Durante a manhã da última segunda-feira (04), o coordenador da Câmara Consultiva Regional do Submédio São Francisco, Cláudio Ademar, esteve na cidade de Petrolina (PE) atendendo a um convite da Agência Municipal de Meio Ambiente (AMMA) para conhecer as experiências do município na recuperação do trecho urbano do rio São Francisco.
Acompanhado do diretor da AMMA, Victor Flores, também membro do CBHSF representando Petrolina, e da analista ambiental Carolina Carvalho, o coordenador da CCR participou de reunião com o prefeito da cidade, Simão Durando, onde foram apresentados os principais resultados do projeto Orla Nossa, criado em 2017. De acordo com o diretor da AMMA, é através de ações coordenadas e continuadas que a cidade vem melhorando a qualidade da água no trecho urbano do Velho Chico. “Quando começamos, nos chamavam de loucos por estarmos retirando as baronesas do rio, porque achavam que elas eram a proteção contra a poluição. Mas a retirada delas mostrou que já nem tinha mais água por baixo e sim uma espécie de lama, provocando a morte de tudo no entorno. Hoje, já foram retirados o equivalente a 20 hectares de baronesas e também foram identificados diversos pontos de esgoto que desaguavam sem qualquer tipo de tratamento. Com isso, a oxigenação da água melhorou substancialmente e os resultados já são visíveis”, afirmou o diretor Victor Flores.
Na cidade, o material retirado do rio passa pelo processo de compostagem e vira adubo, sendo usado em parte no próprio rio, para o plantio e reflorestamento das suas margens e para outros usos, como canteiros municipais. Com os resultados obtidos em Petrolina, o coordenador da CCR sugeriu uma visita dos técnicos da prefeitura à cidade de Glória (BA), onde a população sofre com o avanço das baronesas e acumula prejuízos em todos os setores: ambiental, econômico e social.
Já o prefeito da cidade, Simão Durando, falou da importância do rio para a região que tem forte atuação em mercados nacionais e internacionais a partir da fruticultura irrigada. “Sempre falei que o rio São Francisco seria minha prioridade e estamos à disposição do Comitê para contribuir até mesmo com a troca de experiências. Penso em reunir os municípios aqui no entorno para que possamos compartilhar o que tem sido feito e o que está sendo pensado, planejado. Com isso, a gente pode entender o rio em um contexto maior, e sensibilizar os gestores para o fato de que todos nós podemos fazer algo pelo rio”, completou o prefeito.
Após reforçar a realização da primeira Expedição Científica do Submédio São Francisco, que acontecerá nos dias 14 a 20 de agosto, o coordenador Cláudio Ademar apresentou ao prefeito de Petrolina a proposta de encerrar, na cidade, o evento que fará um diagnóstico da bacia, na região do Submédio. O trabalho será feito em parceria com universidades e institutos de educação e contará com a participação de pesquisadores, que ficarão responsáveis pelas análises em 30 linhas de pesquisa.
O percurso da Expedição vai atender os trechos do rio São Francisco nas cidades de Jatobá, Itacuruba, Petrolina e Lagoa Grande, em Pernambuco, e Paulo Afonso, Glória, Rodelas e Juazeiro, na Bahia. “A Expedição do Submédio será uma grande ação que vai fazer um diagnóstico dessa região. Serão dezenas de pesquisadores pensando e estudando a fundo o Velho Chico, o que vai resultar em um longo e detalhado relato sobre as principais demandas do Submédio. Esse é um resultado do que o Comitê fala sobre a importância da água com qualidade e em quantidade para todos e, para isso, a gente precisa de revitalização. Então, a defesa do Velho Chico deve ser considerada uma questão comum a todos e, por isso, o CBHSF vem construindo o Pacto das Águas, que vai ser um divisor na gestão das águas, fundamental para garantir que os múltiplos usos sejam garantidos e que o rio São Francisco, principalmente, tenha a atenção e o cuidado devido”, afirmou o coordenador da CCR.
Mais um problema para o rio São Francisco
Neste contexto, a cidade, que acatou a ideia de sediar o encerramento da Expedição, também apresentou uma demanda que vem preocupando os setores ambientais. De acordo com a AMMA, a proliferação da elódea ou elódea-comum (Elodea canadensis), planta aquática perene, muito utilizada em aquários, tem tomado grandes proporções em diversos trechos do rio São Francisco na região de Petrolina. Mais percebidas a partir da redução das vazões do rio, em períodos de estiagem, a planta que tem fácil adaptação a fundos lamacentos, calcários e ricos em nutrientes devido à poluição como o despejo de esgoto, mesmo sem raiz, pode se manter viva por longo tempo e se reproduzir assexuadamente.
“É uma planta que cresce no solo do rio São Francisco e geralmente fica mais próximo às margens. Mas, como existe uma interferência dos barramentos que regem a política de vazões, quando temos menor volume de água, diminuindo a turbidez, aumenta a transparência da água, fazendo com que a quantidade de luz contribua na sua proliferação. Então, constatamos uma alta proliferação na região, fazendo com que essas plantas atinjam até o meio do rio”, explicou a analista ambiental, Carolina Carvalho.
Segundo a analista, além da própria espécie, que é invasora, já representar um desequilíbrio ambiental, ela dá progressão à cadeia, provocando outros diversos problemas como a modificação na flora e fauna nativa do rio São Francisco, dificuldade para navegação e para a pesca, entre outros. Por ser de difícil resolução, a presença das plantas, assim como diversos outros problemas sofridos pelo Velho Chico, só deve se resolver a partir de maiores vazões na bacia, retirada de despejo do esgoto e outros poluentes, recuperação da mata ciliar e revitalização.
Assessoria de Comunicação do CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Juciana Cavalcante
*Fotos: Juciana Cavalcante