Sentada na primeira fileira da platéia, no Salão Nobre do Palácio do Planalto, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, fugiu dos holofotes na cerimônia de divulgação dos investimentos no País, embora tenha ajudado a organizar as informações sob o mote “Um novo Brasil em Construção”. Tudo foi planejado para não parecer que a solenidade tinha revestimento eleitoral, mas o marketing político da reunião – com 28 ministros e uma penca de empresários, sindicalistas e dirigentes de partidos aliados – ficou evidente. Sob o guarda-chuva do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o encontro produziu uma cena impensável tempos atrás: na mesma fileira ocupada por Dilma, o senador e ex-presidente Fernando Collor (PTB-AL), alvo de um processo de impeachment em 1992, era um dos mais atentos espectadores do ex-rival Lula, que chegou até mesmo a citá-lo no discurso.
Com Dilma na platéia, coube ao presidente pôr na vitrine o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), coordenado pela ministra, sua candidata preferida para a eleição de 2010. Num discurso que mesclou trechos lidos e frases improvisadas, Lula disse que o País atravessou um “deserto de estagnação” antes de seu governo e rendeu homenagens ao PAC. “A turma do contra que me desculpe, mas não haverá apagão no Brasil”, disse o presidente, aplaudido várias vezes. Lula enfileirou investimentos que só saíram do papel “graças ao PAC” na área de energia, transporte e saneamento para fechar o raciocínio louvando o projeto que prevê a transposição do Rio São Francisco.
Foi justamente ao falar dos “programas de revitalização do velho Chico” que o presidente citou Collor. “É importante lembrar, ex-presidente Collor, que o Canal do Sertão de Alagoas vai tirar mais água por segundo do que o (projeto) do Rio São Francisco”. Olhando para Dilma, assegurou, ainda, que seu sucessor poderá inaugurar o Eixo Norte do projeto de transposição em 2012. O Eixo Leste entra em operação em 2010, último ano do governo Lula.
A chefe da Casa Civil saiu da cerimônia disposta a não dar entrevistas. “Hoje eu não vou falar”, comunicou. Cercada, porém, por jornalistas, fez apenas uma declaração sobre os trabalhos da comissão interministerial encarregada de apresentar propostas para o novo marco regulatório do petróleo. “Está tudo dentro do prazo”, encerrou.
Embora o governo tenha convidado tucanos e integrantes do DEM, só um parlamentar de oposição compareceu: o senador José Nery (PSOL-PA). “O Brasil não é só de quem está no governo. É de quem está, de quem não está, de quem ajuda, de quem não ajuda e até de quem não torce”, disse o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro. Articulador político do Planalto, ele negou o caráter eleitoral do encontro. “Isso não tem nada a ver com eleição”, reagiu. “Não podemos conversar com empresários e a imprensa só em anos que não têm eleições.”