A presença de representantes de povos e comunidades tradicionais do rio São Francisco foi o destaque da consulta pública do Plano de Recursos Hídricos da Bacia do Velho Chico, realizada nesta quarta-feira (11/11), na cidade baiana de Rodelas. Entre as mais 200 pessoas que compareceram ao encontro, organizado pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco e pela Consultoria Nemus, responsável pela atualização do Plano de Bacia, estavam dezenas de comunidades indígenas, quilombolas, pescadores tradicionais e povos de terreiros que habitam a bacia.
“Nós, povos e comunidades tradicionais, trazemos nossa perspectiva da convivência e de respeito ao meio ambiente. Temos uma proposta civilizatória que precisa ser ouvida e incluída em um novo devir de preservação da natureza e da vida”, afirmou a socióloga Sonia Ribeiro, representante dos povos quilombolas e de terreiros da cidade de Santa Maria da Boa Vista (PE). Ela foi uma das que se pronunciaram exigindo maior visibilidade das comunidades tradicionais no Plano de Bacia.
“Sem discutir a realidade dos povos tradicionais, como pescadores, quilombolas e indígenas, não há revitalização do São Francisco porque são eles quem mais sofrem com a sua degradação. São populações que muitas vezes nem tem água potável e nem energia em suas casas. Esse Plano precisa ser discutido com mais seriedade e respeito a essas comunidades”, defendeu Alzení Tomáz, do Conselho Pastoral dos Pescadores Tradicionais. Ela relembrou a “Carta dos Povos do Rio”, documento com uma série de denúncias contra a situação de descaso com a bacia do São Francisco, entregue durante consulta pública realizada na cidade de Paulo Afonso (BA), na primeira etapa da atualização do Plano de Bacia.
A promotora de Justiça do Ministério Público da Bahia, Luciana Khoury, defendeu que é preciso ficar mais evidente no Plano da Bacia os graves conflitos existentes na bacia, especialmente pela garantia dos direitos das comunidades tradicionais à terra. “Quanto mais garantirmos o direito dos povos tradicionais aos seus territórios mais teremos proteção ambiental na Bacia”. A promotora pontuou as diversas frentes de fiscalização e atuação do Ministério Público da Bahia em defesa da revitalização do rio São Francisco, como a garantia das áreas devolutas aos povos tradicionais que foram ocupadas por grileiros, a defesa dos rios do oeste da Bahia que estão secando pela grande retirada das águas e a luta pelo abastecimento das comunidades da bacia.
O vereador e presidente da Câmara Municipal de Abaré-BA, Cícero Marinheiro, cacique dos povos Tumbalalá, destacou a presença dos povos indígenas nas mobilizações ambientais, como a luta contra a transposição do rio São Francisco. “Nós, que vivemos às margens do Velho Chico e dele tiramos nosso sustento, conhecemos de perto sua realidade e estão sempre dispostas a defender a sua preservação”. Além dos Tumbalalá de Abaré, estiveram representados na consulta pública de Rodelas indígenas das comunidades Pankará de Itacuruba-PE, Truká Tupã, de Paulo Afonso-BA e Xucuru-Kariri, de Glória-BA e os Atikun, Kambiwá, Pankararé e Tuxá, todas de Rodelas-BA.
ASCOM – Assessoria de Comunicação do CBHSF