Revista Chico nº18: Três Biomas

22/12/2025 - 11:00

O São Francisco atravessa três biomas — Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica. O Cerrado responde por 53% da perda anual de vegetação nativa do país; a Caatinga já perdeu mais de 15% (8,6 milhões de hectares) desde 1985; e a Mata Atlântica se regenera lentamente. Para a saúde do Velho Chico, urge apressar a revitalização da natureza.


 

A Caatinga

A Caatinga, bioma exclusivamente brasileiro, enfrenta uma deterioração preocupante. Entre 1985 e 2023, o bioma perdeu 14,4% de sua vegetação nativa, o equivalente a 8,6 milhões de hectares. A agricultura e as pastagens são os principais vilões. A expansão agrícola foi de 1.557%, enquanto a área de pastagem aumentou 112% no mesmo período. A maior parte do desmatamento (67,4%) ocorreu em áreas de vegetação primária. Há uma esperança: pesquisas têm indicado que a Caatinga foi responsável por 50% do sequestro de carbono do Brasil em 2020. Sua resiliência e capacidade de retenção de carbono vale muito dinheiro em créditos de carbono, grande incentivo para a sua restauração e preservação.

 

O Cerrado

“Coração aquático do Brasil”, o Cerrado abriga as nascentes de várias bacias hidrográficas. Contudo, o bioma tem sofrido perda alarmante de água. São 30 piscinas olímpicas por minuto, segundo o estudo “Cerrado – O Elo Sagrado das Águas do Brasil”, da Ambiental Media. A principal causa é a expansão descontrolada do agronegócio, somada às mudanças climáticas. Entre 1970 e 2021, a vazão de segurança do São Francisco caiu 50%, passando de 823 m³/s para 414 m³/s. No mesmo período, a área de cultivo de soja na bacia aumentou em 7.082%, resultando na perda de 20% da vegetação nativa original.

 

A Mata Atlântica

A Mata Atlântica desempenha um papel importante na proteção das cabeceiras do Velho Chico. Um estudo recente revelou que, embora a Lei da Mata Atlântica, de 2006, tenha ajudado a frear o desmatamento, a maior parte do ganho de vegetação se deu na forma de pequenos fragmentos. Foi ganho 1 milhão de hectares desde 2005, mas em fragmentos com tamanho médio de um campo de futebol. Segundo o professor Jean Paul Metzger, da Universidade de São Paulo (USP), essas áreas pequenas não conseguem garantir a manutenção de relações ecológicas duradouras. O desmatamento segue sendo uma ameaça, especialmente por ocorrer em áreas de mata madura e por meio de licenciamentos questionáveis. Em 2024, a queda no desmatamento foi da ordem de 27%, graças ao aumento da fiscalização.

Uma bacia, três biomas. Diferentes ecossistemas se complementam em uma existência harmônica

 

COMPARATIVO DOS BIOMAS DA BACIA DO SÃO FRANCISCO

Caatinga Cerrado Mata Atlântica
Contribuição
para a bacia
Bioma exclusivamente
brasileiro, vital para a bacia
em seu percurso final.
“Coração aquático
do Brasil”, abriga as
nascentes e principais
afluentes do Rio
São Francisco.
Protege as cabeceiras
da bacia, mesmo em
pequenos fragmentos.
Principal
ameaça
Expansão da agricultura e
pastagens, resultando em
desertificação.
Expansão descontrolada
do agronegócio
exportador
(principalmente soja).
Perda de fragmentos
de mata madura,
apesar de queda no
desmatamento geral.
Impacto
na bacia
Degradação hídrica em
virtude da diminuição
da recarga de aquíferos
e aumento da erosão,
intensificando a
desertificação.
Perda de vazão devido ao
aumento da área de cultivo
de soja (7.082%), o que
causou queda de 50% na
vazão de segurança do rio
entre 1970 e 2021.
Fragmentação do
bioma não garante a
manutenção de relações
ecológicas duradouras.
Dados do
desmatamento
(2024)
Perdeu 14,4% de sua
vegetação nativa entre
1985 e 2023.
Concentra 53% de toda a
perda de vegetação nativa
do Brasil, com 82% da
devastação no Matopiba.
Desmatamento registrou
queda de 27% em
2024, mas a perda de
pequenos fragmentos é
preocupante.
Potencial
destaque
Grande potencial
econômico e
ambiental em créditos
de carbono, sendo
responsável por 50% do
sequestro de carbono
do Brasil em 2020.
Principal contribuinte de
água para a bacia do
São Francisco.
A Lei da Mata Atlântica
ajudou a frear o
desmatamento, e houve
um ganho de cerca de
1 milhão de hectares em
fragmentos desde 2005.

Assessoria de Comunicação do CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
Por Juciana Cavalcante
Fotos: Bianca Aun, Leo Boi e Manuela Cavadas