A 6ª edição da Expedição Científica Baixo São Francisco, idealizada pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), terminou na última quinta-feira (30), em Penedo (AL), e já deixa saudade para os 66 expedicionários e demais integrantes da equipe que percorreram cerca de 250 km do baixo Velho Chico durante o período de dez dias em busca de mais conhecimentos acerca deste importante rio.
A solenidade de encerramento ocorreu no Teatro Sete de Setembro, que fica situado no Centro Histórico da cidade, e teve em sua frente de honra o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Maciel Oliveira, Márcia Silva, chefe de gabinete da vice-reitoria da Ufal, na oportunidade representando a reitora em exercício Eliane Cavalcanti, Emerson Soares, coordenador da Expedição, Ronaldo Lopes, prefeito de Penedo, representando os prefeitos do Baixo São Francisco, Gabriela Cota, assessora ambiental do Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA), representando o diretor-presidente do IMA, Gustavo Lopes, Alcides Tenório, superintendente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em Alagoas, Capitão Tenente Azevedo, Agência Fluvial de Penedo/Marinha do Brasil, Leonea Santiago, coordenadora da Secretaria Nacional de Esporte Amador, Educação, Lazer e Inclusão Social, do Ministério do Esporte (MESP), Luiz Mello, da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), do Prefeito de Propriá (SE), Valberto Lima, Amélia Fernandes, superintendente da Secretaria do Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Alagoas (SEMARH) e Antônio Jackson, membro do CBHSF e doutor Honoris Causa pela UFAL.
Pouco antes de serem iniciadas as falas dos representantes ocorreu a apresentação do artista Will Soares, juazeirense, que trouxe um pouco da realidade do Velho Chico por meio de sua performance poética e seus trajes que remetem às embarcações, a carranca e ao rio São Francisco. Após interagir com os expedicionários no teatro ele se despediu e arrancou aplausos de todos. O cerimonialista pediu, logo em seguida, um minuto de silêncio em homenagem ao Toinho Pescador, que se converteu em aplausos a ele, um escritor que era ativista ligado à preservação do Velho Chico. Ele faleceu aos 91 anos em novembro de 2022.
Durante toda a expedição foi realizado um trabalho de dedicação e amor à profissão por parte dos 120 integrantes que se debruçaram sobre pesquisas, análises, visitas às comunidades, muito conhecimento, aprendizado, ciência, educação ambiental e orientação. Centenas de dados importantes foram colhidos nas cidades de Piranhas (AL), Pão de Açúcar (AL), Traipu (AL), São Brás (AL) Propriá (SE), Igreja Nova (AL), Penedo (AL), Piaçabuçu (AL), Foz do rio São Francisco (AL) e Brejo Grande (SE).
Antônio Jackson iniciou a sua fala cumprimentado e agradecendo aos representantes presentes na frente de honra e pontuou: “Essa solenidade foi iniciada de uma forma brilhante. O artista Will Soares nos levou a uma navegação imaginária pela margem do rio. Todos nós da expedição nos sentimos embarcados, dando adeus, chorando, observando, cumprindo a nossa missão, a missão da 6ª Expedição Científica. Esta expedição trouxe para o nosso Baixo São Francisco o conhecimento, mas acima de tudo trouxe voz para o povo barranqueiro”. Ele ainda parabenizou especificamente os professores Emerson Soares e José Vieira pela iniciativa.
Maciel Oliveira saudou os representantes e todos os expedicionários e comentou sobre a homenagem recebida na abertura do evento. “Fiquei verdadeiramente emocionado com a homenagem que recebi e só tenho a agradecer, pois quando estes dois sonhadores idealizaram a expedição não tinham apoio e, graças ao trabalho de vocês a expedição só cresceu e eu tenho muito orgulho de ter, desde o princípio, o Comitê como um dos apoiadores. Desde a primeira edição apoiamos a Expedição Científica e nunca deixamos de investir nesta bela ação. Os expedicionários, aos poucos, estão levando saúde, educação ambiental e outros apoios aos ribeirinhos. Os relatórios colhidos a cada ano vão colaborar para que a gente consiga, através de políticas públicas, soluções para preservar o rio São Francisco. Parabéns ao Emerson Soares, José Vieira, Themis Silva e demais integrantes da expedição”, disse o presidente do CBHSF, Maciel Oliveira.
Oliveira acrescentou que enquanto estiver na presidência todos que integram a expedição podem contar com o apoio do Comitê. “É a união de todos os esforços para a manutenção dessa expedição que traz não somente o conhecimento, mas muda a história e a realidade do Baixo São Francisco”.
