“Barragem de Sobradinho não pode servir apenas para a ganância do setor elétrico e vender energia”, diz Almacks Carneiro

21/10/2024 - 17:45

Os reservatórios das usinas hidrelétricas de Três Marias, em Minas Gerais, e Sobradinho, na Bahia, registraram os menores volumes para o mês de setembro nos últimos anos e a situação pode se agravar se não chover nos próximos dias


A situação já preocupa moradores das localidades que dependem do Rio São Francisco, cuja vazão entre as duas barragens também está em níveis baixos. As defluências permanecem baixas e assim devem continuar até a chegada das chuvas.

A reportagem da RedeGN obteve a informação que o volume útil do reservatório de Sobradinho, na Bahia, registra cerca de 40% de sua capacidade volume útil. A defluência (água que sai) tem média de 1.114 m²/s e água que entra (Afluência) de apenas 370 m²/s.

Ouvido pela REDEGN, o Secretário do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, Almacks Luiz Carneiro da Silva, graduado em Gestão Ambiental com especialização em Recursos Hídricos, Saneamento e Residência Agrária em Tecnologias Sociais e Sustentáveis no Semiárido, disse que a barragem de Sobradinho “não pode servir apenas para a ganância do setor elétrico e vender energia”. De acordo com Almacks a barragem é importante devido aos usos múltiplos.

“O estoque, nível da capacidade útil hoje poderia ser bem melhor. Sabemos que a expectativa de chuva começa agora em novembro, mas teve ano que as chuvas só vieram no mês de março. O período de chuvas é incerto e só com chuva para se ter cenário favorável”, afirmou.

A estiagem, os danos ambientais e o assoreamento provocaram a redução de volume do Velho Chico, comprometendo a navegação até mesmo de barcos pequenos, como aqueles movidos a motor de popa, conhecidos como “rabetas”.


Almacks Carneiro falou sobre a importância da barragem de Sobradinho (BA)


“Nunca vi o São Francisco numa situação dessa. O nível do rio está tão baixo que está difícil para gente navegar até mesmo com pequenos barcos”. O testemunho é dado pela pescadora e agricultora familiar Geraci Francisca Mota da Silva, que mora, literalmente, no meio do rio.

Em entrevista para o Jornal Estado de Minas, a secretária municipal de Turismo de Januária, Solange Mota, afirma estar assustada em ver o nível do Rio São Francisco tão baixo. Na região de Januária, as veredas que alimentam afluentes do Velho Chico como o Rio Pandeiros e o Rio Peruaçu, mesmo situadas em áreas de preservação, secaram completamente por conta da seca.

No final de agosto e início de setembro, a expedição científica Amigos das Águas, que contou com a participação de condutores de cerca de 120 pequenos barcos e caiaques, percorreu 160 quilômetros entre Três Marias e Pirapora, em Minas Gerais.

“Não teria como usar embarcação maior porque o rio está muito seco. Nas corredeiras, como o nível da água baixou muito, as pedras estão superficiais”, relata um dos ambientalistas, salientando que vários participantes da expedição tiveram prejuízos em seus pequenos barcos e caiaques por conta do baixo nível do rio.

O Velho Chico é navegável – considerando embarcações de maior porte no trecho de 1.371 quilômetros que vai de Pirapora a Juazeiro (BA). Mas, o ambientalista Roberto Mac Donald afirma que o “trecho navegável” também está cheio de bancos de areia, que já aparecem em grande número no percurso entre Pirapora e Barra do Guaicuí – um trecho de 15 quilômetros.

Por décadas, a embarcação movida a vapor transportou mercadorias e turistas pelo Velho Chico entre Pirapora e Juazeiro.


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Assessoria de Comunicação do CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: originalmente publicado pelo portal “Rede GN”
*Fotos: Juciana Cavalcante; Ascom/FPI