Com arrecadação própria limitada, Comitê articula novas frentes de investimento, propondo ações que integrem restauração ecológica e geração de renda
Em favor da preservação de um dos mais importantes patrimônios hídricos do Brasil, o “Velho Chico”, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), representado por seu presidente, Cláudio Ademar, reuniu-se nesta terça-feira (16) com representantes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no Rio de Janeiro. O objetivo central do encontro foi a busca por novos modelos de financiamento e de parcerias que garantam a sobrevivência do rio e que fortaleçam seus biomas e populações.
Atualmente, o Comitê opera com recursos provenientes da cobrança direta pelo uso da água. O montante, como destacou Ademar durante a reunião, tem se mostrado insuficiente diante da magnitude dos problemas enfrentados. Estima-se uma arrecadação de R$ 42 milhões, mas com uma inadimplência que reduz a capacidade real de investimento para cerca de R$ 30 milhões. “Ou a gente consegue buscar novas formas de captação de recursos ou não vamos conseguir revitalizar essa bacia nunca”, alertou o presidente do CBHSF.
Dentre os principais problemas a serem enfrentados na bacia estão: o desmatamento, o assoreamento, a contaminação das águas por agrotóxicos, por rejeitos industriais e pelo esgotamento doméstico, dentre outras questões ambientais que acarretam diversos tipos de conflitos sociais, culturais e econômicos. Diante do relato, os representantes do BNDES demonstraram interesse pelas demandas Comitê.
Integração e biodiversidade
Conhecido como o “rio da integração” por unir as regiões Sudeste e Nordeste, o São Francisco teve sua importância para todo o Brasil destacada na reunião. Além de passar por seis estados e pelo Distrito Federal, sua bacia engloba diferentes biomas. “Temos a Caatinga, única floresta 100% originária do Brasil. Temos a Mata Atlântica e o Cerrado, que também precisam ser vistos”, pontuou Ademar.
“A ideia é construir com o BNDES parcerias para o combate ao que chamo de feridas abertas, como é caso da desertificação. Se você tem uma situação dessa e não trata, o que acontece? A ferida vai piorar e impactar todo o corpo. Temos que ter políticas públicas específicas voltadas para essa situação, para as feridas abertas na bacia do Rio São Francisco”, defendeu Ademar.
Outro ponto debatido foi a necessidade de aliar preservação ambiental e geração de renda para as populações locais. “No nosso ponto de vista, sempre que falarmos de recuperação ambiental e hídrica, devemos associar à atividades que promovam um ganho econômico e social para o povo desta bacia, como por exemplo, a apicultura, o cultivo de caju ou a recuperação de nascentes associada ao cultivo de café”, exemplificou o presidente do CBHSF.
Ele destacou também que as ações no Rio São Francisco devem incluir os povos indígenas, as comunidades quilombolas, dentre outros povos e comunidades tradicionais presentes nos biomas da bacia, fortalecendo sua diversidade ambiental e cultural . “Quando eu falo de São Francisco, não estou falando apenas do recurso hídrico. Nossa visão de bacia inclui esses povos e comunidades, que são os que mais conservam o rio”, expôs.

Iniciativa Floresta Viva
As respostas do BNDES às demandas do Comitê concentraram-se na iniciativa Floresta Viva, um programa que está iniciando uma nova etapa. Segundo Marcus Cardoso Santiago, chefe do Departamento de Meio Ambiente do Banco, a iniciativa, que aplica recursos em áreas como unidades de conservação, assentamentos, terras indígenas e em pequenas áreas da agricultura familiar, possui sinergia com o que foi apresentado pelo CBHSF.
Também participaram da reunião Patrícia Dias, gerente da iniciativa Floresta Viva, Guilherme Studart, Nelson Tortosa e Rafael Niemeyer, todos integrantes de sua equipe. Eles explicaram que o foco da iniciativa é o restauro da vegetação nativa, mas que, como efeito indireto, a ação gera a recarga hídrica e a recuperação de mananciais. “O Floresta Viva permite incluir os Sistemas Agroflorestais (SAFs), onde o plantio de espécies agrícolas convive com as nativas”, explicou Santiago.
Patrícia Dias afirmou ainda que é preciso estudar a possibilidade de trabalhar com um “mix de possibilidades”: com o restauro ecológico em áreas de preservação e com ações de conservação que envolvam atividades produtivas sustentáveis, como o beneficiamento de alimentos nos biomas da bacia do “Velho Chico”.
Próximos passos
Durante a reunião, o Comitê convidou o BNDES a participar de uma plenária do São Francisco, a ser realizada pelo CBHSF em março de 2026. O objetivo é que a instituição apresente suas atuais na região e faça uma projeção dos investimentos futuros. “A população precisa saber e participar das ações a serem feitas em defesa do Velho Chico”, reforçou Ademar.
Os representantes do BNDES demonstraram-se atentos e disponíveis para a continuidade do diálogo. “Vamos enviar documentos sobre o Floresta Viva e esperamos os materiais institucionais do Comitê. É preciso consultar o setor jurídico para verificar se existem impedimentos para aplicar os recursos. Ficamos de marcar uma nova conversa. Acho que vai dar certo”, afirmou Patrícia Dias.
“Saio otimista do encontro. Foi uma conversa muito positiva e nossa expectativa é firmarmos parcerias já no próximo ano”, concluiu Ademar.

Assessoria de Comunicação do CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social