A Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) promoveu, na manhã da última terça-feira (01/12), a videoconferência mensal que tem como objetivo discutir as condições hidrológicas da bacia do Rio São Francisco. Na oportunidade, representantes do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN) apresentaram os relatórios com previsões para o mês de dezembro de 2020.
Mas, antes dos representantes da ONS e do CEMADEN apresentarem os dados, o superintendente de Operações e Eventos Críticos da ANA, Joaquim Gondim, informou que esta reunião marca a transição das regras e a situação dos principais reservatórios do país. “É uma reunião onde a solidariedade hídrica para o Sul, Sudeste e Centro-Oeste do país precisou ser solicitada, por isso a importância da realização de uma operação especial para corroborar com estas regiões”.
O técnico do ONS trouxe uma apresentação sobre as Curvas de Segurança para os reservatórios da UHE Três Marias e UHE Sobradinho para o ano hidrológico 2020-2021. Na construção das curvas são definidas as sequências hidrológicas críticas afluentes naturais a ambos os reservatórios. Para cada início de mês, considerou-se em relatório um final de horizonte seis meses à frente, de modo que foram adotadas as séries de seis meses mais críticas de cada mês em diante.
“A curva de segurança é uma tecnologia já usada há vários anos que dá uma segurança a mais no sistema. É uma proteção adicional para os reservatórios”, explicou Joaquim Gondim.
O ONS apresentou ainda a avaliação das condições hidrológicas e de armazenamento na bacia do rio São Francisco. Dentre os pontos citados na videoconferência estavam a contextualização da situação energética do SIN 1, usinas hidroelétricas da bacia do rio São Francisco, operação dos principais reservatórios, previsão das condições hidrológicas e perspectivas para a operação da bacia do rio São Francisco até o final de dezembro de 2020. É importante destacar a Operação Especial no São Francisco, onde o ONS propôs a adoção, em dezembro de 2020, das defluências máximas (médias mensais) de 750 m³/s pela UHE Três Marias, e de 2750 m³/s pela UHE Xingó. A utilização desses limites das defluências dependerá das necessidades de atendimento eletroenergético do SIN, bem como da geração eólica no Nordeste e dos limites de intercâmbio para os outros subsistemas, em conformidade com o art. 18 da Resolução ANA 2.081/2017.
O representante do CEMADEN apresentou a situação das chuvas dos últimos 30 dias, bem como mostrou que nos próximos sete dias há uma boa perspectiva de chuvas para a UHE Três Marias, tudo dentro da média histórica e pouca precipitação. O técnico citou também que haverá mais chuva no setor de Minas Gerais e de menor proporção na Bahia. A previsão média para os próximos 10 dias é de 345 m³/s em Três Marias. Em relação à projeção de vazão, de acordo com o modelo hidrológico PDM, será de 1181 m³/s de dezembro de 2020 a março de 2021 para Três Marias.
Segundo o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Anivaldo Miranda, a situação da maioria dos reservatórios é a pior em 90 anos, somando o conjunto de todos os reservatórios. “Apesar da situação dos reservatórios do Nordeste ser melhor, pois está acima de 50%, a soma do volume dos outros reservatórios indica que o Brasil está passando em sua pior fase”, pontuou.
Miranda ressaltou que esta é uma circunstância a ser encarada com muita seriedade do ponto de vista das suas causas. “Inclusive é um outro fator que merece atenção. Este fenômeno deve ser visto num horizonte mais amplo, ou seja, devemos nos perguntar sobre as causas dessa situação nas outras regiões, visto que nas regiões de muita pluviosidade, vem de forma recorrente apresentando volumes baixos em sua capacidade de reservação de água. É preciso estudar quais são os reflexos dos incêndios florestais, devastação, degradação dos biomas, efeitos do aquecimento global. Todos esses problemas geram a desestabilização dos regimes de chuvas nos territórios brasileiros. Não podemos ficar só constatando e contornando esse fato sem estabelecer um debate mais profundo acerca do problema. O sistema é integrado e não é a primeira vez que o Nordeste transfere energia. Quando o Nordeste precisa, também recebe. Agora, evidentemente que em dezembro vão ser suspensas as curvas de segurança, é uma excepcionalidade, devido à crise do sistema nacional. Do ponto de vista da bacia do São Francisco, iremos acompanhar com muita atenção, no âmbito do Comitê, conforme as regras estabelecidas para a operação dos nossos reservatórios”, finalizou.
A próxima reunião está marcada para o dia 5 de janeiro, a partir das 10h. Esta videoconferência que avalia as condições hidrológicas da bacia do Velho Chico ocorre na sede da Agência Nacional de Águas, em Brasília (DF) e é transmitida para os estados da bacia. Desta reunião participam o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), usuários, governo, irrigantes, entre outros.
Assessoria de Comunicação CBHSF:
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*Texto: Deisy Nascimento