Revista CHICO nº10: Herança Bendita

07/01/2022 - 13:00

Já não se trata mais de especulação, mas de fato cientificamente comprovado: o relatório da ONU, elaborado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, mostrou um mundo à beira do abismo. Mais do que nunca, é preciso cuidar, revitalizar, proteger a natureza. Pensando nisso, a revista CHICO selecionou cinco tesouros do Velho Chico. Guardados por lei, são as chamadas Unidades de Conservação (UCs). No Brasil, existem hoje mais de 2.300 UCs, sendo que mais de 50 delas estão localizadas na Bacia do São Francisco.


Parque Nacional da Serra da Canastra

O Velho Chico já nasce majestoso, na Serra da Canastra, em Minas Gerais, conhecida pela exuberância de suas montanhas e por seus famosos queijos. Lá fica o Parque Nacional da Serra da Canastra, Unidade de Conservação Federal, criada em 1972, com a nobre missão de proteger o berço do São Francisco.

A área reúne a Serra da Canastra e a Serra das Sete Voltas. Bem no meio delas, o Vale dos Cândidos, um encontro perfeito, em meio a campos rupestres, manchas de Cerrado e matas de galeria. O parque tem uma biodiversidade preciosa, servindo de lar para animais ameaçados de extinção como o tamanduá-bandeira, o tatu-canastra e o lobo-guará.

Localizado no sudoeste de Minas, possui 71.525 hectares demarcados, envolvendo parte do território de São Roque de Minas e dos municípios de Sacramento e Delfinópolis. Guarda joias raras, como a cachoeira Casca D’anta, que impressiona com seus quase 200 metros de altura. Para vê-la de cima, é possível chegar ao mirante por meio de uma trilha considerada leve. No caminho, poços servem de degustação para o espetáculo apoteótico.

Outra dica é conhecer a Cachoeira dos Rolinhos. Dentro do Parque há um ponto de onde é possível se deleitar com a visão dessa que é a maior cachoeira da Serra da Canastra. Para acessá-la, só com guia e por uma trilha fora do Parque. A Cachoeira do Cerradão, com poços límpidos e convidativos, é também uma boa pedida. Não à toa, virou Reserva Particular do Patrimônio Natural.

Diversos traços culturais permanecem, a exemplo da arquitetura do século 19. A mineiridade desponta com força em São Roque de Minas, onde se pode apreciar o famoso queijo canastra e os doces caseiros, além do artesanato local. Entre os quitutes e a natureza, a região recebe muitos adeptos do turismo de aventura.

É bom saber: Normalmente, a entrada no Parque Nacional da Serra da Canastra só pode ser feita até às 16h00. A saída precisa ser até às 18h. Todo o acesso é feito por terra e é recomendado evitar o período chuvoso, quando as vias podem ficar comprometidas.

Como chegar: A portaria principal que dá acesso ao Parque está a de 8 km do município de São Roque de Minas. O local fica a 350 km de Belo Horizonte.


Refúgio da Vida Silvestre de Rio Pandeiros

Dá para estimar o valor natural e ambiental desse refúgio quando sabemos que ele é conhecido como pantanal mineiro ou pântano de Pandeiros. É o único pântano de Minas Gerais, por sinal. São extensas áreas alagadas, berçário natural de aproximadamente 70% dos peixes do Médio São Francisco.

Não à toa esse refúgio foi criado para conservar o conjunto de peixes da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco no Estado de Minas Gerais, em especial na região do Rio Pandeiros – área alagável e lagoas marginais. Além disso, ele abriga, no seu emaranhado de lagoas, uma enorme diversidade de aves, anfíbios, repteis e mamíferos.

O Refúgio está dentro da Área de Proteção Ambiental Pandeiros, abrangendo os municípios de Januária, Bonito de Minas e Cônego Marinho, no norte de Minas Gerais. O local é vital para a conservação da biodiversidade da área de drenagem e do próprio Cerrado, protegendo espécies migradoras no trecho da Bacia delimitado pelas barragens de Três Marias, no Estado de Minas Gerais, e Sobradinho, na Bahia. No total, são 6.102 hectares.

