No Brasil, água e energia se confundem. Isso porque a geração de energia tem na água a sua principal fonte. A protagonista das três crises de energia elétrica nos últimos 20 anos (2001/2002, 2014/2015 e, agora, 2021/2022) tem sido a água – ou, melhor, a falta de água, que é responsável ainda hoje por 70% da geração de energia.
Como a água tem usos múltiplos é preciso propor uma política pública que leve isso em consideração. Hoje o agronegócio, que tem sido o principal setor da economia, precisa cada vez mais de água e de energia para irrigação; não podemos renunciar à navegação nas hidrovias, nem tão pouco para atender atividades de turismo; isso sem falar no saneamento, que tem como um dos maiores desafios a captação de água.
O diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) e consultor de empresas privadas no setor de energia elétrica, Adriano Pires, explica que a água, por seu uso múltiplo, não é nem será a fonte mais barata para gerar energia elétrica no Brasil. “A água é intermitente, ou seja, depende do clima para gerar energia. Diante dessa situação de mais uma crise, em que a protagonista é mais uma vez a água, a prioridade deveria ser construir uma matriz elétrica mais equilibrada, mais confiável e menos refém do clima, aproveitando a diversidade das nossas fontes primárias de energia. Em síntese, o país precisa de um meio-termo entre as energias renováveis e a confiabilidade de uma matriz mais diversificada”, demonstrou.
Para Adriano Pires, a discussão central que deveríamos travar é a valoração da água. “No Brasil sempre tivemos um olhar de que água seria uma dádiva de Deus e, por isso, seu custo seria zero. Portanto, gerar energia com água é a forma mais barata. Esse olhar sobre a água nos leva àquele conceito de que países que são presenteados com muitos recursos naturais acabam por sofrer uma maldição. Somos uma sociedade predadora de recursos naturais. Só sabemos colher, não sabemos plantar. E é dessa forma que estamos nos comportando na utilização das nossas bacias hidrográficas há bastante tempo”, disse.
O especialista acredita que precisamos, também, da mesma forma que foi feito com o gás natural e com o saneamento, discutir no Congresso um marco regulatório para a água no Brasil. “No processo de transição energética, o desafio é aumentar a oferta de energia. Aí, sim, enfrentaremos o real problema com soluções próprias, resolvendo a questão central do uso múltiplo da água e afastando de vez o pesadelo de novos apagões e racionamentos”, afirmou.
Assessoria de Comunicação CBHSF:
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Texto: Luiza Baggio