Durante a manhã desta quarta-feira (05), os membros da Câmara Técnica de Águas Subterrâneas do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CTAS/CBHSF) participaram da primeira reunião ordinária do ano, por meio de videoconferência, para, entre outros assuntos, discutir os resultados dos estudos sobre a contribuição do Aquífero Urucuia para o rio São Francisco e dar início à análise do “Estudo do Potencial Hídrico da Região Oeste da Bahia: Quantificação e Monitoramento da Disponibilidade dos Recursos do Aquífero Urucuia e Superficiais nas Bacias dos rios Grande, Corrente e Carinhanha”, realizado pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a fim de verificar se atende as demandas do CBHSF quanto à avaliação do potencial de exploração dos recursos hídricos subterrâneos e interdependência rio/aquífero na bacia.
A reunião foi aberta pelo coordenador da Câmara Técnica em exercício, Dercio Pereira, lembrando sobre a importância de avançar nos estudos do aquífero Urucuia, fundamental para bacia do São Francisco, e abrindo as discussões para a eleição do novo coordenador e secretário da CTAS, tendo sido escolhidos o professor João Pedro da Silva Neto e Dercio Pereira, respectivamente.
Em seguida, o professor Roger Dias Gonçalves apresentou o estudo sobre a “Contribuição do aquífero Urucuia para o rio São Francisco”, que apontou a queda dessa contribuição do aquífero para o Velho Chico em 49%, desde a década de 1980. “O papel do aquífero é ainda mais importante para o rio São Francisco nos períodos de estiagem. Estudos já apontam que, embora a bacia esteja passando nos últimos anos por períodos de cheia, há indícios de que nos próximos anos ocorra novo período de estiagem que pode ter uma longa duração”, alertou.
Considerando a dinâmica do aquífero que tem variações desde a sua precipitação, o que impacta diretamente em seu potencial de recarga, o pesquisador indica que há uma necessidade de acompanhamento efetivo considerando o desafio do monitoramento dos recursos hídricos e validação das hipóteses utilizadas pelos cálculos atuais, o que torna fundamental o sensoriamento remoto no entendimento da dinâmica da bacia. O pesquisador ainda aponta que em escala regional e com intenso uso, especialmente agrícola, ao estudar a recarga do aquífero deve-se observar a variação climática, no tempo e espaço, em fatores naturais e induzidos, e a influência por mudanças no uso e cobertura do solo.
Em julho do ano passado, o CBHSF apresentou o resultado do estudo contratado para avaliar o conhecimento existente sobre a utilização das águas na área de influência do aquífero. Na época, o documento apontou que os usos destinados à irrigação constituem mais de 90% de toda a água outorgada nas bacias dos rios Carinhanha, Corrente e Grande, equivalente a 121,72 m³/s de volume total outorgado para essa finalidade. Em seguida, as maiores retiradas são voltadas à dessedentação animal, com 2,1% (1,196 m³/s), e ao abastecimento humano, com 1,6% das retiradas (0,937 m³/s). Neste caso, as projeções para o ano de 2035, mostram que pode haver um aumento de aproximadamente 50% nas demandas da irrigação, o que também leva o consumo total a aumentar na ordem de 50%. Já para o ano de 2050, a previsão é elevar para 65% o consumo da irrigação nas bacias do Grande e Corrente, e de mais de 156% na bacia do rio Carinhanha, concentrado principalmente nas sub-bacias Alto Carinhanha, Itaguari e Do Meio. O estudo indicou que, nesse cenário, as demandas no Grande superariam em aproximadamente 17,6 m³/s as vazões outorgadas atualmente. Nas projeções para 2050, o consumo total subterrâneo projetado é de 26,201 m³/s, valor que se aproxima do dobro das captações atuais. Desse total, 63% seriam utilizados exclusivamente para irrigação, porcentagem essa que aumenta para 89%, se considerados o consumo humano, irrigação e uso não definido.
“A gente entende que esse é o papel principal da CTAS – avaliar, estudar e alertar sobre a importância das águas subterrâneas, a exemplo do Urucuia, responsável por contribuir significativamente para a manutenção da vazão do rio São Francisco. Precisa se pensar na gestão destas bacias e entender que todos devem ter acesso a essas águas, garantindo quantidade e qualidade. É uma ação necessária e que precisa ser rápida, no sentido de garantir a permanência dessas águas”, afirmou o membro da CTAS, Chang Hung Kiang.
O coordenador da CTAS lembrou sobre a importância dos estudos e de colocá-los de imediato em prática. “Estudos são muito importantes no sentido de nos embasar de conhecimento sobre as deficiências e acredito que já estamos no momento de colocar tudo isso em termos práticos visando preservar o aquífero como forma de assegurar, agora, a sua existência. Devemos sair com proposições já nesse sentido”, afirmou.
Análise de nova proposta de estudo
Conforme previsto pelo Plano de Aplicação Plurianual (PAP), o CBHSF pretende desenvolver estudos que avaliem o potencial de exploração dos recursos hídricos subterrâneos e interdependência rio/aquífero na bacia, com objetivo de atender demandas hidro geológicas sub-regionais, em áreas específicas, incluindo a elaboração de balanço hídrico integrado entre águas subterrâneas e superficiais no domínio do aquífero Urucuia, na região oeste do estado da Bahia, em divisa com os estados de Tocantins, Goiás, Minas Gerais e Piauí. O objetivo é conhecer os limites de vazão considerados seguros, nos pontos de vista ambiental e de segurança hídrica, para a exploração de água nos domínios do aquífero Urucuia (superficial e subterrânea), possibilitando atender os parâmetros de vazões mínimas de referência nas bacias dos rios Grande, Corrente e Carinhanha.
O gerente de projetos da Agência Peixe Vivo, Thiago Campos, lembrou que no ano de 2020, foi publicado um trabalho técnico-científico intitulado “Estudo do Potencial Hídrico da Região Oeste da Bahia: Quantificação e Monitoramento da Disponibilidade dos Recursos do Aquífero Urucuia e Superficiais nas Bacias dos rios Grande, Corrente e Carinhanha”, financiado com recursos do Programa para o Desenvolvimento da Agropecuária do Estado da Bahia (PRODEAGRO), elaborado pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e a Agência Nacional de Águas (ANA), durante auditoria de rotina realizada na entidade delegatária – Agência Peixe Vivo, recomendou ao CBHSF a não realização do investimento e o remanejamento de recursos para outras ações previstas no Plano de Aplicação Plurianual – PAP 2021-2025.
Para verificar então se o estudo atende aos questionamentos do CBHSF, a Diretoria Colegiada solicitou à CTAS uma avaliação do trabalho executado pela UFV e pela UFRJ, para verificar se o trabalho esclarece as dúvidas do CBHSF para a gestão de recursos hídricos sustentável nos domínios do aquífero Urucuia e se responde aos anseios do CBHSF no sentido de se conhecer os limites de vazão considerados seguros, nos pontos de vista ambiental e de segurança hídrica, para a explotação de água nos domínios do aquífero Urucuia (superficial e subterrânea), possibilitando atender os parâmetros de vazões mínimas de referência nas bacias dos rios Grande, Corrente e Carinhanha.
Dando seguimento a avaliação dessa demanda, ficou agendada uma nova reunião ainda no final deste mês que deve dar os encaminhamentos necessários.
Assessoria de Comunicação do CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Juciana Cavalcante
*Foto: Bianca Aun