Nem só de contemplação vive quem passeia por ali. Com muitas cachoeiras, uma bem pertinho da outra, a região recebe turistas que se dedicam aos esportes de aventura, como caiaque, tirolesa, mountain bike, slackline, descidas com boias e botes.

É bom saber: A visitação ao Refúgio de Vida Silvestre de Rio Pandeiros está sujeita a restrições. Antes de ir, é preciso entrar em contato com a administração do local. Por lá, o turista vai encontrar restaurante, espaço para lazer, área de camping e, claro, natureza exuberante para ninguém botar defeito.

Como chegar: O Refúgio de Vida Silvestre de Rio Pandeiros fica a cerca de 600 km de Belo Horizonte. Para chegar, é preciso ir no sentido de Montes Claros, no Norte de Minas, que fica a 205 km do local. Depois, é preciso seguir para a região de Januária que, como vimos, reúne várias preciosidades de Minas Gerais.


Parque Nacional Cavernas do Peruaçu

O Parque Nacional Cavernas do Peruaçu é, sem dúvida, um lugar que surpreende. A Unidade de Conservação foi criada em 1999, com a proposta de proteger o valioso patrimônio geológico e arqueológico da região. São 180 cavernas e grutas monumentais, que mais parecem catedrais góticas.

Destaque para a Gruta do Janelão, com pinturas rupestres que, estima-se, datam de nove mil anos atrás. A galeria principal tem 100 metros de largura e altura, numa beleza colossal. É nessa gruta, inclusive, que está a maior estalactite do mundo. Chamada de Perna da Bailarina, ostenta 28 metros.

Vale destacar ainda a Lapa Bonita, a Lapa do Índio e a Lapa do Caboclo. A primeira, conhecida pelas grutas ornamentadas e pelo Salão Vermelho. A segunda, pelas pinturas rupestres que chegam a cobrir paredes inteiras. A Lapa do Caboclo reúne pinturas do estilo caboclo, que só são encontradas por lá.

Com 56.400 hectares, o parque fica no Norte de Minas Gerais, compreendendo os municípios de Januária, Itacarambi e São João das Missões. A luta hoje é para que o Parque Nacional do Peruaçu seja reconhecido pela UNESCO como patrimônio da humanidade.

É bom saber: O Parque está aberto à visitação durante todo o ano. O calor é presença constante, apesar de o local ser marcado por duas estações bem definidas. O turista que chegar por aquelas bandas poderá contar com um grupo de condutores ambientais treinados e credenciados pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

Como chegar: O aeroporto mais próximo é o de Montes Claros, a 200 km da entrada do Parque. A sede fica na comunidade do Fabião I, às margens da BR 135, km 155. A região fica a 662 km da capital mineira.


Monumento Natural do Rio São Francisco

Chamado de Mona, a Unidade de Conservação Monumento Natural do Rio São Francisco nasceu em 2009 e fica num dos trechos mais turísticos de toda a Bacia. Abrigada pela Caatinga e coroada pela beleza do sertão, é conhecida por suas formações rochosas às margens do Velho Chico. A cereja do bolo é o majestoso Cânion do Xingó.

Localizado entre Alagoas, Sergipe e Bahia, o Mona contempla os municípios de Delmiro Gouveia, Olho D´Água do Casado, Piranhas, Canindé do São Francisco e Paulo Afonso. A UC abarca 26.736 hectares, o
que corresponde a cerca de 50 km do São Francisco e seu entorno.

É rotina por lá catamarãs e lanchas com turistas. Todos querem conhecer de perto o quinto maior cânion do mundo, seus paredões rochosos milenares e suas águas cristalinas. Mergulhos em trechos delimitados fazem a alegria dos que querem se refrescar.

Um dos pontos altos do passeio é a possibilidade de, a partir de determinado ponto, embarcar numa jangada. O trajeto contempla a belíssima Gruta do Talhado, onde está cravada a tradicional imagem de São Francisco. Perto do meio-dia, o reflexo natural das luzes é um espetáculo a parte.

Já em terra, uma dica é conhecer Piranhas, a 285 km de Maceió. Margeada pelo Velho Chico, a cidade histórica tem beleza por todo canto e ganhou destaque por expor, nos anos 1930, as cabeças de Lampião e Maria Bonita.

