Engenheiro agrônomo, com especialização em ecologia e meio ambiente, Adson Ribeiro, recém-eleito coordenador da CCR Alto São Francisco, é membro do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco desde 2010, onde também integra a Câmara Técnica de Outorga e Cobrança (CTOC). É secretário o CBH Paracatu e agricultor irrigante no noroeste de Minas Gerais. Para ele, os desafios de estar à frente da CCR são muitos, mas com o apoio de todos e trabalhando em conjunto com os CBHs Afluentes, é possível superá-los.
Quais são os principais desafios para a gestão das águas na região do Alto São Francisco?
Um dos grandes desafios é a situação das represas de rejeitos de mineração, de como será enfrentado este problema, o que deverá ser feito para que a legislação seja cumprida e o que melhorar nas leis de modo a evitar novas tragédias. Mas temos outros desafios também. Nossa região é uma das principais “produtoras” de água do São Francisco. Precisamos atuar significativamente na preservação e recuperação de nascentes e de cursos d’água, no armazenamento racional de água, na gestão dos usos, principalmente na indústria, mineração e agricultura, de modo a ter uma utilização racional e sustentável da água. Precisamos também buscar um ambiente propício para a pesca, turismo, manutenção de nossas comunidades tradicionais e principalmente para o uso humano. No norte de Minas, área com maior índice de aridez, temos que buscar soluções juntamente com os CBHs Afluentes para minimizar os efeitos de déficits hídricos.
Como e quando começou a sua atuação no CBHSF?
Comecei minha atuação como membro suplente no CBHSF em 2010, representando a Associação da Bacia do São Pedro, de Paracatu (MG). Nesta Associação já trabalhávamos a gestão da nossa bacia, para administrar conflitos pelo uso da água e manter o rio com sua vazão residual determinada por lei. Assim, percebi a importância que teria um Comitê na gestão de uma bacia hidrográfica. Já há dois mandatos atuo como membro titular do CBHSF e membro da CTOC. Antes disto, já atuava como membro do CBH Paracatu, sempre interessado em questões hídricas e no uso racional da água, principalmente no setor de irrigação.
O rompimento da barragem da Vale colocou o rio Paraopeba em estado de coma e ameaça contaminar o Velho Chico. Quais serão as consequências disso?
Estamos acompanhando de perto esta questão, analisando os dados enviados pelos órgãos oficiais que estão fazendo o monitoramento da água no Rio Paraopeba, não havendo, até a presente data, de acordo com análises apresentadas por estes órgãos, contaminação do lago de Três Marias. Como não sabemos se haverá contaminação do lago, e em havendo, qual será o seu nível, não podemos mensurar no momento quais as consequências totais em danos ambientais, sociais e econômicos. Mas com certeza danos já ocorrem, principalmente com relação às atividades pesqueiras e de turismo, já arcando com prejuízos econômicos, além da insegurança, da preocupação e apreensão da população, de usuários de irrigação, e dos setores anteriormente citados.
Quais as providências que a CCR Alto São Francisco vem tomando em relação a isso?
Estamos acompanhando e monitorando os resultados das análises apresentadas, buscando ações conjuntas e informações com os diversos órgãos envolvidos. Estamos dividindo tarefas entre os membros da CCR, trabalhando de maneira conjunta e coordenada com os CBHs do Entorno do Lago de Três Marias e Paraopeba. O CBH está acompanhando as audiências relativas ao lago de Três Marias, buscando uma participação mais ativa, com direito a voz e decisões. Vamos atuar junto ao Igam, Ministério Público e outras entidades para buscar alternativas para reter a lama e a pluma, já que as cortinas de retenção colocadas pela Vale não surtiram efeito.
Que futuro você deseja para o Rio São Francisco?
Desejo que o São Francisco seja verdadeiramente o rio da integração nacional, não só econômica, mas social, cultural e vital. Que ele possa cumprir o seu papel de se manter essencial à vida. Que seja um rio em que possamos beber de sua água, nadar, pescar, navegar, e que possamos usar suas águas também para produzir alimentos, energia e riquezas econômicas, mas de maneira sustentável. E para que este futuro seja atingido, a participação do Comitê e de seus membros é de fundamental importância. Que todos nós tenhamos um objetivo comum: São Francisco, um rio para todos.
Assessoria de Comunicação CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
Texto: Mariana Martins
Foto: Ohana Padilha