Os membros da Câmara Técnica de Águas Subterrâneas (CTAS/CBHSF) participaram nesta sexta-feira, 24 de julho, de uma reunião ordinária online para debater sobre o recém-lançado artigo científico internacional Análise do lençol freático e do estágio das flutuações do rio e sua relação com os efeitos no uso da água e na variação climática da Bacia do Alto Grande no Nordeste do Brasil, que trata do Sistema Aquífero Urucuia (SAU), maior responsável pelo suprimento de águas do São Francisco.
O encontro também foi marcado por uma apresentação resumida do modelo conceitual do Pacto das Águas na Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, para que todos possam tecer nos próximos dias considerações a respeito do que está sendo proposto.
Análise de dados sobre o Urucuia
A reunião começou com a explanação sobre o artigo Analysis of groundwater and river stage fluctuations and their relationship with water use and climate variation effects on Alto Grande watershed, Northeastern Brazil, publicado recentemente no Journal of South American Earth Sciences. A tarefa de analisar o documento ficou a cargo do professor titular da UNESP e coordenador do Laboratório de Estudos de Bacias da mesma universidade, Chang Hung Kiang, integrante da Câmara Técnica de Águas Subterrâneas do CBHSF.
O documento tem a proposta de avaliar possíveis impactos da precipitação e do aumento do uso da água pela irrigação no Aquífero Urucuia, analisando a variação dos níveis de lençol freático e de vazões na superfície. Para isso, o estudo compara dados de precipitação, flutuação do nível da água, vazão do rio e instalação de pivôs, no período de 1990 a 2018.
Chang, que se dedica a estudar o fenômeno e a orientar pesquisadores sobre o tema, destacou que a publicação tem contribuições importantes alinhadas à Rede Integrada de Monitoramento das Águas Subterrâneas – RIMAS, mas que traz discussões com ênfase no impacto da redução das chuvas na queda do volume de água no Aquífero.
Ação humana e superexplotação
“Em nossos estudos, verificamos que a redução da precipitação no período de 2002 a 2014 não foi estatisticamente significante, mas foi relevante a queda no armazenamento subterrâneo. Por esse trabalho, fica claro que os componentes da extração e do uso da água subterrânea precisam ser mensurados. Dentre as dificuldades para monitorar o rebaixamento do lençol estão a atividade de bombeamento concomitante e o acesso à informação. A gente tem muitas incertezas e quanto mais conseguirmos mensurar, melhor será o entendimento sobre as causas da redução das vazões dos rios afluentes”, disse o especialista.
José Almir Cirilo, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador da Câmara Técnica de Águas Subterrâneas do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, completou: “estamos preocupados com a superexplotação das reservas e precisamos fazer um estudo regional da estimativa das retiradas, aproveitando tudo o que a Ciência está oferecendo.”
Pacto das Águas
Depois da discussão sobre o artigo, foi a vez do Pacto das Águas entrar em pauta. A apresentação foi feita pelo gerente de projetos da Agência Peixe Vivo, Thiago Campos, com o objetivo de chamar a atenção para a iniciativa, convidando os membros da CT a contribuir nos próximos dias com considerações que serão encaminhadas para a Diretoria do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco.
A necessidade de pactuar a alocação de água para as principais sub-bacias e estabelecer vazões de entrega dos principais afluentes para o Rio São Francisco é um dos motivos para a construção do Pacto. Também são justificativas: a necessidade de pactuar a gestão da demanda de água por estado e por setor usuário em função das prioridades de uso e compatibilização da operação dos reservatórios e, também, a necessidade de pactuar a atuação e a mobilização dos estados na execução das ações previstas no Plano de Recursos Hídricos 2016-2025.
Leonardo Mitre, consultor que elaborou a proposta do Pacto, defende que o documento deve reunir, entre outros elementos, a definição de uma base georreferenciada comum para a determinação das disponibilidades hídricas (Estado e União), observando as particularidades regionais; a universalização dos instrumentos de gestão da cobrança pelo uso de recursos hídricos e a determinação de padrões de entrega de vazões por estado e bacia afluente.
O professor Almir Cirilo frisou que é importante tratar dos critérios para repartição das águas. Douglas Falcão Wanderley, membro da CT, falou do desafio de buscar um consenso entre diferentes usuários de estados distintos.
Essas e outras demandas precisam estar contempladas no Pacto que, segundo Mitre, deve ser encarado como um processo com etapas a serem seguidas e formalizar um compromisso de ação conjunta em prol da Bacia, de forma diretamente conectada com o Plano de Bacias do Rio São Francisco.
Estivem presentes no encontro Carlos Alberto de Freitas, Chang Hung Kiang, Cristiane Neres Silva, Douglas Falcão Wanderley, João Pedro Neto, Laura Araújo, Manoel Vieira de Araújo Júnior e o coordenador da CT, José Almir Cirilo. Da Agência Peixe Vivo participaram a Gerente de Integração, Rúbia Mansur e o Gerente de Projetos, Thiago Campos.
Assessoria de Comunicação CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Andréia Vitório