Em meio à grave crise de abastecimento de água que afeta estados do sudeste do país, uma comunidade quilombola no oeste da Bahia comemora ações para melhoria da qualidade e quantidade da água que utiliza. Presente no seminário de início dos serviços de recuperação hidroambiental da bacia do rio das Rãs, importante afluente do rio São Francisco, a comunidade que leva o mesmo nome do manancial se mostrou receptiva com a chegada do projeto de iniciativa do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco – CBHSF. O evento foi realizado no último sábado (31.01), em Bom Jesus da Lapa, município baiano localizado a cerca de 900 quilômetros da capital Salvador.
Na oportunidade, o coordenador da Câmara Consultiva Regional (CCR) do Médio São Francisco, Cláudio Pereira, falou para aproximadamente 800 famílias que serão beneficiadas diretamente com as intervenções técnicas. “Queremos que a comunidade do rio das Rãs se conscientize da importância de preservar o rio. Ajudará no aumento da qualidade e quantidade das águas são-franciscanas”, disse Pereira. A localidade fica afastada do centro da cidade e é considerada o berço dos quilombos no país. “Aqui, foi o primeiro assentamento quilombola registrado no país. Vocês sempre foram lutadores por natureza. Essa é mais uma conquista não só para este quilombo, mas para tantos outros que estão situados nos arredores de Bom Jesus da Lapa”, finalizou Cláudio Pereira, que é residente do quilombo Lagoa das Piranhas, também no município.
Com recursos da cobrança pelo uso da água, o comitê de bacia investirá aproximadamente R$ 800 mil em serviços que priorizam o cercamento de 18 quilômetros de Áreas de Proteção Ambiental (APA), onde estão localizadas as principais nasce antes do rio das Rãs, além da adequação de estradas rurais, construção de 182 bacias de contenção pluviométrica (barraginhas) e ações de mobilização social e educação ambiental em torno das populações ribeirinhas. Os trabalhos terão duração de oito meses e serão executados pela empresa Localmaq Ltda, com sede em Montes Claros (MG).
Emanuel de Arcanjo Almeida, presidente da Associação Pastoral Quilombola do Rio das Rãs, acredita que cada morador terá que desempenhar o papel de fiscal da obra tendo em vista a efetivação dos serviços. “Somos nós quem iremos cuidar depois dela terminada”, explicou. Um dos objetivos do CBHSF é que, após o término da obra, a manutenção fique mesmo a cargo dos moradores contemplados. “Por ser um projeto demonstrativo, queremos que todos sejam contributivos nessa primeira etapa. Não podemos deixar para amanhã algo que deve ser feito de modo emergencial. Esse cuidado com o meio ambiente, principalmente com a água, precisa ser entendido por todos vocês, se tornando algo permanente. Não queremos chegar a situação atualmente vivenciada pelo Sudeste, não é mesmo!?”, indagou a mineira Maria do Carmo Brito e Silva, que veio ao encontro representando a AGB Peixe Vivo, agência delegatária do Comitê da Bacia do Rio São Francisco.
Corroborando com a sua fala, Simplício Arcanjo Rodrigues, uma das principais lideranças do quilombo Rio das Rãs e representante da Coordenação Regional dos Quilombos, destacou a importância das ações em prol do rio. “Precisamos olhar o hoje, para evitar um futuro ainda pior. A cada ano a situação deste rio se agrava. Temos que agir, caso contrário nem o homem dará jeito para salvar o Velho Chico”, exprimiu o líder quilombola.