Pela primeira vez desde janeiro de 2012 as comportas da UHE Três Marias, no rio São Francisco, foram abertas de forma parcial, para o vertimento de água.
As fortes chuvas que têm caído em Minas Gerais, onde nasce o Rio São Francisco, estão contribuindo para aumentar o volume de água no chamado rio da integração nacional. No reservatório de Três Marias o volume útil já passa de 94%, de acordo com o relatório do último dia 03 de março, divulgado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Por isso, a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) abriu, no dia 28 de fevereiro, parte das comportas da usina. A operação está prevista para durar 15 dias.
Com isso, o volume do Rio São Francisco tende a aumentar ao longo do seu leito. Em Sobradinho, a usina hidrelétrica armazena 50% do volume útil. Quem sobrevive do Velho Chico está animado com a chegada de mais água. O representante da Associação dos Proprietários Condutores de Barcos da Ilha do Rodeadouro, Israel Barreto, diz que a situação de navegabilidade melhorou bastante no último ano. “Faz um ano que as embarcações conseguem navegar com maior segurança e a gente sente mais tranquilidade. Devido ao longo período de estiagem que vivemos nos últimos tempos, passamos a dispor de dois portos, um para período seco e outro para quando o Rio se recupera e tem mais água. Hoje usamos os dois e com a expectativa da chegada de mais água, estamos felizes porque melhora ainda mais as condições de navegação”, afirmou.
Assista ao vídeo sobre a abertura das comportas:
A Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf) emitiu um alerta importante para esse período sobre a ocupação irregular das margens do rio. Leia o trecho da carta circular (Chesf N° 17/2019 disponível no site da Chesf) encaminhada às entidades e usuários da Bacia do São Francisco em 26/11/2019: “…apesar do longo período de baixas vazões vivenciado na Bacia do São Francisco, desde o ano de 2013 até o presente ano de 2020, a prudência nos faz alertar, em caráter preventivo e com o objetivo de mitigar possíveis impactos da elevação de vazões, caso venha a ser necessária durante o período úmido em curso, para a importância e necessidade da adoção de medidas por parte das entidades envolvidas, em cumprimento ao seu papel institucional, inclusive com relação à conscientização da população de que o controle de cheias exercido pelos reservatórios é limitado, devendo, portanto, ser fortemente evitada a ocupação de áreas situadas nas planícies de inundação”.
Antes disso, em 2018, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) realizou, em parceria com a ANA, ONS, Defesa Civil Nacional e de Minas Gerais e CEMIG, reuniões públicas para tratar sobre a prevenção quanto aos possíveis impactos das cheias na bacia do Rio São Francisco. Apesar de enfrentar uma severa crise hídrica na bacia do São Francisco, o CBHSF alertou para os possíveis impactos das cheias da bacia, ocasionadas principalmente por ocupações irregulares em áreas de proteção permanente (APP) e também pelas condições de assoreamento e degradação do rio.
Para adaptar o Sistema Hídrico do Rio São Francisco a esse contexto hidrometeorológico e promover a segurança hídrica da região em situações de normalidade e em períodos de escassez hídrica, a Resolução2.081/2017, da Agência Nacional de Águas (ANA),estabelece faixas de operação que definem as defluências a serem praticadas nos reservatórios de Três Marias, Sobradinho e Xingó. Desde o período úmido entre 2012 a 2013, a Bacia do Rio São Francisco apresentou quadro hidrológico de baixa hidraulicidade, o que motivou a ANA e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) a autorizarem a Chesf a reduzir gradativamente, desde abril de 2013, a vazão de restrição mínima dos reservatórios de Sobradinho e Xingó, de 1.300 m³/s para 550 m³/s. Atualmente o reservatório de Sobradinho vem liberando vazões da ordem de 800 m³/s.
Em reunião de Acompanhamento das Condições de Operação do Sistema Hídrico do Rio São Francisco, coordenada pela ANA, realizada no último dia 02 de março, ficou definido que Três Marias praticará defluência de 1.270 m³/s no período de 02 a 10/03, reduzindo para 650 m³/s no período de 11/03 a 30/04/2020, e o reservatório de Xingó praticará defluência média mensal de 1.000 m³/s em março e 1.100 m³/s no mês de abril.
Ao final do período úmido, a partir de 30 de abril, conforme apresentado pelo ONS,a perspectiva de armazenamento para os reservatórios de Três Marias e Sobradinho, são respectivamente de 100% Volume Útil e 66% Volume Útil. “Embora tenha havido uma melhora no volume dos reservatórios, a exceção de Três Marias, que se encontra praticando vertimento, não há ainda indicativo de elevação dos valores das vazões defluentes atuais, uma vez que os demais reservatórios se encontram com volumes abaixo do volume de espera definido para o período”.
Geração de energia
A Chesf informou ainda que o atendimento energético à região Nordeste está assegurado com a utilização dos recursos energéticos disponíveis: geração hidráulica, térmica, eólica, solar e intercâmbio através de linhas de transmissão de interligação do Nordeste com outras regiões do país.
“Cabe ressaltar que mesmo com a melhora do volume dos reservatórios mencionados, tendo em vista a situação ainda crítica de armazenamento, não há previsão, no momento, de aumento de geração nas usinas do Rio São Francisco operadas pela Chesf. A prioridade é executar a operação de forma coordenada, de modo a aumentar os níveis de armazenamento dos reservatórios a fim de fazer frente aos múltiplos usos da água da região da Bacia do São Francisco que depende do armazenamento, principalmente, do Reservatório de Sobradinho, pulmão do Submédio e Baixo São Francisco”, concluiu.
Assessoria de Comunicação CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Juciana Cavalcante
*Imagens: Léo Boi