Pesquisadores alertam sobre os impactos da possível construção da UHE Formoso para a bacia do Velho Chico

23/11/2020 - 15:55

Pesquisadores de diferentes instituições do Brasil, somando 10 profissionais diferentes, publicaram uma carta que alerta sobre os possíveis impactos da construção da usina hidrelétrica (UHE) Formoso para a conservação de peixes e também da manutenção do pescado.

O documento foi publicado na revista científica Aquatic Conservation: Marine and Fresh water Ecosystems, da plataforma Wiley, em outubro de 2020, com o objetivo de dar visibilidade internacional às questões da construção da UHE Formoso na bacia do Velho Chico e, assim, aprofundar o debate.

A barragem da UHE Formoso será construída na faixa superior final do trecho de escoamento livre do Rio São Francisco e afetará uma área de cerca de 100 km em comprimento entre os municípios de Três Marias e Pirapora (MG). O trecho é reconhecido como Rio Estadual de Preservação Permanente (Minas Gerais, 2004), devido à sua extrema importância biológica, principalmente para a conservação de peixes.

A área é importante tanto para a conservação da ictiofauna quanto para a proposta de criação de Área de Proteção Ambiental (APA) que, se criada, abrangerá todo o segmento não fragmentado para garantir a sustentabilidade de seus recursos naturais.

A pesquisadora de pós doutorado da área de Ecologia e Conservação da Universidade Federal de Lavras, Ruanny Casarim, apontou que a instalação da UHE naquele local pode aumentar o risco de extinção de algumas espécies. “Com a construção da UHE Formoso, o único trecho livre do Rio São Francisco que é protegido por lei será modificado. Os pulsos de cheia do rio também sofrerão mudança e passarão a ser regulados o que prejudicará não só os peixes como toda a cadeia que a espécie sustenta. Estamos chamando a atenção da comunidade internacional para o fato de que ao construir a UHE Formoso o Brasil estará deixando de conservar a biodiversidade e os corpos d’água, descumprindo assim, a convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica, da qual é signatário”, esclarece.

Sendo assim, a carta conclui que “a construção da barragem de Formoso seria um revés crítico para a iniciativa de conservação mundial e uma indicação clara de que infelizmente o Brasil não prioriza alguns de seus recursos naturais mais valiosos”.

Danos

A carta dos pesquisadores informa que “a transformação do trecho lótico em reservatório destruirá uma área central de desova utilizada pelos maiores peixes migradores de interesse comercial da bacia. Como exemplo pode-se citar o dourado, surubim, curimbas, piau-verdadeiro e matrinxã. Além disso, a região contém uma significativa população remanescente de pirá, que é uma espécie endêmica e reofílica ameaçada de extinção”.

O documento também mostra que a UHE Formoso pode levar a mudanças na composição de espécies, favorecendo a introdução, disseminação e estabelecimento das que não são nativas, aumentando a abundância das não comerciais e reduzindo drasticamente a captura de peixes migratórios. Sendo assim, a barragem de Formoso vai prejudicar as comunidades pesqueiras tradicionais da área, tanto social quanto economicamente.

Leia a carta na íntegra 

 

Assessoria de Comunicação CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Luiza Baggio
*Foto: Léo Boi