Durante seminário, que aconteceu em Pernambuco, nos dias 26 e 27, pesquisadora apresentou trabalho que aponta os efeitos nocivos da medida de contenção de água dos reservatórios alimentados pelo Velho Chico
Texto: Raquel Freitas
Se por um lado, a redução das vazões dos reservatórios alimentados pelo rio São Francisco ajuda a preservar a pouca água que resta na bacia, por outro, coloca em risco a qualidade do recurso entregue à comunidade ribeirinha. Pelo menos foi o que constatou a tese de doutorado de Karina Rossiter, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Fruto do Projeto Innovate, que promove pesquisa interdisciplinar envolvendo instituições acadêmicas do Brasil e da Alemanha, o estudo identificou a perda de limpidez, aumento de matéria orgânica e redução do nível de oxigênio como alguns dos efeitos nocivos ao Velho Chico desde que o reservatório de Sobradinho passou pela primeira redução, em 2013. O trabalho foi apresentado no Seminário Integrador Uso Sustentável da Água e do Solo no Semiárido realizado nos dias 26 e 27 de junho em Recife (PE).
Karina Rossiter no painel sobre Agricultura, Piscicultura, Qualidade de água, Sedimento e Geoprocessamento
Para chegar a essa equação, Karina se baseou em dados disponibilizados pelo Ministério da Integração Nacional. No recorte, entre os anos 2011 e 2012; e 2013 e 2014 (antes e durante a estiagem severa que atingiu o nordeste do país), parte da água foi coletada em trechos de Sobradinho e Itaparica, ambos na Bahia, e analisada pelos técnicos da pasta federal. “Antes da crise hídrica, quando as vazões operavam em 1,3 metros cúbicos por segundo (m³/s), a água tinha mais propriedade. Depois disso, e com seis mudanças de vazões, percebemos que a água do rio não é mais a mesma”, lamentou. Recentemente, a Agência Nacional de Águas (ANA) autorizou mais uma queda na vazão. Dessa vez, de 700 m³/s para 600 m³/s.
Outro agravante, na análise da doutoranda, é que a falta de saneamento básico nos municípios ribeirinhos e nas grandes cidades do entorno piora a situação da bacia hidrográfica na medida em que cargas de poluição são lançadas nos cursos d’água. “Por isso, sugiro que a qualidade dessa água seja monitorada, inclusive, por meio de um acompanhamento biológico”, sugeriu.
Durante o seminário integrador ‘Uso sustentável da água e do solo no semiárido’, realizado em Pernambuco, entre os dias 26 e 27 de junho, o vice-presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Maciel Oliveira, ressaltou a importância da contribuição acadêmica em prol do São Francisco e destacou o material da pesquisadora. “Sabemos que a redução é necessária para preservar o pouco insumo que dispomos. Precisamos, no entanto, olhar para os efeitos diversos e discuti-los. Esse material serve, inclusive, para contra argumentarmos em casos de possíveis novas reduções”, justificou.
Questionado sobre qual seria a solução para os reservatórios, já que inúmeras saídas estariam se esgotando, o vice-presidente disse acreditar na diversificação da matriz energética como uma das alternativas de preservação do recurso hídrico. “A partir do momento em que as energias solar e eólica são bem exploradas, não haverá tanta demanda para a hidrelétrica e a aquela água, usada para geração de eletricidade, será poupada”, detalhou.
Além do representante do CBHSF, Maciel Oliveira, e Karina Rossiter, participaram do painel sobre agricultura, piscicultura, qualidade de água, sedimento e geoprocessamento Ana Lúcia Candeias, professora da UFPE; Gérsica Nogueira e Guilherme Araújo, doutorandos na mesma Universidade. O diretor-técnico da Agência Peixe Vivo, Alberto Simon, também esteva presente no evento.