Integrantes do projeto executivo de limpeza da Lagoa de Itaparica e convidados se reuniram nessa quarta-feira (3), de forma remota, para apresentação dos resultados parciais e alinhamento para os próximos passos.
O encontro contou com a participação de 68 pessoas, entre as quais representantes do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Agência Peixe Vivo, Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB), IBAMA, Prefeitura de Xique-Xique, representantes da comunidade local e técnicos da INOVESA, empresa responsável pela elaboração do projeto executivo. A iniciativa integra o plano de ação denominado “S.O.S Lagoa de Itaparica” e tem como objetivo a melhoria da qualidade ambiental daquela que é a principal lagoa marginal do Rio São Francisco.
Em 2017, quando a situação da Lagoa de Itaparica, em Xique-Xique(BA), foi classificada como desastre ambiental, com a mortandade de mais de 50 milhões de peixes, o CBHSF assumiu o compromisso de realizar o diagnóstico ambiental da lagoa e seu entorno. O documento foi concluído em 2019 e sinaliza 26 ações, incluindo a elaboração do projeto ora em curso. Ambos -diagnóstico socioambiental e projeto executivo – foram financiados com recursos oriundos da cobrança do uso das águas da Bacia Hidrográfica do rio São Francisco.
Em setembro de 2020, a INOVESA deu início aos trabalhos e desde então a equipe técnica da empresa está em campo realizando os levantamentos necessários para embasar tecnicamente o projeto de engenharia destinado à limpeza da lagoa, tais como previsão de serviços e orçamentária, indicação de local apropriado para destinação dos materiais removidos da lagoa e estudos ambientais. Até o presente momento, a empresa concluiu três produtos, já aprovados pela Agência Peixe Vivo: relatório de planejamento, levantamentos topobatimétricos e investigações geofísicas. Até março de 2021, outros quatro produtos serão entregues: estudos ambientais, projeto básico, projeto executivo e projeto de “bota-fora”.
A apresentação dos resultados parciais foi conduzida pela coordenadora técnica da equipe da INOVESA, Luciene Menezes, que destacou a contribuição de diferentes instituições para o conjunto de medidas que, desde 2017, vêm sendo tomadas em prol da Lagoa: “Nós, da equipe técnica, parabenizamos o grupo ‘S.O.S Lagoa de Itaparica’ e agradecemos o suporte oferecido pelo CBHSF, pela Prefeitura de Xique-Xique e pela comunidade local”.
O relatório de planejamento, concluído em setembro de 2020,incluiu mais de 60 coletas de campo, analisadas por uma equipe técnica multidisciplinar. Foram produzidos mais de cem ensaios de água, sedimentos, fauna e flora, contribuindo, assim, para geração de conhecimento científico sobre a lagoa e seu entorno. Durante a reunião do dia 3 também foram apresentados, com riqueza de detalhes técnicos, os resultados dos levantamentos topobatimétricos e das investigações geofísicas sobre a Lagoa. Tais etapas foram concluídas, respectivamente, em novembro e dezembro do ano passado.
Renata Jordan, geógrafa integrante da INOVESA, apresentou resultados parciais dos estudos ambientais, divididos em três grandes eixos: meio físico, meio biótico e meio socioeconômico. Esse produto inclui, entre outras, análises sedimentares do fundo da lagoa, estudos sobre as dinâmicas das cheias e secas e investigações sobre a biota aquática da Lagoa de Itaparica. Nessa etapa, foi destacado o problema da grande quantidade de macrófitas na localidade, espécies invasoras que ameaçam a biodiversidade, sendo recomendada a remoção ordenada e o manejo adequado dessas espécies.
O sociólogo Marcos da Costa Martins, da equipe técnica da INOVESA, discorreu sobre a importância histórica da lagoa para a ocupação da região e apresentou os resultados dos questionários qualitativos aplicados com moradores dos povoados localizados no entorno da lagoa, dentre os quais Alto Rio Grande, Pedra Vermelha, Buriti, Santo Inácio, Estreito e Saco dos Bois. De acordo com Martins, através desses questionários foi possível identificar um vasto acervo cultural e patrimonial, incluindo bens arqueológicos, presente nessas comunidades. Entre as demandas apresentadas pela população local estão a construção de hortas comunitárias e o maior aproveitamento do potencial extrativo da carnaúba.
O coordenador da Câmara Consultiva Regional (CCR) Médio São Francisco, Ednaldo Campos, ressaltou a importância de mobilizar a comunidade local através de ações de educação ambiental: “É necessário um trabalho de fortalecimento comunitário e gestão territorial para que as medidas que estamos providenciando tenham efeitos duradouros e a lagoa seja recuperada da melhor forma possível”. Anivaldo Miranda, presidente do CBHSF, enfatizou a importância do conhecimento científico e do desenvolvimento tecnológico para a solução de problemas socioambientais: “Muitos de nós tínhamos algumas intuições sobre quais eram as causas dos problemas da Lagoa de Itaparica e agora, com esse estudo mais denso, sabemos em qual direção ir, temos embasamento científico para propor soluções”.
A expectativa é que, concluído o projeto executivo de limpeza da lagoa, além das intervenções concretas indicadas pelo documento, seja elaborado um plano de ação voltado para o reestabelecimento do equilíbrio entre a lagoa e a dinâmica do Rio São Francisco, para o qual a lagoa é fundamental. Atualmente, a recuperação da Lagoa de Itaparica é um dos principais projetos em curso do CBHSF e já sinaliza avanços importantes nesse generoso pedaço do sertão baiano.
Assista a reunião dos resultados parciais do projeto para a realização da limpeza da Lagoa de Itaparica:
Assessoria de Comunicação CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Mariana Carvalho
*Fotos: Kel Dourado