É lá também que tem início a Rota do Cangaço, que te leva a caminhos percorridos pelos cangaceiros mais famosos da história. Essas possibilidades, claro, fazem do destino uma escolha ainda mais especial.

É bom saber: Tradicionalmente, os Cânions são acessados por Piranhas, em Alagoas, ou por Canindé do São Francisco, em Sergipe. As duas localidades oferecem passeios bate-volta, saindo das capitais, com almoço incluso. Mas, se puder pernoitar nas cidades próximas, melhor. Não faltam opções de hospedagem em Canindé e, principalmente, Piranhas que, como vimos, é um cantinho bem especial.

Como chegar: Se for para fazer bate-volta, ir por Aracaju é melhor. A distância da capital para Canindé do São Francisco é de cerca de 200 km. O percurso de Maceió para Piranhas é maior: em torno de 270 km. Nos dois casos há empresas que oferecem o passeio com guia.


Área de Proteção Ambiental de Piaçabuçu

Sol, praia, dunas brancas: poderia ser apenas mais uma das belíssimas praias do Brasil. Mas, em Piaçabuçu, o Velho Chico encontra o mar. Localizada no litoral de Alagoas, essa Unidade de Conservação Federal foi criada em 1983 e abrange dois municípios. Além de Piaçabuçu, Feliz Deserto. São mais de nove mil hectares de restingas, brejos, manguezais e áreas de matas remanescentes de floresta atlântica.

Uma das paradas mais buscadas por turistas, o Delta do São Francisco é cercado de coqueiros e piscinas naturais. Não por acaso, o lugar foi cenário do filme “Deus é Brasileiro”. A região abriga ainda a comunidade quilombola do Pixaim. As famílias vivem em casas itinerantes, uma vez que o movimento da areia transforma a geografia do local constantemente.

A praia de Piaçabuçu fica perto da Praia do Peba, local de desova de tartarugas marinhas que chama atenção por sua beleza paradisíaca. A presença constante de aves migratórias diversas dá o toque poético que faltava.

Quem ficar por mais tempo também poderá conhecer o Pontal do Coruripe, mais uma praia que faz jus à fama do litoral de Alagoas.

É bom saber: A Foz do Velho Chico fica pertinho de uma cidade histórica alagoana bem charmosa: Penedo. A arquitetura é linda e revela bastante sobre a história da região. Se você for fazer o passeio, considere a possibilidade de pernoitar por lá.

Como chegar: O Delta do São Francisco fica na divisa de Sergipe e Alagoas, no município de Piaçabuçu, a 130 km de Maceió. Para quem sai de Sergipe, a melhor forma de chegar à Foz do Rio São Francisco é pelo município de Brejo Grande, a cerca de 107 km de distância da capital.


As UC’s e o Velho Chico

As principais Unidades de Conservação que dialogam com o Rio São Francisco estão em Minas Gerais e Alagoas. Sobre essa relação, a gerente de Criação e Manejo de Unidades de Conservação do Instituto Estadual de Florestas (IEF), Fernanda Teixeira Silva, destaca que das 94 Unidades de Conservação estaduais de Minas Gerais, 50 estão localizadas no todo ou em parte na Bacia do São Francisco, abrangendo uma área de mais de 1 milhão de hectares.

Já o número de UCs em Alagoas é 90 no total, incluindo estaduais, municipais e federais. Dessas, cerca de 17 delas se localizam ou têm interferência direta na região da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco.

Quem explica é o Alex Nazário, consultor ambiental da Gerência de Fauna, Flora e Unidades de Conservação do Instituto do Meio Ambiente de Alagoas.

“As unidades de conservação garantem a preservação dos ecossistemas que sustentam o Velho Chico. As florestas situadas ao longo das margens do Rio melhoram a qualidade da água, protegem o solo contra as erosões, abrigam e alimentam a fauna e mantêm o clima, dentre tantos outros benefícios”, comenta Rafael Ferreira, editor do WikiParques, plataforma online dedicada às unidades de conservação brasileiras.


 

Assessoria de Comunicação CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
Texto: Andréia Vitório
Fotos: Evandro Rodney; Léo Boi; Marcelo Andrê; Pedro Vilela; Rui Faquini e Shutterstocker