O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), em parceria com o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), promoveu um resgate de peixes das lagoas marginais do Rio São Francisco na região de Xique-Xique, na Bahia. A ação aconteceu no dia 12 de setembro e também contou com o envolvimento da Colônia de Pescadores e prefeitura de Xique-Xique. A ação já acontece há alguns anos por iniciativa das próprias comunidades ribeirinhas, pretende, em oito dias de trabalho, salvar em torno de 180 mil peixes nas lagoas mais secas do complexo laguna que sofre com a estiagem e a rápida evapotranspiração da sua lâmina d’água.
De acordo com informações do Ibama, a ação, que contou com apoio estrutural (trator, caixa transportadora de peixes e redes) do CBHSF e da Codevasf, deverá ser feita de maneira rápida e precisa, para que seja resgatada a maior quantidade de espécies peixes possível. Um estudo realizado pelo Ministério do Meio Ambiente aponta que apenas na região do Médio São Francisco (trecho entre Pirapora, em Minas Gerais e a represa de Sobradinho) se formam berçários para mais 50 espécies de peixes, como Dourado, Surubim, Traíra, Piau, Lambaris, Curimatás, Matrinchãs, dentre outros. Trata-se de uma riqueza enorme, tanto para a biodiversidade e vida do rio, quanto para a economia das comunidades locais que, historicamente, sobrevivem da pesca.
Por isso, a cada ano, a ação de resgate de peixes vem ganhando novos parceiros e entrando para o calendário de ações ambientais de Xique-Xique que objetiva minimizar a mortalidade de peixes nas lagoas marginais e servir de base para novas atividades de acompanhamento e resgate de peixes e espécies da ictiofauna (nome dado ao o conjunto de peixes de um ambiente).
Para o secretário de Meio Ambiente do município, Roberto Rivelino, tal trabalho é muito importante, uma vez que compensa a degradação ambiental que historicamente o rio vem sofrendo. “Aquilo que antes a gente não precisava devolver para o rio, é necessário hoje, porque há um déficit muito grande de peixes no Rio São Francisco”, explica o secretário.
Veja as fotos da atividade:
Extensão do trabalho
Pode parecer um trabalho pontual, mas a ação de resgate de peixes traz resultados relevantes para a proteção e preservação de parte importante da biodiversidade do Velho Chico. Para se ter ideia do impacto da ação, numa pequena lâmina d’água, com 20 metros de perímetro e apenas 50 centímetros de profundidade, a equipe de salvamento resgatou 23 mil peixes, que morreriam em três dias por falta de água.
Em lagoas que se tornaram somente pequenos lamaçais e servem à criação de porcos, outros milhares de peixes foram resgatados antes de morrer. “É uma ação extraordinária, que faz a gente pensar a quantidade de peixes que ainda se perde nas lagoas marginais em igual situação”, afirmou Ednaldo Campos, coordenador da Câmara Consultiva Regional (CCR) Médio São Francisco, do CBHSF.
Assim, o resgate dos peixes que ficam aprisionados ao longo do trecho seco do complexo lagunar, mesmo feito com uma equipe reduzida, tem considerável capacidade de compensação da perda da ictiofauna, servindo como exemplo para que ações mais extensas sejam pensadas para os momentos mais críticos de mortalidade dos peixes.
Parceria com o Ibama
Com um conjunto de intervenções no complexo lagunar do Médio São Francisco, o Ibama tem se tornado importante parceiro do CBHSF em ações de defesa do Rio São Francisco. Sempre com importantes contribuições da comunidade e da Prefeitura municipal, o Instituto tem demonstrado especial preocupação com a questão da educação ambiental como providência urgente para que se salvem as lagoas e o próprio rio.
Em outras palavras, para além da ação fiscalizadora, o Instituto tem se esforçado em construir um diálogo mais amplo na região, para que os períodos secos tenham menos impacto ambiental e social na região. De acordo com o Analista Ambiental do Ibama, Daniel Dantas, coordenador da ação de salvamento, o Ibama tem reforçado essas parcerias para construção de ações realmente estruturantes na região. “O Ibama se preocupa com esse cenário mais amplo. A gente realiza o salvamento de peixes, que é um trabalho pontual, mas sabemos que temos outras áreas bastante degradadas. Mas, com parcerias e com o diagnóstico preparado pelo CBHSF, vamos atuar para enfrentar o problema”, enfatizou Dantas.
Segundo Ednaldo Campos, esse tipo de parceria também é prioridade para o CBHSF. “Nós estamos empenhados em apoiar ações que visem a proteção e recuperação do Rio. Esse é o nosso papel e estamos atentos às demandas e sempre à postos para ajudar no trabalho do Ibama, dos poderes públicos locais, Ministério Público e demais Instituições envolvidas”, explicou Campos.
Desafio
Além de resgatar peixes do complexo lagunar, a ação realizada em Xique-Xique teve como importante pano de fundo um trabalho mais aprofundado de informação e conscientização ambiental. Tal aspecto tem tido cada vez mais espaço nas agendas de defesa do Rio, pois são consideradas fundamentais para que eventos como o da Lagoa de Itaparica (maior lagoa marginal do Rio São Francisco, que se encontra totalmente seca há três anos) sejam revertidos e não mais ocorram em outros berçários que enriquecem o Rio.
Para tanto, tais objetivos se tornam precursores para o envolvimento das comunidades e colônia de pescadores nas ações. Com cada vez mais informações e dados qualificados, espera-se que pescadores e moradores ribeirinhos compreendam melhor a extensão do desfio e se envolvam nas ações de revitalização não só da Lagoa, mas de todo o Rio São Francisco.
Nesse processo, o CBHSF deu um importante passo ao produzir e entregar o diagnóstico da situação ambiental e social da Lagoa de Itaparica. O documento, pioneiro na luta em defesa do rio na região, propõe um conjunto de 26 ações de resgate, defesa e preservação da Lagoa de Itaparica, que, além de serem um norte para a preservação da lagoa, será crucial para as futuras ações de fiscalização e monitoramento conduzidos em parceria com a população.
Assessoria de Comunicação CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Henrique Oliveira
*Fotos: Henrique Oliveira