Com o objetivo de suprir a geração de energia para os dois principais canais (Eixo Norte e Eixo Leste) da transposição das águas do rio São Francisco, o projeto de construção de duas novas usinas hidrelétricas na região do Submédio São Francisco ganhou força na pauta da última reunião do ano de 2014 da Câmara Consultiva Regional do Submédio São Francisco, instância colegiada do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco – CBHSF. A reunião foi realizada na manhã de ontem (03.12), em Salgueiro (PE).
As barragens de Riacho Seco (240 megawatts), no município baiano do Curaçá, e de Pedra Branca (320 megawatts), em Orocó, Pernambuco, caso sejam efetivamente construídas, realocarão aproximadamente 12 mil habitantes dos dois estados nordestinos, causando um extremo impacto social e ambiental na região. “Se saírem do papel, as represas inundarão áreas de diversas comunidades, ilhas e assentamentos. Prejudicar a vida de milhares de pessoas para gerar apenas 560 megawatts de energia?”, indagou o membro titular do CBHSF, Almacks Luiz, durante a palestra feita aos moradores e autoridades locais de Salgueiro (PE), um dos municípios beneficiados com as obras da transposição.
O drama será similar aos das populações das cidades de Remanso, Casa Nova, Sento Sé e Pilão Arcado, todos na Bahia, alagadas pelas águas de Sobradinho, na década de 70. Os estudos indicam ainda que as águas represadas por essas duas novas barragens atingirão comunidades de Abaré, Curaçá e Juazeiro, na Bahia; Petrolina, Santa Maria da Boa Vista, Lagoa Grande, Orocó e Cabrobó, em Pernambuco. Essa foi a segunda vez que o membro titular do CBHSF alertou sobre os perigos da construção das barragens. A primeira aconteceu em agosto de 2014, na reunião da câmara realizada em Curaçá (BA).
Almacks Luiz defendeu em sua fala que, caso não se pense na revitalização do Velho Chico, não haverá água para abastecer as obras da transposição, inviabilizando o projeto que prevê a garantia de água até 2015 para cerca de 12 milhões de pessoas dos estados de Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba. “O Comitê não é contra a transposição, o comitê é a favor da revitalização. Para podermos colocar água no rio, precisamos cuidar do nosso Velho Chico. Se hoje tivéssemos a transposição pronta, não teríamos água para jorrar, nem energia para gerar”, denunciou, em alusão à situação crítica que o Velho Chico vive diante da prolongada seca que castiga toda a bacia hidrográfica.
Para ele, repensar a mudança energética da bacia é um ponto crucial que ajudará na diminuição da demanda pelo consumo das águas são-franciscanas. “Utilizar a oferta da energia eólica do rio São Francisco, a exemplo dos parques de Jacobina, Juazeiro, Casa Nova ou Morro do Chapéu, todos municípios localizados no estado da Bahia, vai gerar duas vezes ou até mais o que se prevê que as duas novas usinas hidrelétricas produzirão”, disse, em referência ao fato de 90% da geração de energia do Nordeste ser proveniente das águas armazenadas nas hidrelétricas do São Francisco.
ASCOM – Assessoria de Comunicação do CBHSF