Thaís de Matos, comerciante, é moradora de Januária. Neste sábado (16), antes mesmo do sol nascer, às 5h da manhã, lá estava ela na Praça Patrocínio Motta prestigiando a tradicional alvorada que, ao som de fogos de artifício e da bateria do bloco local Minhocão, acordou a população e deu início à campanha ‘Eu Viro Carranca pra Defender o Velho Chico’ na cidade. “O Rio São Francisco tem um valor inestimável para nós, para as cidades ribeirinhas. Todos nós dependemos dele e, por isso, eu também viro carranca pra defendê-lo”.
Já com sol, mas ainda cedo, mais de 50 pessoas participaram de um passeio ciclístico que percorreu o centro urbano e as margens do Velho Chico. Um dos animados ciclistas era Sebastião Amorim, professor em Januária. Ele chamou a atenção para a responsabilidade de cada indivíduo na proteção e preservação da bacia do Rio São Francisco. “Esse tipo de campanha é fundamental para que cada cidadão, criança, formador de opinião, pai de família, entenda que a preservação do rio não depende só do poder público, mas também de iniciativas pessoais. É uma forma de mobilizar e demonstrar a importância do rio para todos nós”, contou.
Mas não só os moradores de Januária compareceram e prestigiaram a campanha. Ao longo de todo dia, a chamada ‘Orla da Alegria’ promoveu atividades lúdicas educacionais e ambientais e atraiu pessoas de toda a região. Da cidade vizinha Pedras de Maria da Cruz, o grupo da Terceira Idade ‘A Vida é Bela’ apresentou uma homenagem às lavadeiras que, antigamente, realizavam seu trabalho à beira do rio. “Todo esse grupo de idosos já passou pelas águas do São Francisco, já lavou roupas em suas águas. O rio é a fonte de sobrevivência não só pra quem lava ou lavou roupas, mas para todos. A gente tem um carinho muito grande por este rio que, infelizmente, estamos vendo que está morrendo”, disse Regina Navarro, coordenadora do grupo.
Também na ‘Orla da Alegria’ foram realizadas apresentações folclóricas de grupos de Bonito de Minas, Cônego Marinho, Itacarambi, São João das Missões e Manga. Alunos de diversas escolas dessas mesmas cidades também compareceram e interagiram principalmente com os painéis explicativos sobre curiosidades ligadas ao Velho Chico. Em uma dessas estruturas era possível deixar uma mensagem para o rio, como fez Thatielly Garcia, de 14 anos, aluna da Escola Municipal Padre Ricardo Tritschler, de Manga. “Eu coloquei assim: ‘vamos cuidar do nosso rio, porque sem ele nós não vivemos’. Ele [Rio São Francisco] é muito importante, porque a água que a gente bebe, que a gente banha, vem do rio. Eu estou achando tudo muito legal e aprendendo a ter mais cuidados, a não jogar lixo no rio e a fazer a reciclagem”, disse.
Na parte da tarde, o destaque ficou por conta da Romaria, que em barcos desceu o Velho Chico com imagens do santo que dá nome ao rio. Uma das pessoas que foi às suas margens prestigiar a manifestação foi a bancária Maria da Conceição Rocha. “O rio para mim significa sobrevivência, dos ribeirinhos e da cultura dessas comunidades que vivem à beira do rio. Por isso, o momento agora é de união, de juntar forças para não deixar o rio morrer”, disse ela com fé que a revitalização e recuperação do São Francisco virá.
A campanha ‘Vire Carranca para Defender o Velho Chico’ continua neste domingo (17) com uma vasta programação ao longo de todo o dia.
Veja mais fotos da Campanha em Januária:
Texto: Luiz Guilherme Ribeiro