O verão chegou e o roteiro é o mesmo há décadas. Temporais provocam alagamentos que paralisam as cidades. As chuvas que atingiram o sul da Bahia em dezembro e deixaram um cenário de destruição, agora afetam também o estado de Minas Gerais. Rios transbordando por cima das pontes, cidades alagadas até o telhado de suas casas, carros flutuando pelas ruas e o rompimento de duas barragens de armazenamento de água deixaram milhares de famílias desabrigadas. O número de mortos pelas enchentes na Bahia já soma 25 pessoas e em Minas seis perderam a vida em decorrência das chuvas.
De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), as fortes chuvas foram causadas pela Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), formada por uma faixa de nuvens que se estende do Sul da Amazônia até a área do Atlântico Sul. A ZCAS é muito comum durante o verão e, normalmente, dura de três a quatro dias.
Sempre que ocorrem tempestades como as da Bahia e de Minas Gerais, a força da natureza tem um lugar cativo no repertório de justificativas para os alagamentos. No entanto, não dá para culpar São Pedro por essas tragédias. O vice-presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Marcus Vinícius Polignano, esclarece que eventos extremos como as fortes chuvas do verão existem a milhares de anos e vão continuar a ocorrer. “Não temos como culpar as águas pelas tragédias. As chuvas, assim como a estiagem, são eventos climáticos que fazem parte do ciclo da água na natureza. Continuarão a existir e não temos como ter um controle sobre eles. Também é importante destacar que as chuvas, assim como as estiagens, tendem a ser cada vez mais intensas e frequentes devido às mudanças climáticas”, disse.
Embora seja impossível evitar os fenômenos climáticos, o impacto deles poderia ser bem menor e vidas seriam salvas se o Brasil lidasse com esses eventos de forma mais eficiente. “Atualmente, temos informações meteorológicas e hidrológicas cada vez mais precisas, o que nos permite prever esses eventos. O fato de as chuvas não terem um controle efetivo humano, não significa que elas sejam imprevisíveis. O que está faltando é gestão”, esclareceu o vice-presidente do CBHSF.
Para Marcus Vinícius Polignano faltam ações preventivas por parte do poder público. “Realizar uma gestão eficiente das águas e criar políticas públicas de prevenção e controle dessas questões relacionadas aos fenômenos climáticos é de suma importância para que a população tenha mais segurança e não seja pega de surpresa. Mas, o que ocorre na prática é uma falta de vontade política e econômica para questões vitais, como a água”, finalizou.
Ações necessárias
A maioria das cidades entremeadas por rios se desenvolveram sem planejamento nos arredores dos leitos, promovendo o desmatamento das matas ciliares, não permitindo a infiltração adequada das águas das chuvas no solo. Mesmo com as cidades já erguidas é preciso traçar metas que mitiguem os danos causados pelas chuvas, como por exemplo, fazer melhor uso e ocupação do solo, reduzindo a compactação e impermeabilização, retirar populações de áreas alagáveis, locais que devem ser desocupados e instalar sirenes nas áreas de risco para que a população seja alertada quando em perigo.
O secretário do CBHSF, Almacks Luiz Silva, é morador da Bahia e reforça que as chuvas são eventos climáticos que não podem ser evitados e que afetam principalmente as comunidades carentes. “O caos gerado pelas chuvas não é culpa apenas do índice pluviométrico. Com as mudanças climáticas aumentando a intensidade e a frequência dos eventos extremos, os grupos sociais mais atingidos acabam sendo aqueles em situação de maior vulnerabilidade, pois são eles que ocupam as áreas de risco”, informou.
Almacks Luiz Silva relembra que o Comitê há três anos vem fazendo um alerta sobre o perigo das cheias na bacia. “Realizamos seminários ao longo do Rio São Francisco sobre as possíveis cheias e a importância de desocupar as áreas alagáveis. Além disso, o Plano Diretor da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco e os Planos Municipais de Saneamento Básico, estudos financiados pelo CBHSF, apontam as áreas de risco e deveriam ser utilizados pelos governos para evitar tragédias como as que estão acontecendo agora”, comentou.
Assessoria de Comunicação CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Luiza Baggio
*Foto: Michelle Parron