O Plano de Recursos Hídricos da Bacia do São Francisco foi alvo de debate durante o XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos, realizado no final de novembro, em Brasília. O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco marcou presença, especialmente no Painel do São Francisco, espaço criado pela entidade para propiciar discussões e motivar contribuições ao Plano de Bacia, que vem sendo executado desde o início deste ano e tem previsão de ser finalizado no primeiro semestre de 2016
O XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos, realizado no final de novembro, em Brasília, foi de grande importância para o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco. A entidade teve enorme destaque na programação do evento, integrando mesas de debates e painéis para a difusão da causa ambiental, em prol deste que é o maior rio genuinamente brasileiro.
O Plano de Recursos Hídricos da Bacia do São Francisco ganhou notoriedade durante o Simpósio. No Painel do São Francisco, espaço criado pelo CBHSF, o estudo foi alvo de discussão com especialistas de todo o Brasil, sempre prevendo melhorias. O Plano de Bacia vem sendo executado desde o início deste ano e tem previsão de ser finalizado no primeiro semestre de 2016.
Na ocasião, o diretor da Nemus Consultoria, empresa responsável pela execução dos trabalhos, Pedro Bettencourt, apresentou ao público o cenário mais preocupante até 2035 para a retirada da água na bacia. “Os próximos anos serão de grandes mudanças nos balanços hídricos do São Francisco”, disse, ao apontar a possibilidade da vazão de captação chegar a 1.073 m3/s. “A transposição representaria 8% desse valor”, acrescentou.
Para tanto, sugeriu que após a conclusão do documento sejam aplicadas medidas para conter problemas que têm deteriorado a qualidade da água em várias partes do rio, especialmente por conta dos esgotos e do uso intensivo da indústria e agricultura. “É essencial aumentar o conhecimento técnico sobre a bacia, assim como melhorar a governança entre os órgãos da bacia e desenvolver trabalhos de educação ambiental”, frisou.
Melhoria do sistema
O presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, Anivaldo Miranda, voltou a cobrar, durante o evento, uma melhor gestão das águas do País. Para ele, a eficácia na gestão dos recursos hídricos vai desde o fortalecimento dos comitês de bacias até a mudança na operação das usinas hidrelétricas instaladas ao longo do território do rio São Francisco.
“Hoje, o que vemos é uma falência no sistema de recursos hídricos do Brasil. Será preciso repensar o modelo de operação desses reservatórios. As empresas de geração de energia não podem ser o usuário hegemônico. São os usos múltiplos que necessitam se adaptar à bacia como unidade de planejamento, e não o contrário”, lembrou.
Miranda contou que essas recorrentes restrições têm alertado para o aparecimento de um novo problema. “O fantasma da qualidade da água do rio. Os prejuízos causados por uma mancha de algas entre Alagoas e Sergipe, no Baixo São Francisco, inviabilizando a captação de água na região, foi um dos exemplos. Precisamos ter uma agenda estratégica a médio e longo prazo, a fim de que o São Francisco se prepare para o futuro. Não podemos viver apenas a lógica da demanda, onde todos retiram água, muitas vezes de forma ilegal. Temos que pensar na lógica da oferta”, disse.
Em sua fala, Miranda recordou ainda que os trabalhos de atualização do Plano de Recursos Hídricos deverão agregar todas as sugestões dos atores da bacia, caso contrário, “a orquestra continuará desafinada”, numa referência ao desconhecimento de muitos órgãos sobre o trabalho, que teve investimentos de aproximadamente R$7 milhões. “Trata-se de um estudo da bacia, não do Comitê”, ressaltou.
O presidente do CBHSF também afirmou que será necessário investir principalmente no conhecimento técnico-científico dos Comitês. “Conhecimento é poder. E o CBHSF tem a obrigação de deter esses conhecimentos. São eles que determinarão as escolhas políticas de crises hídricas que ainda estão por vir”, pontuou. Por fim, reiterou a necessidade da assinatura do decreto de criação do Conselho Gestor de Revitalização da Bacia do São Francisco, de posse da Casa Civil da Presidência da República.
Pesquisadores preparam Simpósio
Durante programação do XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos aconteceu a III Reunião do Fórum Permanente de Pesquisadores da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco. Na oportunidade, os docentes discutiram os detalhes do I Simpósio da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (SBHSF), previsto para acontecer em Petrolina (PE), às margens do Velho Chico, em junho de 2016.
A intenção é reunir pesquisadores e acadêmicos de todo o Brasil para apresentação de estudos que contemplem a maior bacia genuinamente brasileira, hoje debilitada pela marcante degradação ambiental. Atualmente, oito universidades federais, todas com atuação na bacia, já integram o Fórum, proposto inicialmente pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco. “Nosso objetivo é que outras instituições possam se juntar a nós, não sendo elas obrigatoriamente estabelecimentos de ensino superior”, disse Melchior Carlos do Nascimento, representante do CBHSF no Fórum.
Até o momento, já está confirmada a participação de representantes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB), Universidade Federal do Oeste Baiano (UFOB), Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e Universidade Federal de Sergipe (UFS). Anteriormente, os docentes já haviam se reunido em Maceió (AL) e Salvador (BA).
AGB Peixe Vivo apresenta estudo
O assessor técnico da AGB Peixe Vivo, agência delegatária do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Thiago Campos, apresentou também durante o Simpósio um estudo para a seleção de projetos que visam a melhoria de área de recarga hídrica, especialmente no rio das Velhas, em Minas Gerais, um dos maiores contribuintes de água para a bacia do São Francisco.
Um dos objetivos, segundo ele, é definir a aplicação correta dos recursos da cobrança pelo uso da água. “Onde teremos resultados de maior retorno hídrico”, explicou durante a sessão. Vale lembrar que desde 2012 o CBHSF vem investindo recursos em projetos que priorizam o aumento da qualidade e quantidade da água de pequenos cursos d’água dos estados de Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe. Ao todo, 38 obras hidroambientais já foram executadas pela entidade.
ASCOM – Assessoria de Comunicação do CBHSF
*Esta matéria foi veiculada no Jornal Notícias do São Francisco nº 37. Para ler o jornal completo, acesse.