negócios pautados pelos valores contemporâneos: singularidade e sustentabilidade.
Um Toque de Mel
Em Brotas de Macaúba, cidade baiana localizada na Chapada Diamantina, um grupo de 14 agricultoras transformou o mel em matéria-prima para a produção de cosméticos. Após um curso de capacitação promovido pela Associação dos Apicultores do Vale do Riacho Grande, criaram a marca “Um Toque de Mel”, com seis produtos à base de mel, própolis e cera de abelhas: shampoo, condicionador, hidratante, sabonete líquido, pomada cicatrizante e sabonete em barra.
“Futuramente, pretendemos inserir a geleia real e o extrato de algumas ervas e plantas medicinais,” comentou Rosana Mendes dos Santos. De acordo com ela, a marca vem contribuindo para ajudar a alertar a comunidade para a importância das abelhas para o meio ambiente, que sofrem com as constantes queimadas e o uso abusivo de produtos químicos nas plantações.
Saiba mais: @um_toque_de_mell
Associação Aroeira
Em 2011, na alagoana Piaçabuçu, foz do São Francisco, nasceu a Associação Aroeira, voltada para o agroextrativismo sustentável. Hoje, já são 45 famílias engajadas na criação de produtos que valorizam as frutas da terra, sobretudo a pimenta rosa. “Já não enxergam mais a gente como coitadinhas que catam frutas no mato para sobreviver”, afirmou Rita Paula dos Santos Ferreira, diretora administrativa e financeira da Aroeira.
Além da pimenta rosa, fazem parte da nova cozinha local o araçá-do-mato, o guajiru, o jamelão, a ameixa amarela, a mangaba, a maçaranduba e o tamarindo. Chama atenção o bolo azul de jenipapo servido com pimenta rosa. “Fazemos o que outras pessoas não fizeram, como é o caso da cocada de cambuí”, ressaltou Rita. Também tem geleia, cachaça, sorvete, picolé, suco.
Comercializando o que produzem, as associadas geram renda. E mais: alcançam os mercados convencional, solidário e gourmet. Há pouco mais de um ano e meio foi criada a Cooperativa Ecoagroextrativista Aroeira de Piaçabuçu (Coopearp), para facilitar a comercialização das iguarias.
Saiba mais: @ass.aroeira
Grupo Matizes Dumond
O Velho Chico é a inspiração para o bordado do Grupo Matizes Dumont, nascido e criado em Pirapora, Minas Gerais. São mais de 36 anos de existência, emprestando novas possibilidades criativas à milenar arte. Uma das inovações é o bordado para ilustrar livros, já utilizado por autores ilustres como Rubem Alves, Jorge Amado e Marina Colasanti.
Formado por cinco membros de uma mesma família, o Matizes Dumond tornou-se conhecido pelo bordado livre, que rompe com os padrões da técnica original. “Minha mãe nos ensinou e nós ensinamos para filhas e sobrinhas. Hoje, são três gerações bordando”, contou Sávia Dumont, filha de mãe bordadeira e pai contador de histórias.
Trançando futuros, o Matizes Dumont fundou o Instituto de Promoção Cultural Antônia Diniz Dumont (Icad), contribuindo para gerar renda e inclusão socioprodutiva na comunidade.
Já foram capacitadas mais de 200 mulheres que têm na sede, em Pirapora, toda infraestrutura para bordar. São produzidos pelo Icad vestidos, almofadas, lençóis, toalha de banho, entre outras peças.
Saiba mais: @matizesdumontbordados e @icadbordados
Coopercuc
“Somos a única cooperativa do Brasil que trabalha com o processamento do umbu e do maracujá da caatinga in natura”, destacou Dailson Andrade, gestor de mercados privados da Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá (Coopercuc).
Tem até cerveja à base dessas frutas. E licor, cachaça, doces, polpas de suco. Outras frutas locais também são utilizadas na produção, como goiaba, acerola, manga. Atualmente, são 283 cooperados de base da agricultura familiar que ganham ou incrementam sua renda com as produções.
Essa história começou em 2004, a partir do sonho de agricultores familiares desses três municípios do semiárido baiano, no Território do Sertão do São Francisco.
No modelo de negócio, mulheres são prioridade e representam 70% do quadro. O protagonismo juvenil também é um diferencial, assim como o compromisso com a sustentabilidade.
“Temos em curso uma estratégia de abertura de centros de distribuição espalhados no Brasil. Atualmente, temos dois centros de distribuição na cidade de São Paulo, um em Brasília, um em Salvador e estamos inaugurando outro na cidade de Juazeiro”, explicou Dailson.
Saiba mais: @coopercuc_gravetero
Bom Bolos Delmiro
“Somos uma empresa jovem, mas sempre tivemos consciência social. Incentivamos os produtores locais, separamos nosso lixo, colaboramos com os coletores de recicláveis, fazemos ações para comunidades carentes e praticamos o preço justo”, afirmou Dioneia Rayane Nunes, da Bom Bolo Delmiro, de Delmiro Gouveia, em Alagoas.
A empresa, fundada em outubro de 2018, passou para as mãos de Dioneia em maio de 2019. Entre as produções, destacam-se os bolos artesanais à base de insumos locais, como macaxeira e milho, comprados de produtores da agricultura familiar do município.
“Começamos, eu e meu esposo, com duas funcionárias. Hoje somos sete e nossa produção aumentou em 50% desde quando abrimos a loja”, celebrou. Ela conta que, sem experiência no início da empreitada, buscou capacitações no Sebrae para chegar ao mercado mais preparada.
Saiba mais: @bombolodelmiro
Sabarabuçu
Da vontade de fazer algo que surpreendesse as pessoas, no sabor e na qualidade, surgiu a Sabarabuçu – Produtos de Jabuticaba. A marca, lançada em 2008, revela em si seu local de origem e tem nome de Estrada Real.
Licor, aguardente, cachaça, cerveja artesanal. Tudo à base de jabuticaba, não à toa chamada de ouro negro em Sabará e considerada patrimônio imaterial do município. Tem também diferentes molhos a partir da fruta: picante, defumado, com mostarda, café, alho. Tem até a versão teriyaki. Sem dizer das geleias com cebola roxa, pimenta e bacon! Isso, além dos tradicionais doces de corte.
Meire Ribeiro, sócio-proprietária da Sabarabuçu, conta que a empresa tem em média um crescimento de 10% ao ano e que esse número deve subir. “Estamos planejando a criação da nossa agroindústria. Com ela, acreditamos que vamos aumentar a produção em mais de 50%. Hoje trabalhamos com a capacidade produtiva de 30 toneladas de jabuticaba/ano e o nosso foco em 2023 é aumentar esse número para 70 a 100 toneladas/ano.
A empresa é familiar, tem parceria com produtores locais, conscientiza sobre os cuidados com meio ambiente e lançou, em meio à pandemia, seu e-commerce.
Saiba mais: @sabarabucu
Assessoria de Comunicação CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
Texto:Andréia Vitório