Minas Gerais, que tem 54% de seu território formado pelo Cerrado, é uma região produtora de água para a bacia do Rio São Francisco e vem enfrentando picos de queimadas regulares. Com o longo período de estiagem e a vegetação suscetível à propagação das chamas, importantes Áreas de Preservação Permanente (APP) mineiras sofreram com o fogo em 2020.
A Serra do Cipó é uma delas. Um incêndio já dura uma semana e não tem previsão de fim no local. A estimativa de brigadistas que atuam na região é de que mais de 1.800 hectares de vegetação já foram queimados. A Serra do Cipó fica localizada a 100 km de BH, é banhada pelo rio que lhe dá o nome e está inserida na Serra do Espinhaço. O Rio Cipó é um importante contribuinte de águas de qualidade para a bacia do Rio das Velhas, um doa afluentes mais importantes do Rio São Francisco, visto que se enquadra na Classe Especial.
Os bombeiros também trabalham no combate às chamas no Parque Estadual do Itacolomi, em Ouro Preto, na região Central de Minas que teve início na última sexta-feira (02 de outubro). Atualmente, 61 pessoas estão atuando no controle do incêndio, incluindo militares, brigadistas, funcionários do parque e voluntários.
O Parque Nacional da Serra da Canastra (MG), local onde se encontra a nascente do Rio São Francisco, também ardeu em chamas este ano. O incêndio ocorreu no mês de agosto, teve cinco dias de duração e de acordo com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) chegou a consumir mais de 21 mil hectares do parque, que tem 71.525 hectares demarcados.
Em 2020, a Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) foi umas das mais prejudicadas em Minas Gerais, com mais de 670 focos de incêndio. Áreas como o Parque Estadual da Serra do Rola Moça, Parque Monumento Natural da Serra da Moeda e Parque Nacional da Serra do Gandarela, áreas produtoras de água para a bacia do Rio das Velhas, sofreram incêndios este ano.
Os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) mostram que a parcial de focos ativos de queimadas em Minas Gerais entre janeiro e setembro de 2020 já é próxima do total de 2018 – 4.439 deste ano e 4.627 de dois anos atrás.
Causas
De acordo com o tenente Leonan Soares Pereira, do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, as queimadas tendem a ser piores entre agosto e outubro, por ser a época que a vegetação está seca. O militar esclareceu que o principal motivo de incêndio em vegetação são as ações humanas, sejam elas culposas ou dolosas. “Pessoas vão acampar e fazem fogueiras e não apagam direito, agricultores fazem limpeza de pasto de forma equivocada. Outros, mais inconsequentes, queimam lixo. E até fogos de artificio podem provocar a queimada”, destacou.
A Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda) possui brigadas profissionais de combate a incêndios florestais e realizou um levantamento referente ao ano de 2019 sobre as causas dos incêndios nas áreas sob sua atuação. De acordo com o relatório de atividades Brigada Amda/Sindiextra, o vandalismo representa a maioria absoluta dos casos registrados, exigindo ações de educação para a prevenção de incêndios. As atividades que envolvem educação da população para redução do número de ocorrências de incêndios florestais na região continuam sendo necessárias”, diz o estudo.
Incêndios continuam na Amazônia e Pantanal
A Amazônia e o Pantanal também sofrem com as queimadas. O número de focos de incêndio na Amazônia brasileira registrou um aumento de 61% em setembro, na comparação com o mesmo período do ano passado, e triplicou na região do Pantanal.
Na floresta amazônica, os satélites do INPE detectaram 32.017 focos de incêndio no mês passado, contra 19.925 em setembro de 2019. Nos primeiros nove meses do ano, houve 76.030 focos, um aumento de 14% em relação aos 66.749 do mesmo intervalo do ano passado.
O Pantanal também está sendo arrasado pelas chamas. No mês passado, o INPE detectou 8.106 focos de incêndio, um recorde mensal desde o início dessas observações em 1998, com um aumento de 180% em relação a setembro de 2019. Nos primeiros nove meses do ano, os incêndios do Pantanal mato-grossense totalizam 18.259. Já superaram o recorde de um ano inteiro, que remontava a 2005, quando foram registrados 12.536 focos.
Em 2020, as chamas devoraram 23% da parte brasileira desse bioma, que se estende ao Paraguai e à Bolívia, segundo dados do Laboratório de Aplicações de Satélite Ambiental da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Lasa-UFRJ). Neste santuário da biodiversidade, muitas paisagens foram reduzidas a cinzas e carcaças carbonizadas de jacarés e outros animais.
Assessoria de Comunicação CBHSF:
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*Texto: Luiza Baggio
*Foto destaque: imagem ilustrativa/Pixabay