El Niño coloca bacia do São Francisco em alerta mais uma vez

10/07/2023 - 11:55

Atendendo uma demanda do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), a empresa Água e Solo, contratada através da Agência Peixe Vivo, participou da 6ª reunião de acompanhamento das condições de operação do Sistema Hídrico do Rio São Francisco realizada pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), no início de junho.


O objetivo foi preparar o sétimo relatório de apoio técnico à tomada de decisão, junto à Diretoria Executiva do CBHSF, na Sala de Situação do Rio São Francisco, contemplando detalhadamente o relato do assessoramento técnico com as principais considerações sobre a situação hídrica do rio São Francisco, com ênfase nos seus múltiplos usos.

Já vivenciando o período seco na bacia do rio São Francisco, onde as chuvas são mais escassas, este ano o mundo volta a ficar sob a influência El Niño, fenômeno que impacta diretamente o clima da terra e reduz os volumes de chuva no nordeste brasileiro. O Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN) indicou que a previsão do fenômeno, que ocorreu pela última vez entre 2019 e 2020, mas com ação fraca, desta vez possa provocar índices severos não apenas neste período seco, mas também no próximo período úmido. O último episódio com intensidade forte foi registrado em 2016 a 2017, quando a bacia do São Francisco viveu seu pior período de estiagem.

“O fenômeno El Niño de alta intensidade já provoca alterações no regime pluviométrico regional e as previsões apontam que seus impactos devem permanecer até o início do próximo período chuvoso, o que representaria uma redução nos volumes de água disponíveis na região”, afirmou o relatório de acompanhamento.

De acordo com o Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), a expectativa é que o fenômeno se firme no oceano Pacífico neste mês de julho com intensidade moderada a forte, provocando impactos climáticos globais no segundo semestre deste ano e durante o verão de 2023-2024. Por isso deve se tornar decisivo para alterar os padrões climáticos. Especificamente nas regiões brasileiras, os impactos podem ser bem mais graves, provocando muita chuva no Sul do país e seca intensa no Nordeste.

“Os indicadores oceânicos mostram que no período de novembro deste ano a março de 2024, o fenômeno estará em seu ápice e, desta vez, com águas aquecidas em toda a extensão do Pacífico equatorial. Com isso, haverá alteração no padrão de chuvas e temperaturas para o Brasil, no inverno deste ano e ao longo de todo o primeiro semestre do ano que vem”, afirma o meteorologista Humberto Barbosa. De novembro a março é o período úmido na bacia do São Francisco.

O fenômeno acontece pela quarta vez dentro do período acelerado de aquecimento global. “A questão é que agora há um agravamento maior do processo de mudança climática. Hoje, a temperatura média da Terra está bem maior do que no El Niño de 1998, isso em razão dos níveis de dióxido de carbono e outros gases de efeito estufa na atmosfera”, explica o meteorologista.

Como normalmente, um evento de El Niño forte costuma aumentar a temperatura da Terra em até 0,2 °C, associado às ações humanas de impacto ambiental, altas temperaturas já têm sido registradas em todo o mundo, o que provoca estado de alerta quanto aos rumos da humanidade. De acordo com especialistas, o ano de 2016 foi o mais quente já registrado na história, em parte por causa do forte evento El Niño, mas, o ano de 2023 pode superar os recordes de temperaturas.

“Para regiões como o Nordeste brasileiro, esses eventos extremos se traduzem em secas prolongadas, aumentando a degradação ambiental e a dramática desertificação. Outro fator que influencia fortemente nas secas no Semiárido brasileiro são as temperaturas da superfície do Atlântico Sul, principalmente do Nordeste. Quando essas águas estão mais frias do que a média histórica, próximo à costa, essa condição interfere no padrão de chuvas da região”, acrescentou Barbosa.

Armazenamento de água nas hidrelétricas



Represa de Três Marias, em Minas, está com quase 94% de seu volume útil, número importante


Com uma situação mais confortável, os reservatórios do Brasil conseguiram se recuperar da última grande estiagem registrada na região Sudeste, responsável pelo abastecimento de 70% do país. Na bacia do São Francisco, após vivenciar dois anos seguidos de cheia – 2022 e 2023 – as hidrelétricas de Três Marias e Sobradinho armazenam 93,62% e 78,07% do seu volume útil, de acordo com a última atualização do Operador Nacional do Sistema (ONS), em 05 de julho.

O presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, Maciel Oliveira, destacou a importância de estar atento a esse novo momento com foco em assegurar os múltiplos usos. “Apesar de estarmos em uma situação inicialmente confortável, do ponto de vista hidrológico dos níveis dos reservatórios, nossa preocupação, enquanto Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco com a presença do El Niño, é que possamos ter a gestão dessas águas para que não voltemos a àquele grande caos da última crise hídrica onde chegamos ao patamar de vazão de 500 m3/s, causando enormes prejuízos sociais, ambientais e econômicos. Então, o Comitê vai acompanhar a sala de situação para que sejam garantidos os usos múltiplos das águas para todos os usuários da bacia, claro, considerando esse novo fenômeno do El Niño”, concluiu.


Assessoria de Comunicação do CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
Texto: Juciana Cavalcante
Fotos: Bianca Aun; Leo Boi