Energias renováveis, Crédito de Carbono… caminhos para frear as mudanças climáticas

16/11/2023 - 16:05

Com as temperaturas já elevadas a 1,3°C, próximo do que se considera seguro para a humanidade que é, no máximo 1,5°C, o mundo tem registrado rotineiramente recordes de ondas de calor e a previsão é de que piore. De acordo com a Organização Mundial Meteorológica (OMM) as temperaturas globais devem bater taxas recordes nos próximos cinco anos por causa dos gases do efeito estufa e do fenômeno El Niño. Um relatório divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU) há cinco meses afirmou que há uma probabilidade de 66% da média anual de aquecimento ultrapassar 1,5°C entre 2023 e 2027.


Doutor em energética, o físico Heitor Scalambrini destaca que não há mais dúvidas de que os modos de vida da humanidade e seu consumismo é um dos principais contribuintes para a emergência climática. “Por algum tempo se questionava a relação de consumo da humanidade como causa do aquecimento global, mas não há mais nenhuma dúvida por parte da ciência sobre a relação de impacto do nosso modo de se relacionar e viver no planeta. Estamos diante de um desafio nunca posto à humanidade quanto às mudanças climáticas. Os gases que causam o aquecimento global, como o CO2, têm aumentado sua concentração tornando-se um risco à vida na Terra, onde já vemos o aumento da temperatura em 1,3°C próximo ao limite que é de 1,5°C e com isso, problemas como tornados, tempestades, enchentes, altas temperaturas acontecem cada vez mais”, reforçou.

De acordo com Scalambrini, dados já comprovam que no Brasil, um dos cinco maiores emissores de gases de efeito estufa (GEEs), o maior fator contribuinte é o desmatamento com prevalência na região do MATOPIBA, que se estende pelos territórios do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. A atividade agrícola, de acordo com dados apresentados pelo especialista, responde por 70% das emissões, os outros 30% correspondem às fontes não renováveis como petróleo e derivados, gás natural e carvão mineral.

As informações foram apresentadas durante a reunião da Câmara Consultiva Regional do Submédio São Francisco em Afogados da Ingazeira.

No Matopiba, de acordo com levantamento, a agropecuária aumentou 14 milhões de hectares, chegando a 25 milhões de hectares em 2022, equivalentes à 35% do território. Além de um novo arco de desmatamento em polos de forte expansão agrícola localizado no oeste da Amazônia, fronteira entre Amazonas, Rondônia e Acre, conhecida como Amacro, onde a atividade agropecuária teve um aumento de 5,3 milhões de hectares nos últimos 38 anos, equivalente a 21% da área do território.

“É nesse contexto que discutimos as energias renováveis, que não somos contra, mas estão seguindo um modelo que não deu certo. A energia eólica, terceira fonte na matriz elétrica nacional, tem 85% dos complexos no Nordeste. São 916 parques em 12 estados com projeções de um aumento vertiginoso e entre as preocupações estão os seus efeitos”, explicou Scalambrini, que ainda reforçou: “Não existe energia limpa do ponto de vista físico, da ciência. Trata-se de um termo incorreto porque qualquer ação gera impactos”.

De acordo com o físico, os problemas das novas fontes de energia se avolumam e entre eles destaca-se a ausência do Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA). “Somente se apresenta o relatório ambiental simplificado e com isso as populações rurais são diretamente impactadas pela supressão de vegetação, além de problemas com a alteração no nível hidrostático do lençol freático, impactos sonoros e efeitos eletroboscópios, que é a projeção das pás causando sombras nas casas e propriedades o que provoca problemas emocionais”, relatou.

Além disso o especialista ainda cita o deslocamento das populações, destruição dos modos de vida de populações tradicionais, expropriação de terra e pagamentos irrisórios aos arrendados, desrespeito a áreas de conservação, nascentes e área de comunidades tradicionais.


Heitor Scalambrini conduziu apresentação na CCR Submédio SF


Já a energia solar, segunda maior fonte da matriz, totaliza mais de dois milhões de ligações à rede elétrica, sendo 70% da geração doméstica e 30% de usinas solares instaladas com maior prevalência no nordeste brasileiro onde o desmatamento da Caatinga cresceu mais de 20%, sendo o terceiro bioma mais destruído em 2022 com um aumento de 22,2% em relação a 2021. Cerca de 140 mil hectares foram desmatados de acordo com o Instituto Nacional do Semiárido (INSA) e 85% do Semiárido está em processo de desertificação moderada. 9% está efetivamente desertificado, tornando o processo de reversão praticamente impossível. “A proposta para frear esse cenário é priorizar a produção descentralizada de energia e realizar o zoneamento territorial”.

Crédito de carbono

Com o objetivo de promover o enfrentamento às mudanças climáticas, o crédito de carbono destaca qualidades sociais, biológicas, hidrológicas e energéticas para pessoas que preservem áreas de vegetação nativa da Caatinga, incorporando mecanismos de justiça climática e contribuindo de maneira efetiva para a regeneração do Rio São Francisco.

Criado há poucos anos, o Consórcio de Crédito de Carbono do Semiárido possibilita a experiência da Associação dos Produtores de Carbono Social do Bioma Caatinga que visa a inclusão de pequenas propriedades com certificação acessível e participativa e atende ao conceito Bio-Sócio-Hidro-Energético gerando renda para pequenos proprietários de terras.

Para participar, o presidente da Associação, Haroldo Oséias de Almeida, explica que o proprietário precisa preservar de modo contínuo a área disponível para o crédito de carbono social por 20 anos após a primeira venda e se comprometer a regenerar possíveis áreas degradadas em sua propriedade.

A iniciativa que tem conexão com o Plano de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco já conta com apoio do Centro Brasil no Clima, Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Alagoas, Fórum Alagoano de Mudanças Climáticas, Colegiado Territorial do Alto Sertão, Projeto HidroSinergia, universidades, SEBRAE, ICMBio, entre outras instituições.


Confira mais fotos da reunião da CCR Submédio, na qual foi realizada a apresentação:


Alternativas de convivência e preservação

Na busca de preservar o Semiárido, diversas ações se destacam. A Associação Moringa Brasil, por exemplo, apresenta a moringa como uma alternativa de baixo consumo de água na nutrição animal que também deve ser cada vez mais sustentável contribuindo com a preservação ambiental.

A moringa oleifera é uma planta da família moringaceae, mais conhecida por moringas, ou ainda acácia-branca, árvore-rabanete-de-cavalo, cedro, moringueiro e quiabo-de-quina.

De acordo com a associação, a planta serve de modo eficiente e sustentável como uma alternativa de baixo consumo de água e redução da dependência de ração.


Assessoria de Comunicação do CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Juciana Cavalcante
*Fotos: Bianca Aun; Juciana Cavalcante