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Márcia Silva, chefe de gabinete da vice-reitoria da UFAL, representou a vice-reitora, Eliane Cavalcanti. Ela agradeceu à universidade, aos professores que coordenaram a expedição e aos expedicionários. “Este projeto transforma vidas, não só de quem nos recebe, pois fomos realmente bem acolhidos, mas as nossas. Retornamos para nossas atividades diárias com outro pensamento, outra reflexão, outro entendimento sobre a realidade dos ribeirinhos. Agradecemos ao barco da saúde, em especial. Fizemos atendimento de saúde, com exames, bem como odontológico, e realizamos diversas ações nas comunidades. Diante de tanto trabalho feito com carinho e dedicação, espero que tenhamos virado carrancas”.
Em um discurso emocionado, Emerson Soares, coordenador-geral da Expedição do Baixo São Francisco, iniciou agradecendo a todos pelo papel que cada um desempenhou para que o evento acontecesse, como nas escolas, povo ribeirinho, prefeituras, bandas locais, pescadores. Emerson declarou que o trabalho realizado pela equipe não foi fácil dadas as adversidades, mas os expedicionários se dedicaram em suas pesquisas. “A expedição deste ano foi a maior devido à quantidade de participantes e nestes seis anos saiu de um apoio de 50 mil reais para um aporte de milhões de reais, o que foi importante para a execução de trabalhos relacionados aos cuidados com o rio São Francisco e população ribeirinha. O papel dessa expedição visa a qualidade do ambiente e a saúde da população. Durante esse tempo foram 40 computadores doados às escolas rurais, cerca de 30 datashows entregues, livros, jogos escolares, materiais esportivos. Além disso, tratores foram doados e outros projetos tiveram suas execuções em prol das comunidades”.
Dados preocupantes
Soares ressaltou que o trabalho feito pela equipe da expedição abrangeu 35 linhas de pesquisa, como a educação ambiental, pesca, socioeconomia, ictiofauna, análise de água e de metais pesados, assoreamento, dentre outras. Na oportunidade, a expedição também repassou seus conhecimentos para mais de 100 mil salas de aulas em outros países, e isso mostra a importância do trabalho que vem sendo reconhecido internacionalmente. “O que mais importa para os pesquisadores é que os resultados dos estudos cheguem a quem precisa”, disse.
Segundo o coordenador-geral da expedição infelizmente há muitos resultados que não são alentadores, pois o desmatamento aumentou nas áreas marginais, nas nascentes, as lagoas marginais estão sendo urbanizadas, os índices de doenças estão altos, como é o caso de diabetes, ancilostomíase, esquistossomose, alguns problemas ligados diretamente à qualidade da água. Além disso, os níveis de agrotóxicos encontrados na água são preocupantes e nós precisamos agir. O rio não pode esperar, diante de tudo que vem acontecendo, com as estiagens que podem vir, e é preciso ter cuidado porque os problemas se acumulam e vários deles foram encontrados dentro da água”, pontuou Emerson Soares.
Soares comentou, ainda, que o rio não pode mais esperar e que ficou muito feliz em saber que Penedo, em Alagoas, está com um projeto para ser executado, o esgotamento sanitário. “O saneamento precisa ser concretizado o mais breve possível porque o rio está em uma situação crítica. Em breve iremos disponibilizar o relatório com os resultados de forma detalhada. Precisaremos do governo federal, estadual e municipal para mudar essa realidade”.
Durante o encerramento da expedição, assim como na abertura, foi informado que a expedição dará uma pausa estratégica para avaliar os últimos seis anos das ações e tudo que foi reunido nos relatórios. A intenção será a melhoria da qualidade ambiental e social do rio São Francisco. “Ocorrerá um grande seminário em 2024 para reavaliar todas as edições da Expedição Científica Baixo São Francisco. A voz somos nós e é necessário que cada um faça sua parte. Precisamos de políticas públicas que possam salvar o Velho Chico. Essa expedição não é da universidade, mas do povo e das 30 instituições que fazem parte desse trabalho. O protagonismo é de cada um de vocês, gratidão pela dedicação, apoio esforço e trabalho”, finalizou.
Sobre os dados prévios relacionados a 6ª edição da Expedição Científica, estes serão divulgados em breve. Clique aqui e confira o vídeo de encerramento do evento!
Assessoria de Comunicação do CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Deisy Nascimento
*Foto: Deisy Nascimento