Encontro em Brasília marca o alinhamento de governança entre as instituições, com foco na formalização de cooperação técnica e resolução de passivos históricos na bacia.
O presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Cláudio Ademar, reuniu-se na última quinta-feira (04), em Brasília, com o diretor-presidente da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), Lucas Felipe de Oliveira, e com o diretor da Área de Revitalização e Desenvolvimento Territorial, José Vivaldo Souza de Mendonça Filho. A agenda consolidou a retomada do diálogo estratégico com as instâncias federais, visando alinhar o planejamento de ações de revitalização e a gestão de conflitos na bacia.
A reunião foi classificada como um marco na construção da governança compartilhada das águas do São Francisco. José Vivaldo Souza de Mendonça Filho, diretor da Área de Revitalização e Desenvolvimento Territorial da Codevasf, destacou a importância institucional desse realinhamento. “Foi uma reunião de aproximação e de alinhamento das atividades da Codevasf com o Comitê de Bacia. O entendimento é que, tanto para o Comitê quanto para a Companhia, a construção da governança da gestão da bacia hidrográfica é algo estratégico”, afirmou o diretor.
Vivaldo reforçou ainda que a parceria deve avançar para um patamar oficial: “Seguiremos nas cooperações, tanto na parte de recuperação ambiental quanto no repovoamento com peixes nativos, com participação efetiva e atuação conjunta, uma vez que vamos formalizar uma cooperação técnica entre o Comitê e a Codevasf”.
Ação imediata: Solução para a Lagoa das Piranhas
Como primeiro resultado prático dessa nova fase de cooperação, foi firmado o compromisso do presidente da Codevasf em realizar uma visita técnica, já na próxima segunda-feira (08), à comunidade quilombola da Lagoa das Piranhas, em Bom Jesus da Lapa (BA).
O local enfrenta um passivo ambiental histórico que remonta à década de 1980, ligado à implantação do Projeto de Irrigação Formoso. Segundo Cláudio Pereira, coordenador da Câmara Consultiva Regional (CCR) do Médio São Francisco, o sistema de drenagem do projeto foi direcionado ao Riacho da Cacimba, afluente natural da lagoa, carreando resíduos agroquímicos para o corpo hídrico. “Isso comprometeu diretamente o consumo de água e a economia da comunidade tradicional que vivia ali da pesca, além de provocar a eutrofização severa da lagoa, que hoje está tomada por macrófitas. O que era um importante berçário do Médio São Francisco foi inviabilizado”, explicou Pereira.
A visita do presidente da Codevasf, articulada por Cláudio Ademar e pela coordenação da CCR Médio, visa encaminhar soluções definitivas, avaliando a retirada do dreno e a mudança na captação de água para abastecimento humano, atendendo a demandas antigas do Ministério Público e da comunidade.

Repovoamento e Biodiversidade
A agenda ambiental também avançou na pauta de repovoamento da ictiofauna. CBHSF e Codevasf iniciaram a elaboração de termos de parceria para definir a quantidade de peixes a serem introduzidos em cada região fisiográfica do rio (Alto, Médio, Submédio e Baixo). A premissa técnica é o uso exclusivo de espécies nativas, visando o equilíbrio ecológico e o fortalecimento da pesca artesanal.
Modernização do Sistema Itaparica
A comitiva do CBHSF também tratou do retrofit (requalificação) do Sistema Itaparica (BA/PE) em reunião com a Diretora de Irrigação e Operações da Codevasf, Alessandra Cristina Rossin. O Comitê atuará como interlocutor institucional no processo que envolve desde a execução de obras e aquisição de equipamentos até a regularização fundiária e implantação de hidrômetros para eficiência hídrica no perímetro irrigado do Submédio.
Implementado na década de 1990, o Sistema Itaparica contempla 10 projetos de irrigação às margens do rio São Francisco para as famílias deslocadas pela construção da Usina Hidrelétrica de Luiz Gonzaga (antiga Usina de Itaparica). Com mais de 45 mil pessoas vivendo da agricultura familiar. O projeto enfrenta dificuldades crônicas que afetam o modo de vida das famílias principalmente quanto ao acesso à energia. Embora em maio de 2025, o governo federal tenha quitado um débito de quase R$ 40 milhões referente à energia do Sistema Itaparica, medida importante para aliviar a situação dos agricultores, os desafios ainda são grandes.
“Discutimos com a Diretora Alessandra a situação do Perímetro Irrigado de Itaparica, situado no Submédio São Francisco (BA/PE) e fomos convidados a participar do processo de retrofit da infraestrutura dos projetos públicos de irrigação da região. O Comitê passará a se envolver mais ativamente, atuando como um interlocutor institucional dessa requalificação. O projeto envolve desde o planejamento e execução de obras e aquisições até a regularização fundiária. Também estão previstas ações para otimizar o uso da água, como a implantação de hidrômetros, além de consultoria e assistência técnica”, concluiu Cláudio Ademar.
Assessoria de Comunicação do CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Juciana Cavalcante
*Foto: Codevasf