Uma vasta programação de atividades – que inclui alvorada, romaria, apresentações artístico-culturais, letreiros e totens educativos – marca a campanha ‘Eu Viro Carranca para Defender o Velho Chico’ que acontece entre ontem (16) e hoje (17), em Januária. Mas a ação vai além: tem proporcionado uma contrapartida social à região ao gerar renda a produtores locais com uma feira que integra a programação oficial.
“A nossa campanha tem como grande objetivo valorizar o rio, as populações ribeirinhas, bem como os demais moradores da bacia do São Francisco. Esse evento foi trazido para a Januária justamente com esse intento de valorizar o artesanato, a música, as danças e comidas típicas locais, que sabemos que estão morrendo”, disse Sirléia Drumond, conselheira do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) e organizadora da campanha em Januária. Ela destacou ainda que a escolha dos expoentes priorizou produtores que tem dificuldade na comercialização e escoamento.
Em uma das barracas da feira estavam os produtos feitos na Casa da Memória do Vale do São Francisco, com sede em Januária. A associação, conduzida exclusivamente a partir de trabalhos voluntários, promove cursos de pintura, costura, informática, música, culinária regional e teatro que valorizam a cultura ribeirinha. “O São Francisco aqui é a nossa vida. Tudo gira em torno do rio: alimentação, folclore, os exemplos que a gente tem, a cultura. O problema é que nós fizemos tanta coisa errada com o rio que ele está se afastando da gente, está cada vez mais longe”, afirmou Maura Moreira Silva, coordenadora da associação.
O grupo de mulheres ‘Sabores do Agreste’ também expôs as geleias, doces, polpas e sorvetes que produz na zona rural da cidade – com vendas que superaram as expectativas. Segundo Ana Angélica Andrade, produtora rural que representou o coletivo na feira, a campanha ‘Eu Viro Carranca para Defender o Velho Chico’ foi fundamental em difundir informações relacionadas à preservação da bacia. “A importância é muito valiosa por causa sobretudo desse medo da falta d’água que hoje vivemos. Na nossa comunidade, por exemplo, o abastecimento se dá por poço artesiano e um deles já secou”, contou.
As professoras aposentadas Maria Emília Campos e Elisabeth Santos são amigas e sócias de um negócio que produz e comercializa doces – em geral pé de moleque, balas e doce de leite. Também afirmando que as vendas foram extremamente positivas, elas acreditam que a preservação da bacia é de fundamental importância para o desenvolvimento econômico da região. “Pra gente [o rio] significa vida. Para a nossa produção, se não tiver rio não tem nada”, disse Campos.
Os produtos religiosos feitos pelo artesão Neolmar de Matos também foram expostos na feira. São as águas do São Francisco a grande inspiração para o trabalho. “Um evento desse tipo deveria acontecer uma vez por semana, é algo muito importante. Eu sou pescador, tenho barco e há três que eu não vou à água. Não tem mais peixe no rio, infelizmente”, contou.
Veja as fotos da feira dos produtores locais de Januária, durante a campanha:
Texto: Luiz Guilherme Ribeiro