O São Francisco atravessa três biomas — Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica. O Cerrado responde por 53% da perda anual de vegetação nativa do país; a Caatinga já perdeu mais de 15% (8,6 milhões de hectares) desde 1985; e a Mata Atlântica se regenera lentamente. Para a saúde do Velho Chico, urge apressar a revitalização da natureza.
A Caatinga
A Caatinga, bioma exclusivamente brasileiro, enfrenta uma deterioração preocupante. Entre 1985 e 2023, o bioma perdeu 14,4% de sua vegetação nativa, o equivalente a 8,6 milhões de hectares. A agricultura e as pastagens são os principais vilões. A expansão agrícola foi de 1.557%, enquanto a área de pastagem aumentou 112% no mesmo período. A maior parte do desmatamento (67,4%) ocorreu em áreas de vegetação primária. Há uma esperança: pesquisas têm indicado que a Caatinga foi responsável por 50% do sequestro de carbono do Brasil em 2020. Sua resiliência e capacidade de retenção de carbono vale muito dinheiro em créditos de carbono, grande incentivo para a sua restauração e preservação.
O Cerrado
“Coração aquático do Brasil”, o Cerrado abriga as nascentes de várias bacias hidrográficas. Contudo, o bioma tem sofrido perda alarmante de água. São 30 piscinas olímpicas por minuto, segundo o estudo “Cerrado – O Elo Sagrado das Águas do Brasil”, da Ambiental Media. A principal causa é a expansão descontrolada do agronegócio, somada às mudanças climáticas. Entre 1970 e 2021, a vazão de segurança do São Francisco caiu 50%, passando de 823 m³/s para 414 m³/s. No mesmo período, a área de cultivo de soja na bacia aumentou em 7.082%, resultando na perda de 20% da vegetação nativa original.
A Mata Atlântica
A Mata Atlântica desempenha um papel importante na proteção das cabeceiras do Velho Chico. Um estudo recente revelou que, embora a Lei da Mata Atlântica, de 2006, tenha ajudado a frear o desmatamento, a maior parte do ganho de vegetação se deu na forma de pequenos fragmentos. Foi ganho 1 milhão de hectares desde 2005, mas em fragmentos com tamanho médio de um campo de futebol. Segundo o professor Jean Paul Metzger, da Universidade de São Paulo (USP), essas áreas pequenas não conseguem garantir a manutenção de relações ecológicas duradouras. O desmatamento segue sendo uma ameaça, especialmente por ocorrer em áreas de mata madura e por meio de licenciamentos questionáveis. Em 2024, a queda no desmatamento foi da ordem de 27%, graças ao aumento da fiscalização.



Uma bacia, três biomas. Diferentes ecossistemas se complementam em uma existência harmônica
COMPARATIVO DOS BIOMAS DA BACIA DO SÃO FRANCISCO
| Caatinga | Cerrado | Mata Atlântica | |
|---|---|---|---|
| Contribuição para a bacia |
Bioma exclusivamente brasileiro, vital para a bacia em seu percurso final. |
“Coração aquático do Brasil”, abriga as nascentes e principais afluentes do Rio São Francisco. |
Protege as cabeceiras da bacia, mesmo em pequenos fragmentos. |
| Principal ameaça |
Expansão da agricultura e pastagens, resultando em desertificação. |
Expansão descontrolada do agronegócio exportador (principalmente soja). |
Perda de fragmentos de mata madura, apesar de queda no desmatamento geral. |
| Impacto na bacia |
Degradação hídrica em virtude da diminuição da recarga de aquíferos e aumento da erosão, intensificando a desertificação. |
Perda de vazão devido ao aumento da área de cultivo de soja (7.082%), o que causou queda de 50% na vazão de segurança do rio entre 1970 e 2021. |
Fragmentação do bioma não garante a manutenção de relações ecológicas duradouras. |
| Dados do desmatamento (2024) |
Perdeu 14,4% de sua vegetação nativa entre 1985 e 2023. |
Concentra 53% de toda a perda de vegetação nativa do Brasil, com 82% da devastação no Matopiba. |
Desmatamento registrou queda de 27% em 2024, mas a perda de pequenos fragmentos é preocupante. |
| Potencial destaque |
Grande potencial econômico e ambiental em créditos de carbono, sendo responsável por 50% do sequestro de carbono do Brasil em 2020. |
Principal contribuinte de água para a bacia do São Francisco. |
A Lei da Mata Atlântica ajudou a frear o desmatamento, e houve um ganho de cerca de 1 milhão de hectares em fragmentos desde 2005. |
Assessoria de Comunicação do CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
Por Juciana Cavalcante
Fotos: Bianca Aun, Leo Boi e Manuela Cavadas