Pescadores e Pescadoras de cinco estados do Brasil – Minas Gerais, Pernambuco, Sergipe, Alagoas e Bahia – estiveram na cidade de Buritizeiro (MG) e participaram do II Seminário de Pesca Artesanal da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco. Na pauta, o futuro da pesca no Velho Chico, desafios e sustentabilidade.
Realizado pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), o seminário teve como objetivo debater em conjunto com os pescadores do Alto, Médio, Submédio e Baixo, ações para a defesa da revitalização do rio e o uso racional das águas. Também tratou de temas como os impactos dos agrotóxicos no meio ambiente, processo de avaliação do risco de extinção de espécies da fauna brasileira, possíveis impactos da UHE Formoso, as vazões e a cheia do Velho Chico, expedições e, principalmente, a pesca artesanal.
Para a presidente da Colônia de Pescadores Z-34 e representante da Federação dos Pescadores de Minas Gerais no CBHSF, Vilma Martins, o evento é importante para debater todos os assuntos que envolvem a vida do pescador. “É a oportunidade de falarmos de preservação do rio, pesca artesanal, mas também de aprofundarmos em outros temas. Como classe unida precisamos discutir e criar ações para mudar a burocracia existente no Ministério da Pesca. O INSS é outro problema para o pescador, então, este seminário nos apresenta todas as oportunidades para melhorarmos nossa profissão”, disse Vilma.
Dentro da mesma perspectiva, o pescador de Sergipe, na região do Baixo São Francisco, José Fausto, também enxerga no seminário uma maneira de unir ainda mais a classe. “Nem todos os pescadores podem estar presentes aqui, então temos a responsabilidade de absorver ao máximo tudo que foi dito nas palestras e debates, para que possamos levar para nossas colônias o máximo de conhecimento”, comentou Fausto.
E para a pescadora Fernanda Henn, da Bahia, no Médio São Francisco, o compartilhamento de experiências é justamente a parte alta do seminário. “Está sendo maravilhoso poder participar deste evento, porque além da gente discutir nossas demandas, estamos compartilhando conhecimento, tanto tradicional como científico. Você interage com os outros pescadores e vai trocando experiências. Acaba conhecendo a realidade de outras regiões e vai buscando juntos soluções para todos”, observou Fernanda.
Segundo o coordenador da Câmara Consultiva Regional (CCR) do Alto São Francisco, Altino Rodrigues Neto, o seminário serve tanto para essa troca de experiências, como também para lançar alertas sobre as ameaças que o Rio São Francisco vem sofrendo nos últimos anos. “Pescadores da bacia do Velho Chico estão aqui em Buritizeiro tendo a oportunidade de falar sobre as dificuldades de manter as colônias, a comunidades tradicionais, enfim, estão em busca de experiências exitosas. Mas, além disso, nossa discussão também norteia as ameaças ao Rio São Francisco, como por exemplo, a possibilidade da construção de uma nova represa, a UHE Formoso. Por isso, mostramos aqui todos os problemas e impactos que esse empreendimento pode trazer não só para a biota do rio, mas para a pesca artesanal e consequentemente para o pescador e para os povos ribeirinhos”, explicou Altino.
Confira mais fotos do II Seminário de Pesca Artesanal da Bacia do Rio São Francisco:
Para o presidente do CBHSF, Maciel Oliveira, o seminário é feito para ouvir e criar soluções para os verdadeiros defensores do Velho Chico, os pescadores. “Os pescadores são aqueles que mais precisam do nosso rio, por isso, trouxemos para este evento representantes de toda bacia, colônias, federações e associações. E nestes dois dias discutimos a problemática do rio, a pesca predatória, ou seja, abordamos várias pautas e chegamos a inúmeras propostas que serão discutidas com diversos setores e organismos de poderes, pois o intuito do comitê é preservar o rio e dar condições de trabalho para esse povo tão sofrido”, ressaltou Maciel.
O presidente lembrou ainda de como foi importante a troca de saberes neste segundo seminário. “Nesse evento, os saberes se encontraram. Os saberes científicos, através dos pesquisadores de universidades e academias renomadas e os saberes populares, porque nós ouvimos os verdadeiros, aqueles que mais entendem dos peixes e do rio, ou seja, os pescadores. Foi uma grande lição, um grande encontro de saberes, uma troca de experiências e de renovação. Então, precisamos que o trabalho continue, que o cuidado seja persistente, para que nosso Velho Chico continue fortalecendo e sustentando a vida desses pescadores e das futuras gerações”, finalizou.
Assessoria de Comunicação do CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Tiago Rodrigues
*Fotos: Arthur de Viveiros; Tiago Rodrigues