O III Simpósio da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco abordou, nesta quarta-feira (16/12), questões relacionadas à biodiversidade e requalificação ambiental na bacia do rio São Francisco. O evento está em sua terceira edição e tem como tema “A importância da Ciência para o futuro do Rio São Francisco”.
A programação teve início com a mesa-redonda “Preservação e Recuperação da biodiversidade na BHSF” que contou com a moderação do professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), Julianeli Tolentino, bem como apresentações da representante do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Maria Rita de Cascia Barreto Netto, do professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Ícaro Thiago Andrade Moreira e do professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Marcos Callisto.
O palestrante Marcos Callisto abriu a mesa-redonda apresentando os conceitos de bioindicadores e como o monitoramento participativo é um exercício de cidadania. “Os macroinvertebrados bentônicos têm sido amplamente utilizados como bioindicadores de qualidade de água e saúde de ecossistemas por serem organismos sensíveis a diferentes concentrações de poluentes no meio, fornecendo ampla faixa de respostas frente a diferentes níveis de contaminação ambiental”, explicou.
O professor da UFMG mostrou também que o monitoramento de rios urbanos por estudantes de escolas públicas e privadas, em parceria com universidades, é uma ferramenta eficaz para melhorar o ensino de ciências, aumentar a participação social e proteger os serviços ecossistêmicos fornecidos pelos cursos d’água. Trata-se do monitoramento participativo de riachos nas bacias hidrográficas dos rios Paraopeba e das Velhas, realizado por meio de índices biológicos e multimétricos adaptados para aplicação fora dos laboratórios da UFMG.
“Demonstramos, por meio de estudos científicos bem fundamentados, que jovens estudantes podem ser treinados para usar metodologias simplificadas e, assim, avaliar a qualidade ambiental e monitorar a condição das águas urbanas”, disse o pesquisador que acredita que a modalidade pode ser aplicada na bacia do Rio São Francisco.
Maria Rita de Cascia Barreto Netto apresentou o Plano de Ação Nacional para Conservação de Espécies Ameaçadas da Fauna Aquática do Rio São Francisco (PAN São Francisco). “O Plano teve início em 2015 e finaliza o primeiro ciclo este ano. O PAN São Francisco tem como objetivo geral aprimorar o conhecimento sobre as espécies ameaçadas e mitigar as atividades impactantes, promovendo a conservação e a recuperação da fauna aquática da bacia do rio São Francisco, em cinco anos”.
O PAN São Francisco abrange e estabelece estratégias prioritárias para oito espécies de peixes ameaçados de extinção segundo as categorias: 1) Criticamente em Perigo, 2) Em Perigo e 3) Vulnerável. As espécies são: Barrigudinho, Cambeva, Cascudo do Mutuca, Pirá, Lambari, Picamão, Pirapitinga e Mandi-bagre.
Ícaro Moreira mostrou soluções sustentáveis integradas para a recuperação de biodiversidade de rios impactados. O palestrante apresentou o exemplo dos impactos causados pelo derramamento de óleo na região da foz do rio São Francisco, em 2019 e a utilização de métodos biotecnológicos de remediação. “O que fazemos é usar organismos vivos para remover os poluentes do ambiente. Não adianta só tirar a poluição visual, é preciso eliminar os compostos invisíveis, como benzeno, tolueno e xileno, ou no mínimo diminuir a presença deles. Aí entra a biotecnologia, com diferentes indicações para cada ambiente”, esclareceu Ícaro Moreira.
Para os casos em que o petróleo já se dissolveu na água, a indicação é utilizar microalgas que se alimentam do carbono contido nas substâncias tóxicas, o que elimina tais substâncias e a consequente contaminação.
Assista a mesa-redonda:
Recuperação de áreas Degradadas
O professor da Universidade de São Paulo (USP), Ricardo Rodrigues, apresentou palestra com o tema “Recuperação de Áreas Degradadas: Restauração Ecológica”.
O palestrante mostrou que, em função de questões legais e ambientais, a restauração de áreas degradadas tem se concentrado principalmente no ambiente ciliar. Apesar das matas ciliares estarem protegidas pela legislação há quase meio século, grande parte dessas florestas foram degradadas de forma semelhante ao que ocorreu com as outras formações naturais.
“Propomos estratégias diferentes de aplicação da legislação ambiental no Brasil, principalmente na bacia do São Francisco, visto que cada região tem um estado de degradação e das condições socioeconômicas do proprietário rural. Considerando o Velho Chico, observamos que a bacia continua sem um planejamento ambiental e agrícola, mesmo após a legislação de 2012. Não adianta recuperar áreas, e continuar degradando outras. Devemos recuperar áreas que foram degradadas no passado. Não podemos continuar degradando, com a justificativa de recuperação futura”, disse.
Ricardo Rodrigues apresentou a sequência de cinco esforços para a restauração ecológica: 1) proteger e recuperar (manejo) a vegetação nativa remanescente; 2) definir estratégias distintas de restauração, considerando o custo de efetividade; 3) propiciar renda na restauração ecológica, usando espécies que tragam retorno econômico e áreas que provem serviços ecossistêmicos e assim retorno econômico para o proprietário rural; 4) integrar questões ambientais, como restauração com as questões de produção agrícola na propriedade rural – Adequação Ambiental e Agrícola de propriedades rurais e 5) projetos elaborados e desenvolvidos que sustentem boas políticas públicas nacionais, estaduais, regionais e locais.
Assista a palestra:
O III SBHSF é uma realização do Fórum das Instituições de Ensino e Pesquisa da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (FIENPE), em conjunto com o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) e da Agência Peixe Vivo. O evento está sendo transmitido pelo canal do Comitê no Youtube.
Assessoria de Comunicação CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Luiza Baggio