Irrigantes do Submédio São Francisco capacitados para o manejo da irrigação, mesmo vivendo próximo à água, sofrem com escassez

17/06/2024 - 14:30

Seguindo com o programa de capacitação para o manejo da irrigação na bacia do São Francisco, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco realizou, através da empresa Água e Solo, a capacitação nas cidades do Submédio, Sobradinho- BA e Floresta – PE. O curso aconteceu nos dias 11 a 14 e atendeu a novos 60 irrigantes.


Cada município tem a sua particularidade. Em Sobradinho, por exemplo, local que abriga um dos maiores espelhos de água do mundo devido ao represamento das águas do Velho Chico, de acordo com estudo de pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), foi identificada a existência de forte pressão sobre as áreas de vegetação ciliar e de vegetação primária, para a implantação de projetos agrícolas, assentamentos rurais e implantação de chácaras, “estimulando a degradação dos solos e vegetação, cujo fenômeno está ligado à ausência de um manejo adequado e problemas de salinização e perda da camada superficial do solo”.

Já no município de Floresta é onde se inicia o eixo Leste da transposição do Rio São Francisco. Na região, cortada por quase 90 km de canal, as famílias, muitas reassentadas devido à obra que desapropriou e as indenizou, embora vivam às margens do canal, não podem usufruir da água. Também em Sobradinho, nas áreas de sequeiro, a água não chega e plantar se torna um desafio que necessita de técnicas de irrigação.

É o caso de Rosalia Vieira de Araújo, que é pescadora e pretende começar uma pequena produção de frutas. “Nossa família tem um pequeno lote onde queremos produzir, mas fica em uma região de sequeiro, ou seja, a água é pouca, então vim com uma prima e uma cunhada participar da capacitação para aprender como manejar a terra com pouca água. Queremos plantar frutas, fazer uma horta e por isso queremos aprender para trabalhar e conseguir bons resultados já fazendo as coisas da forma certa desde o início”.

O secretário de Agricultura e Meio Ambiente do município de Sobradinho, Wilys Nunes, reforçou a importância da capacitação e agradeceu a parceria com o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco. “Esse é um momento muito importante que vai possibilitar aprender novas técnicas. Agradecemos ao Comitê por essa atividade e que possamos replicar em outros momentos porque estamos abertos ao aprendizado para melhorar a produção com o enfoque ambiental, usando bem a água, cuidando do solo e reduzindo a utilização de fertilizantes”, afirmou.


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O analista da Agência Peixe Vivo, Maurício Oliveira, destacou que a capacitação é realizada pelo terceiro ano consecutivo e cumpre uma função importante de educação ambiental. “Pelo terceiro ano o curso é realizado com sucesso e esperamos que esse conhecimento seja replicado com seus vizinhos, amigos, de forma que a gente consiga atingir os objetivos de ter água em quantidade e qualidade”.

No município de Floresta – PE, o secretário de Produção Rural, Meio Ambiente e Recursos Hídricos, João Berto de Sá, explicou que a região tem um grande potencial devido a quantidade de água do rio São Francisco, do rio Pajeú, e do Riacho do Navio, semiperenizados, e o canal da transposição. “O Cláudio tem grande preocupação com uso racional da água e recuperação da bacia, por isso a capacitação vem para nossa região, para orientar o pequeno agricultor sobre o uso da água de forma correta e racional. Temos assentamentos ao longo do canal da transposição onde estão iniciando atividades da agricultura irrigada que vão precisar de outorga, mas que hoje não podem tirar um ‘caneco’ de água, por isso precisamos reunir esforços para que essas famílias tenham acesso à água para consumo humano e produção”.

O coordenador da Câmara Consultiva Regional do Submédio São Francisco, Cláudio Ademar, reforçou a importância do curso como busca ativa para garantir a preservação dos recursos hídricos. “O sentido do curso tem a ver com a proteção ambiental e o cuidado com os recursos hídricos e o Comitê entende que todos estão integrados: água, povo, solo, e por isso precisamos cuidar desse bem que acham ser infinito, mas, ao contrário, ele pode acabar. No São Francisco já se percebe a diminuição na extensão do rio devido ao assoreamento e a qualidade da água é fortemente afetada. Então, esse programa de capacitação é contínuo e todos os anos iremos promover essa atividade em diferentes municípios com o objetivo de que as pessoas sejam multiplicadoras pensando na eficiência hídrica. Isso significa que ao proporcionar essa oportunidade, o CBHSF está ajudando o São Francisco, a terra e as comunidades ribeirinhas”, pontuou.

Já a vice-prefeita de Floresta, Bia Numeriano, reforçou a parceria do município com o CBHSF. Em novembro de 2021 o Comitê financiou e entregou o Plano de Saneamento Básico e, em 2023, a cidade foi a primeira na região do Submédio que, estando fora da calha, recebeu a campanha Eu Viro Carranca para Defender o Velho Chico, reforçando a importância das regiões afluentes. “Estamos em mais um momento importante, possibilitando ao pequeno agricultor que possa produzir de forma sustentável com cuidado com a água. Temos essa discussão com o Comitê ao longo dos anos. No ano passado, sediamos a campanha Eu Viro Carranca Para Defender o Velho Chico, um grito de socorro pelo Rio. Também recebemos o plano de saneamento básico e após uma longa batalha aprovamos na câmara de vereadores o plano que se tornou lei, e este é mais um espaço de dialogar sobre o que o Rio São Francisco e seus afluentes representam para a gente, demonstrando que precisamos cuidar hoje para ter amanhã, para nossos filhos e netos”.

Agricultora desde os 13 anos, aos 74 Lindomar Feitosa da Silva disse que pela primeira vez participou de uma capacitação sobre o manejo da irrigação. “É a primeira vez que participo de uma capacitação e foi muito proveitoso. Meu pais eram agricultores, então a agricultura está desde sempre na família, comecei aos 13 anos e acho que tudo que vi e aprendi aqui vai me ajudar muito. Já vou replicar o teste de solo em casa, o que vai me auxiliar no manejo”, afirmou a agricultora que cultiva feijão, milho, abóbora, hortaliças para consumo da família e para a venda local. Ela ainda destacou que é uma das famílias reassentadas da transposição e hoje reside há 350 metros do canal, mas por não poder utilizar a água, usa um poço artesiano. “Nunca tirei água do canal, não pode, por isso abri o poço que é nossa alternativa, a gente vive disso. Já foi o tempo que carreguei lata d’ água na cabeça, e nessa idade ainda ter que fazer isso, não dá”.

A presidente de uma das associações de agricultores, Verailde Ferraz, afirmou que luta há anos solicitando do Governo Federal o acesso à água da transposição para a região que sofre com longos períodos de estiagem, mas até o momento não teve resposta. O coordenador do Conselho de Desenvolvimento Rural Sustentável, Manoel Joaquim da Silva, concluiu: “Essa é uma das nossas grandes demandas, capacitar os produtores ao longo do canal da transposição que mesmo com água na porta não podem usufruir e precisam de conhecimento para fazer o manejo das suas produções com pouca água. Por isso o curso foi muito importante contando com representantes das diversas associações para que possam replicar esse aprendizado. Agradecemos ao Comitê pelo curso e a gente que é da roça pede; que venha mais para treinar outros que também ficaram interessados”.


Assessoria de Comunicação do CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Juciana Cavalcante
*Foto: Juciana Cavalcante